Queer Lisboa 2019 - Apresentação


O Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer realiza-se de 20 a 28 de setembro no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa, com um total de 101 filmes de 36 países. Num ano em que se comemoram vários marcos, nacionais e internacionais, da história dos movimentos que reclamam o lugar das comunidades LGBTI+, a 23.ª edição do Queer Lisboa não podia deixar de fazer uma reflexão sobre o que significou meio século dos modernos movimentos de luta pelos direitos e dignidade destas mesmas comunidades. Desde a celebração dos 50 anos dos Motins de Stonewall aos 20 anos da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa, este é um ano em que o festival pretende pensar as conquistas políticas e sociais que foram acontecendo nos vários cantos do globo - onde tiveram naturalmente diferentes tempos e expressões - e o que significou, e significa ainda, o ativismo para a cultura queer. Importa-nos também refletir sobre os recuos a que assistimos nestas últimas décadas, que comunidades mais beneficiaram destas conquistas e que outras se viram postas de lado, vítimas por vezes do preconceito vindo de dentro da própria comunidade queer. O que significa o ativismo num mundo global cada vez menos “comunitário” e cada vez mais individualista?
Se um olhar às políticas, aos movimentos e às conquistas sociais nos ajudam a esta reflexão, também a cultura queer e em particular o seu cinema nos ajudam a traçar esta história, quer do ponto de vista das suas condições de produção, quer pela escolha dos sujeitos que representa e quem teve o privilégio de ambos: representar e ver-se representado. Longe de ambicionar ter a resposta para todas estas questões, o Queer Lisboa 23 espera contribuir para uma reflexão e um debate sobre as mesmas, através da sua programação de cinema e atividades paralelas deste ano.
Esta é também uma edição em que, não só as problemáticas específicas ligadas aos indivíduos intersexo, transgénero, e não binários, estão em destaque ao longo das várias secções, mas também onde a presença destes enquanto fazedorxs e pensadorxs de cinema é bastante notória, inclusive entre os convidados que este ano estarão presentes no festival.  
Com origens desde o Vietname à Geórgia, da Argentina ao Quénia, passando pela maior parte dos países europeus, são 36 os países presentes no programa este ano, sendo a França e os EUA os mais preponderantes, com 16 filmes cada. Segue-se o Brasil, que com 12 filmes continua a ser um dos países com mais expressão no Queer Lisboa, e a Alemanha, também com 12 filmes, espalhados pelas várias secções. Um total de 7 filmes compõem a presença portuguesa no Festival. O Queer Lisboa 23 é financiado pela Câmara Municipal de Lisboa, pelo ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, EGEAC, Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade e um conjunto de outros apoios públicos e privados, de entre os quais a ViiV Healthcare e a Absolut. O Queer Lisboa 23 conta com um financiamento direto na ordem dos 125.000€ e receitas estimadas na ordem dos 15.000€, perfazendo um total de 140.000€ orçamentados para o Queer Lisboa 23
O festival anunciou que o seu Filme de Encerramento será Skate Kitchen, de Crystal Moselle. Na sua primeira longa-metragem de ficção, a realizadora do documentário sensação The Wolfpack, desenha uma história imbuída da cena skater feminina de Nova Iorque, em que Camille, uma adolescente introvertida, faz amizade com um grupo de raparigas skaters, chamado Skate Kitchen, onde rapidamente se integra. Navegar os sentimentos românticos que começam a crescer dentro desta comunidade, e as relações com a sua própria família, provará ser mais difícil que qualquer manobra de skate. 
