Crítica - The Ghost Writer (2010)


Realizado por Roman Polanski
Com Ewan McGregor, Jon Bernthal, Kim Cattrall, Pierce Brosnan, Olivia Williams

O mais recente trabalho cinematográfico de Roman Polanski, “The Ghost Writer”, não é tão cativante ou tão interessante como o seu maior sucesso cinematográfico, “The Pianist” (2002), muito provavelmente, uma das melhores longas-metragens dos últimos anos, no entanto, “The Ghost Writer” não é um trabalho medíocre ou comum, muito pelo contrário, é um thriller intenso e extremamente incisivo. O filme é uma adaptação cinematográfica de “Ghost”, um romance literário da autoria de Robert Harris e é protagonizado por Ewan McGregor, um conhecido actor escocês que interpreta um talentoso Ghost Writer (Escritor Fantasma) que é contratado para escrever as memórias de um antigo primeiro-ministro britânico, Adam Lang (Pierce Brosnan), memórias essas que estavam a ser escritas por outro escritor fantasma que morreu subitamente sob misteriosas circunstâncias. O novo escritor é então “convidado” a visitar Adam Land na sua isolada residência com o intuito de concluir a sua autobiografia, no entanto, mal chega à residência, um escândalo rebenta sobre o suposto envolvimento do antigo ministro e da sua administração em crimes contra a humanidade, crimes esses que foram praticados com a conivência dos serviços secretos norte-americanos. À luz destes novos acontecimentos, este “fantasma” chega rapidamente à conclusão que este seu novo trabalho irá colocar a sua carreira e a sua vida em risco.


A história deste “The Ghost Writer” é muito cativante mas é muito extensa, assim sendo, somos casualmente confrontados com momentos narrativos mais enfadonhos e menos elucidativos, no entanto, esses momentos não são uma constante. O seu início é lento e não é muito atractivo mas é muito competente, no entanto, “The Ghost Writer” só começa a ser verdadeiramente interessante e emocionante quando o Ghost Writer se instala na enorme residência de Adam Lang, uma mansão isolada onde somos expostos a um clima sombrio muito tenso e visivelmente claustrofóbico, um clima onde os mistérios e os conluios, uns inventados outros verdadeiros, são abundantes e constantes. O trabalho literário deste Ghost Writer é então subitamente transformado, à luz destes misteriosos acontecimentos, numa enorme investigação aos comportamentos e às actividades de Adam Lang e dos seus assistentes e familiares, investigação essa que é muito acidentada e muito arriscada, e onde os sobressaltos e as reviravoltas são constantes. O Ghost Writer obedece a uma construção narrativa muito inteligente, no entanto, Adam Lang é a personagem principal mais interessante. As semelhanças entre Adam Lang e Tony Blair são imensas e até o escândalo internacional que é descrito nesta narrativa é muito semelhante àquele que afectou o antigo Primeiro-Ministro do Reino Unido, no entanto, a história verídica de Tony Blair teve um desfecho muito menos sinistro. A conclusão desta longa-metragem é a mais correcta atendendo às várias circunstâncias, no entanto, uma solução menos fatídica também seria credível. A conclusão também nos oferece vários momentos secundários muito interessantes, como por exemplo, as surpreendentes revelações sobre as verdadeiras intenções de Ruth Lang (Esposa de Adam Lang) e a simbólica e metafórica última cena.


O trabalho de Roman Polanski é muito bom, este cineasta continua criativamente impecável aos setenta e seis anos e nem os seus inúmeros problemas pessoais o conseguem destabilizar. Polanski conseguiu criar um clima excelente onde os sentimentos de incerteza e de insegurança são criados instantaneamente e onde o suspense está sempre presente. A mestria cinematográfica de Roman Polanski é habilmente misturada com as magníficas e relevantes sonoridades da autoria de Alexandre Desplat. O trabalho fotográfico de Paweł Edelman também é muito bom, as várias paisagens cinzentas e os cenários elitistas mas tensos oferecem a este “The Ghost Writer” uma dimensão extraordinária. O seu elenco também nos oferece uma performance muito boa. Ewan McGregor e Pierce Brosnan estão excelentes como o Ghost Writer e Adam Lang. O elenco secundário é liderado por duas conhecidas actrizes, Kim Cattrall Olivia Williams, uma interpreta uma rigorosa assistente/amante e a outra interpreta uma esposa distante e misteriosa. Em suma, “The Ghost Writer” é um thriller extasiante e muito acessível sobre embustes e escândalos. Roman Polanski volta a nos oferecer um excelente trabalho cinematográfico que não deverá desapontar os verdadeiros apreciadores de thrillers políticos/criminais.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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5 Comentários

  1. Ta ai um filme que a cada dia aumenta mais minhas expectativas e quem sabe mais uma consagração de Roman Polanski.

    abraçoo, blog realmente muito bom

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  2. somente um pouco do meio e a cena final sao realmente interessantes. Acho que funcionaria melhor como um curta.

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  3. Aqui está um bom drama/policial para livro mas que perde consistência na tela da sétima arte. História interessante e envolvente mas pouco encadeado. Certas personagens e até mesmo cenas das quais nunca se chega a perceber qual a sua influência e papel na história... Concordo com a opinião, até agora unânime, de que apenas certas cenas do filme nos prendem ao ecrã. De qualquer forma, brilhante prestação dos actores e surpreendente trabalho fotográfico! VALE A PENA...

    Parabéns pelo Blog

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  4. Thriller interessante, com uma boa história. Exploraram muito bem o lado politico com muitas parecenças com o governo inglês de Tony Blair. Houve alguns desfechos inesperados das diversas mortes das personagens em destaque. Houve de facto alguns momentos em que se tornou monótono e creio que mais acção prenderia mais o espectador por isso não irá agradar a todos. O elenco é de nível com interpretações bastantes boas. Quanto ao cenário também está muito bem construído. Nota 3,5

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  5. Ridículo, como estão as mentes humanas.
    Não perceberam nada do filme. Não entendem que a CIA arregimenta pessoas influentes na sua juventude, e depois as promove mecânicamente no poder, de forma a controlar as decisões de qq político que esteja inserido no status do poder global?! O que o Polanski nos quer alertar é que as coisas estão montadas em cadeia, e que este filme nos mostra a continuidade de outro, "o Bom Pastor"; Polanski claramente denuncia a teia do poder à escala global, e a forma como as coisas estão a ser controladas, tal como os Bilderberg. No fundo, isto mais não é do que a denúncia de Blairs e quejandos que são apenas marionetes de outros, os que comandam as mentes e os anseios das massas, através dos medias, neste caso através de mecanismos da criação de mitos políticos, quase sempre, nos últimos anos, "acreditados" para serem "travões" aos desejos e anseios das pessoas.

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