Realizado por Béla Tarr e Ágnes Hranitzky
Com János Derzsi, Erika Bók
Género – Drama
Sinopse – Em Turim, em 1889, Nietzsche protege um cavalo que é brutalmente espancado. Depois desse episódio, perderá a razão. No campo, um camponês, a filha e o velho cavalo. Lá fora, uma tempestade.
Crítica – O ilustre Béla Tarr nunca fez, em toda a sua carreira, um filme comercial ou fácil de entender. A sua brilhante filmografia está repleta de soberbas produções independentes com uma forte carga intelectual e filosófica, que têm o dom de nos fazer pensar sobre a vida e tudo aquilo que ela engloba. Este “O Cavalo de Turim” segue o mesmo caminho dos seus projetos anteriores e também nos incita a embarcar numa impressionante viagem pelos limites da emoção e do raciocínio, onde todas as interpretações são aceites e nenhuma conclusão está completamente certa ou errada. Apesar de abordar tacitamente um sem número de pontos teológicos e psicológicos, “O Cavalo de Turim” é um filme bastante simplista que utiliza a constante repetição do quotidiano para passar as suas ideias centrais sobre as virtudes e dificuldades da existência humana. Esta construção minimalista permite-nos por isso encontrar algum significado filosófico e existencialista em quase todas as suas cenas, seja nos repetitivos e pouco movimentados serões familiares ou nas constantes viagens que a filha faz diariamente ao poço para ir buscar água. Estas ações parecem, à primeira vista, desprovidas de qualquer sentido mas o seu simbolismo social torna-se evidente à medida que estas vão formando um padrão de previsibilidade que deve ser entendido como uma crítica ao estilo de vida mundano dos seres humanos. As subtis referências ao divino e aos conceitos indeterminados são uma constante e uma necessidade, afinal de contas estamos perante um filme que parece ter fortes influências nietzschianas, não sendo no entanto uma clara interpretação cinematográfica dos seus mais célebres e radicais ideais. Eu acho que “O Cavalo de Turim” é um filme intelectualmente difícil mas não é nada controverso, muito pelo contrário, nenhum tema de grande polémica é abordado com muito detalhe por Béla Tarr, que pretende com esta obra dar seguimento à sua complexa análise da condição humana, análise essa que neste caso concerto se restringe sobretudo ao significado e peso do quotidiano no destino e na vida de um ser-humano. Esta ideia é defendida pelo próprio cineasta que reafirmou por diversas vezes que “O Cavalo de Turim” não é um filme sobre a morte ou o divino, mas sim sobre os humanos e o seu dia-a-dia. A construção e estruturação narrativa criada por Béla Tarr é verdadeiramente exímia, mas a qualidade desta produção também deriva da brilhante edição realizada por Ágnes Hranitzky, que conseguiu dar forma e consistência às várias ideias do famoso realizador húngaro. Esta bela produção também deve muito do seu poder qualitativo ao fantástico trabalho do seu pequeno elenco, nomeadamente aos excelentes János Derzsi e Erika Bók que encaram a banalidade e a lentidão de uma forma soberba. É fácil de ver que “O Cavalo de Turim” não é um filme para todos mas é, sem sombra de dúvidas, uma obra de excelência que vale a pena ser vista com a devida calma e atenção, até porque é um filme extenso e ocasionalmente cansativo que puxa por nós até final. Resta apenas dizer que “O Cavalo de Turim” venceu o Prémio do Júri no Festival de Berlim em 2011 e que será, em principio, o último filme da carreira de Béla Tarr, que assim se despede da sétima arte com um grande trabalho.
Classificação - 4,5 Estrelas Em 5
1 Comentários
Muito muito bom. Apesar de ser para corajosos, foi dos melhores filmes que já vi.
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