Trailers. Uma relação constante entre ódio e amor. Todos nós queremos vê-los, mas será que atualmente temos tanto gosto em apreciá-los e analisá-los como antigamente?
Podemos começar logo a estudar o seu tamanho. O tempo ideal para um trailer se desenvolver seria de, aproximadamente, um minuto ou um minuto e meio. E o que se devem fazer nesses 60/90 segundos? A questão colocada já é muito mais subjetiva do que se pensa. Depende muito do que o estúdio quer que se veja. Por vezes, uma aposta mais misteriosa no relato dos factos durante os trailers é o ideal para certo tipo de filmes, como os de terror e de suspense. Guardar sempre o melhor para o filme, dar só um cheirinho de curiosidade, já que neste caso não mata o gato mas sim traduz-se em salas mais cheias.
O problema é que neste momento os trailers já não são de um minuto mas sim de dois, três ou até quatro minutos. É como se tivéssemos a ver um filme de duas horas a ser reduzido a meros três minutos, mostrando todas as lutas, as piadas, as mortes, os jumpscares, os plot twists…Onde se assenta o mistério nisto tudo?
O trailer principal nem sempre é o culpado. O que vem a seguir é ainda mais perigoso para o espectador curioso: extended clips, TV Spots, segundos e terceiros trailers…Quer-se revelar o máximo possível de modo a atrair mais pessoas: esta estratégia resulta, de facto?
De acordo com especialistas em execução de trailers, quanto mais é revelado, mais as pessoas quererão ver. O que é um pouco contraditório, porque, será que não viste montes de comentários raivosos nos trailers de Batman vs. Superman a afirmarem que estavam a “ostentar” demasiado do filme? Porquê essa raiva se as pessoas vão ver o filme na mesma? Com base na opinião de muitos desses especialistas, quanto mais informação se soltar mais interesse é crescente na mente das pessoas. No entanto, isso não faz muito sentido não?
Nem por isso. O espectador comum encontra-se cada vez mais exigente com aquilo que deve saber sobre o filme. Façamos a seguinte experiência: o trailer para o novo filme de terror “Monster” (estou a inventar claro) vai ser desenvolvido por duas equipas de marketing diferentes. A primeira, decide apostar numa abordagem mais suave e misteriosa, com planos longos, dando atenção a pormenores e a pistas que levam a esse tal “monstro”. Mas nunca se chega a realmente ver a criatura. Mostra-se um jumpscare ou outro, ouve-se um grito, foca-se num olhar nervoso da personagem, bum! Um minuto e acaba o trailer. Já na segunda equipa, decidem fazer uma abordagem muito mais direta: apresenta-se todas as personagens, a história, vários jumpscares, planos rápidos que estimulam o nosso cérebro, mais gritos, mais sangue e depois…revela-se o monstro. Ai que monstro horrível que é mostrado. E bum! Três minutos de trailer e acaba. Qual o tratamento que preferiria?
Atualmente, as pessoas desejam coisas rápidas e concretas. Se vou ver um filme sobre o monstro, eu quero ver o monstro para ver se é assustador o suficiente para ver ou não. Se vou assistir essa obra, tenho que analisar se possui muita violência ou não. Ou seja, nós cada vez mais desejamos todas as caraterísticas do filme. Já não queremos a surpresa, não queremos ser surpreendidos. Ansiamos ver o que está no trailer, porque o trailer é o filme só que em formato mini. Muitos podem negar esta lógica, mas, a meu ver, infelizmente, resulta.
Porém, isso pode resultar tanto para uns como para outros. Quando nesse filme de terror hipotético, “Monster”, cujo trailer foi elaborado pela segunda equipa, mostrar os seus famosos jumpscares…a surpresa não será muita. A qualidade começa cada vez a ser inferior, porque já sabemos todos os truques, curvas e contracurvas porque nos foi mostrado tudo no trailer. Será que é vital esta urgente necessidade de soltar tudo?
