Queer Lisboa Revela as Primeiras Novidades Sobre a Próxima Edição!


O Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer já anuncioualguns dos destaques da sua 23.ª edição, a decorrer de 20 a 28 de setembro de 2019, no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa. Um dos principais destaques deste Queer Lisboa 23 é o ciclo retrospetivo da celebrada secção Panorama do Festival Internacional de Cinema de Berlim, por ocasião do seu 40.º aniversário. Intitulado “Berlinale Panorama 40”, o ciclo propõe um olhar a alguns dos filmes que fizeram o percurso de uma das mais ousadas e inspiradoras montras de cinema não alinhado (incluindo o cinema queer) na Europa. 
Quando, em 1980, Moritz de Hadeln, o então diretor do Festival Internacional de Cinema de Berlim, criou a secção Panorama, teve como objetivo abrir espaço na programação da Berlinale a uma abordagem mais radical que refletisse as inovações de muito do cinema feito durante a década de setenta do século XX. As subculturas inspiravam grandemente a sociedade da época que se abria à experimentação. O programa desejado para a nova secção Panorama, desenhado para permitir uma maior liberdade artística nas escolhas de curadoria do festival, incluía assim desde o seu início o cinema gay, lésbico, feminista ou que simplesmente refletisse um pensamento alternativo que complementava ou se opunha aos modelos socias mainstream. A criação, em 1987, do prémio TEDDY Award para o melhor filme queer foi a definitiva afirmação da proposta do Panorama como lugar de celebração do cinema LGBTI+ e dos seus públicos, das suas vivências e preocupações.
Em 2019, em jeito de celebração, a Berlinale desafiou Wieland Speck, o ex-diretor artístico que durante mais tempo encabeçou o Panorama (1993-2017) e Andreas Struck, um dos curadores atuais da secção, a desenharem um programa que traçasse a sua história. Com este ciclo em Lisboa, programado em parceria com Speck e Struck, o Queer Lisboa pretende lançar um olhar retrospetivo sobre os filmes queer que fizeram a história do Panorama, também eles realizados por cineastas para os quais a Berlinale é parte essencial da sua história. Destes podemos destacar nas longas-metragens Self-Portrait in 23 Rounds: A Chapter in David Wojnarowicz’s Life, 1989-1991 (2018) de Marion Scemama, um mosaico revelador e comovente do seminal artista político norte-americano David Wojnarowicz, o sublime e torturado Rebels of the Neon God (1992) primeira longa-metragem de Tsai Ming-liang e que lançou a sua brilhante carreira, e 100 Days Before the Command (1990) de Hussein Erkenov, sobre a intimidade partilhada por cinco soldados da União Soviética, permanentemente acossados pela violência que os rodeia. Nas curtas-metragens, destaque para Max (1992) de Monika Treut e The Attendant (1993) de Isaac Julien, dois nomes maiores do cinema queer.
O Queer Lisboa anunciou também que o Filme de Abertura da edição deste ano será Indianara(2019) de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, a exibir na noite de 20 de setembro. Estreado na secção independente ACID na 72.ª edição do Festival de Cannes, o documentário segue o impressionante percurso de luta e resistência (do impeachment de Dilma e presidência de Temer, à eleição de Bolsonaro, passando pelo assassinato de Marielle Franco) da ativista transgénero Indianare Siqueira, uma mulher para quem o engajamento é sobretudo uma questão de amor, amizade e solidariedade. Um compromisso que tem na ideia de comunidade (trans, pobre e maioritariamente negra) e nas fragilidades a que a mesma está sujeita no Brasil atual, a sua força maior. Um documentário imersivo e cru, mas também extremamente comovente que, partindo de um microcosmos comunitário, apura tudo o que há de fundamental no cenário de opressão e luta política e social do Brasil de hoje.
Esta é também uma oportunidade para o Queer Lisboa se juntar às comemorações dos vinte anos da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa, que teve a sua primeira edição no ano 2000. Depois do mote lançado por Indianara no dia anterior, a 21 de setembro, o Queer Lisboa e a Marcha convidam a assistir a uma conversa à volta dos “Novos Populismos” e do impacto cada vez mais devastador que estes têm nas vidas das populações LGBTI+ em todo o mundo. Esta é uma conversa urgente num momento em que movimentos populistas de extrema direita crescem vertiginosamente, em particular no contexto europeu, assombrando as conquistas que estas mesmas comunidades foram, ao longo de décadas, conseguindo reclamar. O evento é seguido da inauguração de uma mostra fotográfica dedicada aos 20 anos da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa, que irá estar patente no Cinema São Jorge no decorrer de todo o Festival. 
O festival revelou também o programa Queer Focus desta 23.ª edição. “Ecosex” é o mote e os filmes Water Makes Us Wet: an Ecosexual Adventure (2018) de Beth Stephens e Annie Sprinkle, e Ecosex, a User’s Manual (2018) de Isabelle Carlier servirão de manual para uma total imersão num universo que propõe a ecosexualidade como nova identidade sexual e a Natureza como Amante em vez de Mãe. Annie Sprinkle, artista e ex-atriz porno feminista tornada ativista ecosexual e Beth Stephens, professora de arte e ativista ambiental, são as mulheres à frente deste Manifesto Ecosexual que reclama, com muito humor, mas também com uma inabalável seriedade, um “movimento ambientalista um pouco mais sexy, divertido e diverso”. Ao alinharem a sua perspetiva queer com a ação ambientalista, Annie e Beth defendem uma relação mais carnal e apaixonada com o planeta Terra e na luta pela sua preservação. Uma das suas principais palavras de ordem é “Nós fazemos amor com a Terra!” e o cinema é também uma das armas que usam na sua demanda ecosexual. 
Como parceiro deste Queer Focus, o festival tem o enorme prazer de ter The Quinta Project. Este é um projeto liderado por Stephan Dahl que tem vindo a desenvolver no Alto Alentejo um espaço construído por uma comunidade LGBTI+, com o objetivo de tornar próximas esta e as outras comunidades que a rodeiam. Ao agregar e fazer crescer esta comunidade, a Quinta é não só um terreno de inclusão e diversidade, mas também um compromisso ambientalista e um contributo para uma economia sustentável.    
Outra importante colaboração anunciada para a edição deste ano é com a Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro. Ao lançar a campanha “Direito a Ser”, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género traz para a linha da frente a defesa dos direitos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo (LGBTI+). Num ano em que o Queer Lisboa dedica uma particular atenção às questões trans e intersexo, nomeadamente com uma forte presença de filmes realizados por pessoas transgénero, o festival, com o apoio da Sr.ª Secretária de Estado, propõe uma conversa onde serão debatidas as preocupações destas comunidades e o papel que os governos devem ter na defesa dos direitos e na inclusão e paridade social das pessoas transgénero e intersexo.    
Por último, foi também anunciada a antestreia nacional de Golpe de Sol (2019), o mais recente filme do realizador português Vicente Alves do Ó. Depois dos biopics Florbela e Al Berto, Alves do Ó conta agora uma história com quatro protagonistas que, à volta de uma piscina numa casa isolada no campo, esperam em sobressalto uma quinta personagem. Um chamber drama que narra a chegada iminente do misterioso homem, ex-amante comum aos quatro amigos, exacerbando as emoções de cada um, ao ameaçar revelar todas as verdades escondidas.
Este ano, a equipa de programação dos Festivais Queer Lisboa e Queer Porto teve em consideração mais de 1000 filmes, 490 deles recebidos como submissões, um número record para o festival.O Queer Lisboa 23 realiza-se de 20 a 28 de setembro no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa. A programação completa, atividades paralelas, júris e convidados oficiais, são anunciados em conferência de imprensa no dia 10 de setembro. 


