Crítica - Don Jon (2013)

Realizado por Joseph Gordon-Levitt 
Com Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson, Julianne Moore 

Ao longo dos anos temos assistido ao imparável crescimento e amadurecimento de Joseph Gordon-Levitt, um ator talentoso e carismático que evoluiu muito desde o seu primeiro trabalho de relevo na popular sitcom “3º Calhau a Contar do Sol”, que lhe permitiu mostrar o seu enorme potencial a Hollywood, que desde então nunca mais o largou. Entre participações de luxo em filmes de qualidade, como os elogiados indies “50/50” (2011) e “500 Days of Summer” (2009), ou os populares blockbusters “Inception” (2010), “Looper” (2012) e “The Dark Knight Rises” (2012), Gordon-Levitt conseguiu criar e manter uma merecida reputação de jovem estrela de grande versatilidade, que já lhe permite conviver lado a lado com as principais estrelas masculinas de Hollywood. Este seu magnifico currículo artístico já nos leva a esperar o melhor das suas performances, mas agora acho que também podemos começar a esperar o melhor dos seus projetos como realizador, já que este “Don Jon”, o seu projeto de estreia nesse cargo, é um bom exemplo de uma comédia romântica relativamente refrescante, que tanto pode agradar ao público masculino, como ao público feminino, já que aposta num guião forte e carregado de aspetos diversificados e curiosos que rodeiam a leve mas divertida história de Jon Martello, um jovem guido que dá importância a poucas coisas na vida: o seu corpo, o seu espaço, o seu bólide, a sua família, a sua igreja, os seus amigos e claro, as suas mulheres. É verdade que Jon gosta bastante das suas conquistas femininas, mas nem mesmo os seus melhores casos amorosos se podem comparar à enorme satisfação que sente quando está sozinho em frente ao computador a ver pornografia. Insatisfeito, Don Jon embarca numa jornada na procura de uma vida sexual mais gratificante, mas acaba por aprender maiores lições de vida e amor através do relacionamento com duas mulheres muito diferentes.

   

Essas duas personagens femininas principais são interpretadas com grande carisma por Scarlett Johansson e Julianne Moore, duas profissionais de topo, que juntamente com um quase irreconhecível Joseph Gordon-Levitt, protagonizam uma história que, como parece ser perceptível pelos seus elementos promocionais, aposta bastante nos estereótipos da cultura italo-americana, quer a nível familiar, quer a nível social. Se já ouviu falar do polémico reality show “Jersey Shore” da MTV, então já consegue ter uma boa ideia da base cultural que muito provavelmente inspirou Gordon-Levitt a escrever o guião desta comédia, já que a primeira parte de “Don Jon” é toda ela dedicada aos estereótipos românticos e culturais que são presença frequente nesse reality show, até porque na prática esses lugares-comums culturais já eram normalmente associados aos guidos e às guidettes, mesmo antes do aparecimento de “Jersey Shore”. No guião de “Don Jon” estes estereótipos marcam presença assídua na dinâmica familiar, romântica e social do protagonista, que nos é descrito como o típico guido com uma alta estima e que adora divertir-se com os seus amigos e amigas, sem nunca esquecer a sua família e a sua religião que, embora sejam atiradas para segundo plano em comparação com a sua faceta mulherenga, acabam por ter uma parte importante na sua rotina, como prova os seus divertidos mas embaraçosos jantares de família e as suas repetitivas mas sempre divertidas confissões pessoais ao seu padre. A primeira parte de “Don Jon” assenta portanto num divertido e até excessivo retrato cliché de uma cultura e de um modo de vida, tendo pelo meio um romance muito oco que ilustra na perfeição a superficialidade da rotina e das ambições do protagonista, que em paralelo com as suas pertinentes dúvidas amorosas, trava uma importante batalha interior contra o seu aparente vicio sexual por vídeos pornográficos, que desde sempre fizeram parte da sua vida e que, como posteriormente nos é revelado, ajudaram a moldar o seu estilo de vida e a cimentar os seus problemas sexuais. 


É na segunda parte de “Don Jon” que este vício do protagonista é analisado ao pormenor com a ajuda da personagem de Julianne Moore, que usa toda a sua experiência para ajudar e conquistar este jovem protagonista, que graças à intervenção desta sua nova amiga colorida consegue livrar-se dos seus demónios interiores e endireitar a sua vida. Esta parte do filme é portanto um pouco mais séria e emotiva que a primeira, onde abundam as sequências cómicas e românticas que são capazes de entreter um pouco mais o espetador, no entanto, a segunda parte, embora seja menos ritmada e divertida que a primeira, acaba por ter mais conteúdo, porque nos mostra a real faceta do protagonista e das restantes personagens. A junção entre estas duas partes, uma mais cómica e outra mais séria, acaba por dar origem a um filme bem preenchido mas sem grandes excessos a qualquer nível, que tanto tem aspetos muito engraçados, como partes mais sérias e humanas. Há portanto que dar os parabéns a Joseph Gordon-Levitt, que assumiu com destreza e carácter os cargos de protagonista, realizador e guionista desta divertida e versátil comédia independente, que não perde muitas oportunidades para fazer pouco dos clichés italo-americanos e dos auto-denominados chick flicks, onde os guiões são idênticos e os finais são sempre felizes.

Classificação - 3,5 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Don Jon: 5*

    "Don Jon" é um filme único, com uma história bastante interessante...

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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