O Júri da Competição de Longas-Metragens é composto pela atriz Isabél Zuaa, a cineasta Teresa Villaverde, e o programador, e ex-diretor do Berlinale Panorama, Wieland Speck. Como é habitual, um total de oito filmes fazem parte desta competição: Em And Then We Danced, de Levan Akin, estreado na mais recente edição do Festival de Cinema de Cannes, o mundo de Merab, bailarino no conservador Ensemble Nacional Georgiano, é subitamente abalado pela chegada do carismático Irakli, que se tornará simultaneamente seu rival e objeto de desejo; vencedor de um Teddy Award na passada edição da Berlinale, Breve Historia del Planeta Verde, de Santiago Loza, mergulha-nos na viagem transcendente e melancólica de Tania, uma mulher transgénero a quem foi legada uma importante missão; com um impressionante percurso em festivais e vencedor de dois Goya, Carmen y Lola, de Arantxa Echevarría, interroga-se sobre a possibilidade de se quebrarem os ciclos geracionais que constrangem Carmen, uma jovem cigana madrilena que, ao conhecer Lola, começa a questionar o futuro que lhe fora traçado; do Brasil chega Greta, de Armando Praça, que delicadamente descreve os dias solitários de Pedro, interpretado por Marco Nanini, um enfermeiro gay de 70 anos, interrompidos pelo surgimento do fugitivo Jean, com quem estabelece uma relação de poder transformado em afetividade. Armando Praça estará presente em Lisboa para apresentar o seu filme; Las Hijas del Fuego, de Albertina Carri, atravessa as paisagens deslumbrantes do sul da Argentina numa viagem de poliamor onde duas amantes se cruzam com muitas outras mulheres, todas em encruzilhadas nas suas vidas; em Memories of my Body, de Garin Nugroho, estreado na edição de 2018 Festival de Cinema de Veneza, assistimos às descobertas de Juno, um menino sensível que vive numa aldeia de Java, que começa a compreender a sua própria identidade; de uma Nova Iorque fugaz e estratificada, onde as comunidades queer procuram sobreviver solidariamente, chega-nos Port Authority, de Danielle Lessovitz, onde Paul, recém chegado à cidade, conhece Wye, e a sua família afetiva, que o introduzem à cena kiki e ball; e por fim Sócrates, de Alexandre Moratto, o sleeper hit com enorme carreira em festivais e nomeado para vários Independent Spirit Awards, onde venceu o prémio “Someone to Watch”, em que a personagem título, um adolescente pobre que perde subitamente a sua mãe, procura sobreviver numa sociedade implacável, tentando alcançar a estabilidade e dignidade que constantemente lhe fogem. A competição atribui um prémio monetário no valor de 1.500€ ao melhor filme, oferecido pela Variações - Associação de Comércio e Turismo LGBTI.  
O Júri da Competição de Documentários é este ano composto pela programadora Joana de Sousa, pela apresentadora da RTP Margarida Mercês de Mello, e por So Mayer, jornalista e escritorx. Fazem parte da competição oito títulos: a partir de mais de cem horas de vídeos caseiros, deixados pelo seu pai, Agustina Comedi fez El Silencio Es un Cuerpo que Cae, onde procura descobrir mais sobre a vida clandestina deste, a sua sexualidade e a sua atividade política; estreado no Berlinale Panorama em 2018, Game Girls, de Alina Skrzeszewska, apresenta-nos Teri e Tiahna, duas mulheres que tentam navegar o caótico mundo do bairro de Skid Row, em Los Angeles, mantendo a sua relação apesar das vontades inconciliáveis que começam a despertar em cada uma delas; Irving Park, de Panayotis Evangelidis, é a história de quatro homens gay sexagenários que moram juntos em Chicago, explorando um estilo de vida não convencional de relacionamentos mestre/escravo, formando uma família construída sobre a ideia de livre escolha e consentimento; em Man Made, de T Cooper, seguimos as vidas de quatro homens transgénero que se preparam para competir na TransFitCon, a única competição totalmente trans-culturista do mundo, realizada em Atlanta, assistindo aos seus percursos pessoais de afirmação de identidade e empoderamento; um conto de detetives e fantasmas que desemboca em coming out story, My War Hero Uncle, de Shaked Goren, corre atrás do passado para dar sentido ao momento presente em que o realizador e a sua avó partilham o, por vezes, indizível; Ni d'Ève ni d'Adam. Une Histoire Intersexe, de Floriane Devigne, reflete sobre a forma como as pessoas intersexo procuram reapropriar os seus corpos e construir as suas identidades, enquanto questiona o que as nossas sociedades estão prontas para fazer em nome das normas sociais; em One Taxi Ride, de Mak CK, o segredo que durante dez anos foi estrangulando Erick, e o foi mantendo em reclusão dentro da sua própria família, está finalmente pronto para ser enfrentado, de forma que, através da partilha, Erick possa reclamar o seu futuro; por fim, com o coral Una Banda de Chicas, Marilina Giménez, que “trocou o baixo pela câmara”, coloca urgentíssimas questões: qual é o papel das mulheres na cena musical atual? O que acontece quando as mulheres fazem a música que escolhem? O que acontece quando os seus corpos no palco são sensuais e agressivos? Marilina Giménez, assim como a sua Assistente de Realização Florencia Vogliano, virão a Lisboa apresentar o seu filme. O prémio de melhor documentário no valor de 3.000€ é atribuído pela RTP2, pela compra dos direitos de exibição do filme.
