Crítica - Another Year (2010)


Realizado por Mike Leigh
Com Jim Broadbent, Lesley Manville, Ruth Sheen, Peter Wight

A ilustre carreira de Mike Leigh ainda não foi coroada com um Óscar da Academia, um prémio que lhe está claramente em divida porque são várias as obras de valor que este cineasta nos ofereceu nos últimos anos, sendo “Secrets & Lies” (1996) e "Vera Drake" (2004) os seus filmes mais conhecidos e aclamados. O seu novo trabalho, “Another Year”, também é um excelente filme mas a Academia só o nomeou ao Óscar de Melhor Argumento Original, um reconhecimento demasiado pequeno para um filme com este calibre que merecia claramente ter sido nomeado ao Óscar de Melhor Filme. “Another Year” conta-nos a história de Tom (Jim Broadbent) e Gerri (Ruth Sheen), um casal de meia-idade com um casamento extremamente sólido e feliz que durante um ano recebe várias visitas de familiares e velhos conhecidos em sua casa, pessoas com problemas pessoais muito diversos que procuram os seus sábios conselhos.


A história de “Another Year” foi habilmente dividida por Mike Leigh em quatro pequenas histórias individuais que se vão misturando com a história colectiva do casal à medida que eles completam mais um ano de matrimónio, um ano emocionalmente atribulado que serve para cimentar ainda mais o seu casamento e o seu amor. O seu ano é então marcado por uma série de encontros sócio-familiares causais que se iniciam na Primavera que fica marcada pela visita de Mary (Lesley Manville), uma velha conhecida do casal que está a passar por uma crise de meia-idade que se iniciou quando o seu marido a abandonou e que desde então tem vindo a piorar. O seu Verão é marcado pela vista de Ken (Peter Wight), outro velho conhecido do casal, que está a travar uma luta contra o alcoolismo e que procura sem sucesso um novo amor. O seu filho Joe (Oliver Maltman), um homem confuso e nada atractivo, também volta a casa para apresentar a sua nova namorada à família e Ronnie (David Bradley), irmão de Tom, também aparecesse por casa de Tom e Gerri para tentar superar a morte recente da sua mulher que o deixou muito em baixo. As histórias individuais destes quatro indivíduos e a história matrimonial de Tom e Gerri são analisadas através dos vários convívios que Tom e Gerri vão tendo durante o filme, convívios esses que podem parecer triviais mas que se assumem como o melhor elemento de “Another Year”, porque é durante estes convívios comuns que se dão as melhores conversas, assim sendo, é durante festas casuais ou eventos familiares que somos brindados com os momentos mais emotivos e interessantes do filme, mas é também com eles que ficamos a conhecer melhor as várias pessoas que procuram melhorar a sua vida com os conselhos deste afável casal. É também durante estes momentos sociais que vemos como o excelente trabalho do seu luxuoso e talentoso elenco contribuiu para transformar esta obra num filme realista e comovente.


A felicidade de Tom e Gerri contrasta claramente com a infelicidade dos seus visitantes, no entanto, este casal utiliza o seu intoxicante ambiente de felicidade e harmonia para confortar e reabilitar todos aqueles que vêm à procura de um novo ânimo para a sua vida e é só isso que Tom e Gerri fazem, dão conselhos e conforto emocional às suas visitas que, em última análise, são os principais intervenientes deste filme até porque é sobre os seus problemas pessoais que o filme se centra. A história de Mary é aquela que mais salta à vista em “Another Year”, muito embora Ronnie tenha a história mais triste e dramática, no entanto, todas elas abordam um tema cativante e emocional como o isolamento ou o envelhecimento, temas fortes e actuais que permitem a Mike Leigh fazer um interessante retrato sócio-emocional da sociedade ocidental actual, um retrato que nos é exposto através do crescente contraste entre a fortuna emocional de Tom e Gerri e os vários infortúnios dos seus conhecidos e familiares. Em suma, Mike Leigh conta-nos uma história muitíssimo interessante que analisa a sociedade e os seus problemas mais comuns, mas que também reflecte sobre os vários momentos da vida humana desde o nascimento até à morte, passando obviamente por momentos relevantes como a procura pelo amor e a dura batalha para manter esse amor vivo. “Another Year” é, no fundo, mais um filme ao estilo de Mike Leigh, um cineasta que aborda maravilhosamente a banalidade.

Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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2 Comentários

  1. É um dos melhores filmes estreados por cá este ano. E também não sei como é que só teve direito a uma nomeação para os Óscares.

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  2. Achei o filme péssimo. Muito devagar, a história se passa lentamente, não saindo do mesmo assunto o tempo todo. Perda de tempo.

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