Crítica - The Lovely Bones (2009)


Realizado por Peter Jackson
Com Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Stanley Tucci, Susan Sarandon

Muito se tem dito e escrito sobre a mais recente obra cinematográfica de Peter Jackson, genial criador da colossal trilogia “The Lord of the Rings” e da criativamente interessante nova versão de “King Kong”. A ideia generalizada que se tem imposto é a de que “The Lovely Bones” é um autêntico fracasso; um filme medíocre e inaceitável para o currículo de tão aclamado e prestigiado realizador. Nesta crítica, tentarei colocar um pouco de água na fervura.


Decerto, ninguém esperaria que “The Lovely Bones” pudesse suplantar a imensa qualidade da trilogia épica de Frodo e do anel Um. “The Lord of the Rings” é a grande obra-prima do realizador neo-zelandês. Uma obra-prima que, tão cedo, não conseguirá ser ultrapassada. Tendo isto em conta, já se saberia de antemão que “The Lovely Bones” dificilmente escalaria os píncaros da mesma montanha gloriosa que a trilogia épica escalou. Verdade seja dita, esta última obra de Jackson é, acima de tudo, um curioso e original ensaio sobre a vida após a morte. Um filme que, apesar de estar uns furos abaixo das expectativas e daquilo a que Jackson já nos habituou, não deixa de ser interessante, competente e (a espaços) dotado de uma complexidade emocional relevante.
A narrativa lenta e propositadamente ponderada conta-nos a trágica e cruel história de Susie Salmon (Ronan), uma jovem rapariga igual a tantas outras que, num fim de tarde depois das aulas, é ludibriada e assassinada por um perverso e perturbador molestador sexual chamado George Harvey (Tucci). Após a sua morte, o espírito confuso e perplexo de Susie é transportado para um encantador reino paralelo entre o Céu e a Terra. Nesta bela, curiosa, mas também sinistra espécie de Purgatório, Susie é convidada a esquecer os acontecimentos passados da sua vida terrena, de forma a dar entrada no divino e eterno Paraíso. Contudo, enquanto a identidade do seu assassino não for desvendada e enquanto justiça não for feita, Susie recusa-se a abandonar aquele local onde, de forma fantasmagórica, consegue visionar o autêntico e devastador calvário por que a sua família é obrigada a passar. E de uma forma discreta e indirecta, Susie vai ajudar a sua família a identificar George Harvey como principal suspeito do seu assassinato, provocando uma espiral de acontecimentos fatídicos e difíceis de controlar…


Adaptado do aclamado romance homónimo de Alice Sebold, “The Lovely Bones” decorre numa espécie de estrutura narrativa partida em dois espaços: o espaço celestial donde Susie observa os acontecimentos terrenos e o espaço terrestre onde a sua família tenta reorganizar-se e sobreviver à cruel e impensável tragédia. Isto faz com que, por vezes, a narrativa se torne cansativa, aborrecida e extenuante. O bizarro reino para onde Susie é transportada oferece-nos alguns momentos de beleza e criatividade abissais. É nestas sequências que a paixão de Jackson pelo fantástico sobressai. Porém, o que se afirma como um dos pontos fortes da película acaba por se afirmar também como um dos seus pontos fracos. As sequências deste mundo celestial são visualmente arrebatadoras, mas acabam por “matar” um pouco a narrativa. Entre cenas delirantes de um mundo excêntrico e bizarro, e cenas puramente dramáticas de uma família à beira de um esgotamento emocional, o que desabrocha é um filme desequilibrado e sem poder para captar a atenção do espectador e envolvê-lo no drama da narrativa.
Percebe-se que a história original tinha potencial para muito mais. Nunca li o romance de Alice Sebold, portanto não posso afirmar se a falha se encontra na matéria-prima ou na adaptação dos argumentistas. O que é certo é que “The Lovely Bones”, apesar de interessante e visualmente apelativo, acaba por falhar redondamente. Falta-lhe qualquer coisa. Falta-lhe um qualquer toque de génio que o afaste da mediocridade e o eleve a um patamar de excelência superior. Assim sendo, “The Lovely Bones” não é o filme horrível que muitos apregoam… mas também não consegue ser a obra brilhante que muitos mais desejavam ver no grande ecrã.