Em muitos casos não. Analisemos o trailer do filme de Stanley Kubrick, “The Shining”. Um plano longo, quieto, a mostrar um elevador. A porta do elevador abre-se e saem volumosas quantidades de sangue, tudo em câmara lenta, com uma música que quase arrepia a nossa alma. Não será este clipe de um minuto suficiente para convencer um amante de filmes de terror? Nada nos é revelado. Então é natural do ser humano, quando se revela um dedo, cobiça-se logo saber como é o resto da mão.
Afastando-nos um pouco de filmes menos banais, podemos focar nos blockbusters. Permita-me que aqui faça até uma segunda experiência: novo filme de “The Incredible Hulk” e temos a informação que Jennifer Walters (prima de Bruce Banner e futura She Hulk) aparecerá no filme (mais uma vez, tudo isto é uma situação bastante hipotética). Claro que, se o filme tem como título “The Incredible Hulk”, oferecer cenas tanto de Banner como de Hulk é substancial. Nestes filmes de ação e aventura, o que pretendemos ver no trailer é ação e aventura, não um elevador cheio de sangue. Todavia será necessário expor a She Hulk? Note-se que a personagem nunca apareceu em nenhum filme e que a sua entrada é esperada por isso a equipa de marketing tem duas opções: mostrar She Hulk em ação ou escondê-la mesmo só para o filme. Tudo é uma questão daquilo que o estúdio pretende ganhar. Provavelmente, se dinheiro é o objetivo, mostrar She Hulk logo no trailer seria fulcral para a venda adiantada de bonecos, mochilas, canecas, etc. Mas se o propósito é esmiuçar a curiosidade dos nerds sedentos, o melhor é não mostrar, garantido a entrada nas salas de cinema de muitas pessoas interessadas.
Há várias vantagens e desvantagens dos trailers de um e três minutos. É tudo uma matéria fortemente caraterizada por uma enorme subjetividade, porque eu, Bellatrix, posso querer mais mistério, mas tu, leitor, poderás desejar todas as informações no clipe de três minutos.
O que é um facto é que os trailers estão cada vez mais a ganhar um lugar de destaque no marketing de um filme, e um bom trailer é quase vital para um desempenho satisfatório da obra. Pode parecer que não, mas há cada vez mais pessoas a consumirem a arte cinematográfica e podemos ver pelas bombásticas bilheteiras de filmes como “Jurassic World”, “The Avengers” e do recente “Batman vs. Superman”. Com tão impressionantes resultados financeiros…será mesmo necessária uma mudança na forma de produzir trailers?
Artigo Elaborado Por Bellatrix Alves
3 Comentários
Resumindo, o trailer "grande" é bom para o lucro, e ruim para nós.
ResponderEliminarÉ verdade, concordo plenamente consigo. Há demasiados filmes que estão a ser estragados por trailers que mostram exactamente o que vai acontecer e quando. Acho que deixar de ver trailers não deve ser a solução, já que não sinto que tenha de ser eu a mudar. Além disso, ainda há algumas excepções a esta tendência, como o "10 Cloverfield Lane" que vai estrear este semana, por exemplo. Mas tirando esses projectos do J.J. Abrams e um punhado de outros filmes ocasionais, é uma decisão que eu acho que podia ser invertida por uma aposta maior na qualidade dos filmes em questão, e na confiança dos fãs em certos franchises.
ResponderEliminarNão há grande interesse em ver um trailer que conta a história toda de um filme (que ainda por cima acaba por ser um "Parte 1" ou uma introdução ao próximo capítulo da saga, esse sim supostamente "importante!"). Vamos ver se esta tendência passa nos próximos anos, se não é mesmo começar a evitar trailers, que é uma pena porque ajudam a criar entusiasmo para o filme.
O trailer do Batman V Superman revelou tudo do filme, vê-se o trailer e já se sabe o filme praticamente todo, já o mesmo tinha acontecido com o Avengers AoU
ResponderEliminar