FILMES ANUNCIADOS


FILME DE ABERTURA

Indianara, Aude Chevalier-Beaumel, Marcelo Barbosa (Brasil, 2019, 84’)


BERLINALE PANORAMA 40

Longas-metragens

100 Days before the Command / Sto dnei do prikaza, Hussein Erkenov (USSR, 1990, 67’)
Daddy and the Muscle Academy, Ilppo Pohjola (Finlândia, 1991, 55’)
My Life as a Dog / Mitt liv som lund, Lasse Hallström (Suécia, 1985, 101’)
Rebels of the Neon God / Ching shao nien na cha, Tsai Ming-Liang (Taiwan, 1992, 106’)
Self-Portrait in 23 Rounds: a Chapter in David Wojnarowicz's Life, 1989-1991, Marion Scemama (França, 2018, 78’)
Split - William to Chrysis; Portrait of a Drag Queen, Ellen Fisher Turk, Andrew Weeks (EUA, 1992, 58’)

Curtas-metragens

The Attendant, Isaac Julien (Reino Unido, 1993, 8’)
Blue Diary, Jenni Olson (EUA, 1997, 6’)
Max, Monika Treut (Alemanha, 1992, 27’)
Jean Genet is Dead, Constantine Giannaris (Reino Unido, 1987, 33’)
The Sound of Fast Relief / Das Geräusch Rascher Erlösung, Wieland Speck (Alemanha, 1982, 28’)


QUEER FOCUS: ECOSEX

Water Makes Us Wet: an Ecosexual Adventure, Beth Stephens, Annie Sprinkle (EUA, 2018, 80’)  
Ecosex, a User’s Manual, Isabelle Carlier (França, EUA, 2018, 75’) 


ANTESTREIA NACIONAL

Golpe de Sol, Vicente Alves do Ó (Portugal, 2019, 85’)

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