O grande destaque do filme (e que destaque!) acaba por ser Stanley Tucci. No papel de um abusador sexual tímido, complexado, reservado e incrivelmente perverso, Tucci apresenta-nos o maior desempenho da sua carreira. A forma como interpreta esta nefasta personagem deixa qualquer um de boca aberta e acredito sinceramente que, não fosse a excepcional performance de Christoph Waltz em “Inglourious Basterds”, Tucci seria certamente o grande favorito a vencer o Oscar de Melhor Actor Secundário, atribuindo a este filme uma espécie de prémio de honra ou de consolação (já que, antes de estrear, “The Lovely Bones” chegou a ser apontado como um dos grandes favoritos da temporada de prémios).
Infelizmente para os detractores do brilhante Peter Jackson, devo dizer que o realizador neo-zelandês continua bem vivo e acordado. “The Lovely Bones” pode não passar de um filme razoável e levemente interessante, mas ainda assim, consegue ser uma obra actualmente pertinente e apresentar-nos alguns rasgos de génio merecedores de uma ida ao cinema mais próximo.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

Enviar um comentário

13 Comentários

  1. Estou muito de acordo com a tua crítica e a tua percepção do filme. É verdade que o filme é um pouco esquizofrénico, perde-se um pouco entre tentar retratar, em simultâneo, um Paraíso pleno de maravilhas e alegria e a dor extrema da família Salmon. Mesmo apesar de nos momentos em que Susie se estende em direcção ao mundo terreno o paraíso se conotar de tons escuros e de eventos violentos. Mas a mim deixou-me dois impactos muito fortes: o visual, claro está, soberbo, mas também o emotivo, a tragédia da família é palpável. Portanto retiro exactamente a tua conclusão :)

    ResponderEliminar
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado Tiaguh 21.

    Equipa Portal Cinema

    ResponderEliminar
  4. ola:)
    fui ver o filme ontem e ...que desilusao!!!! o livro mercecia uma adpataçao bem melhor, o peter jackson perdeu-se...
    ******s

    ResponderEliminar
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  6. Olá a todos! Eu não queria argumentar muito sobre o filme porque não creio ter profissionalidade suficiente para isso e porque, na minha opinião, este filme não tem palavras que o possam descrever e, para ser sincera, não consigo compreender como alguém consegue dizer mal deste filme mas, como referi, não tenho profissionalidade para argumentar sobre este! Posso dizer-vos que chorei muito ao ver este filme (o que não é habitual) e aconcelho-o a todos os que possam estar indecisos! Obrigada e Beijos MissASAA!!!

    ResponderEliminar
  7. Não percebo como podem tecer críticas tão más em relação a este filme como vi no IMDB, dar menos de 5 a este filme, numa escala de 0 a 10, é simplesmente ridículo.
    Eu nunca li o romance, nem sabia qual era o tema do filme, apenas vi o trailer, gostei, e fui ver. Mas que maravilhosa surpresa, um filme de muita qualidade, boa narrativa apesar de um pouco lenta, bons actores, um filme emocionalmente complexo e visualmente deslumbrante.

    ResponderEliminar
  8. O filme realmente é um pouco lento, mas maravilhoso! Chorei muito, e como nunca, Peter Jackson está de parabens.

    ResponderEliminar
  9. Sou formada em Cinema, e posso dizer q este filme sai de qualquer padrão que há! Claro q há cenas q precisem de alguma modificação, mas eu percebi algo com este longa: existem filmes q precisam ser vistos com a alma e não com uma visão analítica. Abraços!

    ResponderEliminar
  10. Eu tinha grandes expectativas em relação a este filme e, depois de o ver, tenho a dizer que as minhas expectativas foram superadas. Se este filme tem más críticas e o "Estado de Guerra" ganha o Óscar de Melhor Filme, então, o mundo do cinema anda um bocado confuso.
    Concordo plenamente com o comentário anterior: "existem filmes q precisam ser vistos com a alma e não com uma visão analítica".

    ResponderEliminar
  11. O filme é muito bom. Dá-me a impressão de que a autora do livro conhece profundamente a obra de Allan Kardec.
    Vale a pena ver e rever.
    Sergio de Sersank
    http://sersank.blogspot.com

    ResponderEliminar
  12. chorei no filme,deve sim ser visto com a alma...

    ResponderEliminar
  13. Achei esse filme ótimo, interessante e visualmente lindo. Claro que poderia ter sido melhor, mas as criticas estão exageradas, eu daria no minimo nota 7,5 para o filme!!

    ResponderEliminar

//]]>