Opiniões Sobe Mediterranea, Mustang e Urok, Os Candidatos ao Prémio LUX de 2015

No dia 24 de Novembro de 2015, no Parlamento Europeu em Estrasburgo, teve lugar a cerimónia de atribuição do prémio Lux pelos euro parlamentares em reunião plenária. Os filmes candidatados ao prémio foram: “Mediterranea”, realizado por Jonas Carpignano; “Mustang, realizado por Deniz Gamze Ergüven; e “Urok”, realizado por Kristina Grozeva e Petar Valchanov.
O vencedor foi “Mustang”, que entretanto se classificou também entre os candidatos pelo prémio Oscar 2016 do Melhor Filme Estrangeiro. No entanto, as três obras foram reconhecidas enquanto exemplo de excelência do cinema europeu, e tiveram estreia nos festivais de Cannes e Veneza. Em Portugal, “Urok” ainda não conseguiu um contracto de distribuição, enquanto” Mediterranea” já está nas salas, e “Mustang” vai lá chegar no final de Fevereiro.
“Urok” conta a história de uma professora que tenta juntar o dinheiro para saldar as dívidas do seu marido. Um usurário concede-lhe um empréstimo, mas quando chega a altura de lhe restituir o dinheiro, uma série de azares profissionais, económicos e pessoais impede-lho. Ao fim de evitar ser chantada pelo homem, decide roubar um banco com uma arma de brincar.
A narrativa de “Mediterranea” junta os efeitos desumanizadores da actual crise económica às migrações intercontinentais. Dois irmãos vindos de Burkina Faso atravessam com um barco o Mar Mediterrâneo em direção à Itália. Chegados aí, vão se integrar numa vila do Sul Itália chamada Rosarno, onde outros amigos e familiares já se estabeleceram. O sonho europeu se tornará rapidamente numa desilusão, pois as condições profissionais são próximas à escravatura e o racismo difuso na população pode explodir em actos de violência sem pré-aviso.
Finalmente, o foco em “Mustang” está sobre o conflito entre tradição e inovação ou, melhor, a contradição de um país (a Turquia) onde as duas dimensões coexistem. A protagonista é a mais jovem de cinco irmãs, de idades entre os 12 e os 17 anos. À medida que as raparigas revelam a sua maturação sexual, dão escândalo na pequena vila onde moram, de maneira que a sua avó vê-se forçada a organizar casamentos por cada uma. As irmãs reagem de forma diferente: entre quem casa por amor, conveniência ou desespero, haverá também quem tentará fugir do seu destino em Istambul.
Cada história foi representada conforme estilos visuais diferentes. Em “Urok”, os realizadores Grozeva e Valchanov serviram-se dos ásperos bairros suburbanos de uma pobre vila búlgara para manter o espetro cromático entre poucas variações de azul-escuro, branco e cinzento. A actuação formalizada dos intérpretes, a palidez das suas caras tornam palpável a ansiedade das personagens e a pobreza moral que resulta de obrigações financeiras impossíveis de se satisfazer.
Carpignano fez um paralelo de alguma forma parecido entre indivíduo e sociedade, mas segundo um registo mais naturalista: contratou actores não profissionais que moravam nos lugares onde filmou, e adaptou a escrita do guião às suas sugestões ou eventos ocasionais. Por exemplo, uma cena que retrata a luta entre um grupo de migrantes e alguns jovens de Rosarno foi baseada num acidente que aconteceu durante as rodagens. A perspectiva da câmara fica sempre muito próxima a do protagonista, ao fim de envolver o espectador numa forte experiência sensorial.
Dos três filmes, o estilo mais “classicamente” cinematográfico é o de Ergüven, pois a narração tem uma firme estrutura em três actos, e é contada pela voz-off da protagonista. O filme ganha força graças à vitalidade das actrizes, que (como foi realçado por outras críticas) quase parecem parte de um único organismo pela sua sincronia dinâmica e afetiva. A realizadora complementou a sua química com eficazes planos gerais em que o espectador pode observa-las atuar ao mesmo tempo, enquanto a bela direção de fotografia reforçou as tonalidades quentes e sedutoras do roxo e laranja.
Será difícil que o mesmo espectador goste dos três filmes à mesma maneira, porém são todas representações importantes da nossa época e, significativamente, todas baseadas em histórias verídicas. Seja por falta de dinheiro, emprego ou independência, as suas personagens deslocam-se fora de casa e abandonam os seus hábitos, forçadas a enfrentarem questões demasiado extensas para serem resolvidas só com os seus esforços. As suas tentativas, as vezes falhadas, outras conseguidas, tornam-se lições de ética e cinema radicais. Convém saber aproveitar e apreende-las.

Artigo Elaborado por Jacopo Wassermann

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