Crítica - Divergent (2014)

Realizado por Neil Burger 
Com Shailene Woodley, Theo James, Kate Winslet 

As comparações entre “Divergent” e “The Hunger Games” parecem à partida inevitáveis, porque à primeira vista ambos pertencem à mesma espécie de projetos direcionados e criados para os jovens adultos, sendo também certo que ambos exploram uma história futurista que se desenrola numa sociedade pós-apocalíptica e distópica, onde uma organização política aparentemente autoritária tenta impor a sua solução radical para evitar um novo colapso civilizacional, cabendo a uma jovem protagonista a difícil tarefa de aliar-se aos seus companheiros igualmente rebeldes para, contra todas as expetativas, combater e travar os abusos perpetrados por essa organização malévola, e assim presentear a sociedade humana com uma forte esperança num futuro livre e melhor. 
É portanto fácil de concluir que, na sua génese, “The Hunger Games” e “Divergent” são muito parecidos, já que ambos têm como base duas séries literárias juvenis muito famosas que exploram temas muito parecidos, onde são permanentemente evocados pensamentos revolucionários e questões relativas a opressão política que, embora teoricamente interessantes, acabam por se manifestar de uma forma bastante tímida, porque, afinal de contas, ambos os projetos não foram criados com o objetivo de serem ideologicamente filosóficos ou intelectuais, como se comprova facilmente pelo seu público alvo e, sobretudo, pela forma como esses temas são explorados. É claro que, apesar das óbvias parecenças, existem grandes diferenças de qualidade entre estes dois projetos, porque embora “Divergent” tenha um certo valor para um público mais jovem, não é de todo um filme tão abrangente e apelativo como as entregas da saga “The Hunger Games”, que talvez por não se prenderem tanto à previsibilidade e por darem um toque mais adulto e humano às suas abordagens sociopolíticas, acabam por explorar, de uma forma mais completa e penetrante, a saga da sua protagonista, que assim ganha um maior dimensão ao nível do realismo, dramatismo e entretenimento.


A aventura de Beatrice Prior em “Divergent” não é portanto tão cativante ou madura como a de Katniss Everdeen em “The Hunger Games”, mas não há dúvidas que, mesmo assim, consegue reunir atrativos suficientes para conquistar a atenção de um público mais jovem, já que ao longo da sua história são evidentes as noções de aventura e ação que, embora levianas, conseguem fornecer uma competente dose de entretenimento a este projeto destacadamente juvenil que, sem grande surpresa, aposta mais afincadamente que “The Hunger Games” numa componente romântica perfeitamente superficial e previsível, que de certa forma reforça a sua ingenuidade latente. É óbvio que para um adepto habitual deste género, “Divergent” consegue preencher facilmente os campos de exigência de entretenimento com o seu argumento simples e várias sequências de ação competentes, mas para os mais exigentes, a sua intriga previsível e por vezes fatigante ou incongruente com toques excessivos de ingenuidade juvenil poderá ser um grande problema. O certo é que, embora não seja mau, “Divergent” pouco faz para se evidenciar como um blockbuster para todas as idades e feitios, especialmente porque o seu guião pouco faz para apelar à diversidade e à maturidade do público, algo que, por exemplo, “The Hunger Games” consegue fazer na perfeição ao combinar elementos tipicamente juvenis, com um espírito narrativo mais adulto e interessante, algo que simplesmente não existe neste primeiro capítulo cinematográfico da saga literária criada por Veronica Roth.
O que vale a pena destacar em “Divergent” é a presença de Shailene Woodley, que tal como Jennifer Lawrence, a protagonista de “The Hunger Games”, é uma das jovens atrizes mais promissoras de Hollywood. Neste seu primeiro grande projeto comercial, Woodley mostrou-se capaz de manter a louvada postura carismática que evidenciou recentemente em projetos mais indies, mas claro que esta sua performance está desprovida do mesmo charme ou carácter que demonstrou no passado, muito por culpa da frágil construção da sua personagem, no entanto, é inegável que Woodley enquadra-se perfeitamente na génese do filme, e conseguiu conferir-lhe um pouco mais de interesse com a sua performance recheada de intensidade e boas intenções. A experiente Kate Winslet é o outro grande nome do elenco, mas o seu papel de vilã acaba por não ser lá muito poderoso, lá está, igualmente por culpa da construção da personagem, que fica um bocado àquem das expetativas. Enfim, “Divergent” é um projeto razoavelmente conseguido dentro do género em que se insere, mas está longe, muito longe, de ser um grande filme que moverá e cativará multidões de todas as faixas etárias, já que acredito que apenas os mais jovens é que poderão retirar um certo prazer da experiência que este filme consegue oferecer. 

Classificação - 2 Estrelas em 5

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