O Júri da Competição Queer Art, composto pelo ator, e codiretor do Alkantara Festival, David Cabecinha, pelo artista plástico Francisco Queirós e pela Web Designer Sara Orsi, terá a seu cargo premiar um dos oito filmes que compõem este programa, dedicado a linguagens mais experimentais: em Capital Retour, de Léo Bizeul, um corpo omnisexual e intersexo, busca significado, ou o contrário, enquanto se apresenta deitado sobre pelo falso em frente a uma webcam; Doozy, de Richard Squires, que estará connosco no festival, leva-nos às infâncias dos anos 1960 e 70, em que Paul Lynde, e as suas vozes excêntricas e ambíguas, habitavam os vilões da famosa produtora de animação Hanna-Barbera; em Ilha, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, Emerson, sequestra Henrique, um premiado cineasta, para com ele fazer um filme sobre a sua história na Ilha, um lugar onde quem nasce nunca consegue sair; cinco são as Letters to Paul Morrissey, de Armand Rovira, que por entre existencialismo austero, vampiros em coreografia infinita e lembranças ilusórias de Chelsea Girls, encena tanto uma homenagem ao realizador da Factory como um olhar distanciado sobre outros tempos e outros cinemas. O realizador estará presente em Lisboa para apresentar o filme; em Manta Ray, de Phuttiphong Aroonpheng, um pescador encontra um homem ferido do qual cuida até ele próprio desaparecer e o outro se tornar ele, tomando conta da sua casa, do seu trabalho e da sua ex-mulher; Normal, de Adele Tulli, reflete sobre como as identidades feminina e masculina são representadas nas interações quotidianas, através de uma colagem de cenas imersivas filmadas por toda a Itália, capturando alguns dos momentos mais emblemáticos da vida do ser humano, desde o nascimento até à vida adulta; Eva - 25 anos, marginal, berlinense, poeta, dona de animais de estimação, trabalhadora do sexo, Virgem, toxicodependente em tratamento, dona de casa, feminista, modelo - é a protagonista de Searching Eva, de Pia Hellenthal, em que os conceitos de privacidade, e identidade como coisa estanque, são desafiados, espelhando mudanças e cortes geracionais; por fim, os realizadores Tavinho Teixeira e Mariah Teixeira regressam ao Festival com Sol Alegria, uma viagem inesquecível pelo interior do Brasil que inclui freiras guerrilheiras, plantações de canábis, e a participação especialíssima de Ney Matogrosso. A presença de Armand Rovira em Lisboa, assim como a exibição do seu filme, foram possíveis graças ao apoio do Programa de Internacionalización de la Cultura Española (PICE) da Acción Cultural Española (AC/E) na sua modalidade de “Movilidad", que apoia também a exibição da longa-metragem de ficção Carmen y Lola. O prémio de melhor filme do Queer Art, no valor de 1.000€, é atribuído pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa. 
A Competição de Curtas-Metragens tem este ano como Júri o ator e realizador Alexander David, o ator e programador Mickaël Gaspar e a cineasta Catherine Boutaud. Ao todo, 22 filmes compõem a competição, onde se destacam obras como The Politics of Choice and the Possibility of Leaving, de Megan-Leigh Heilig, que documenta  a partida da realizadora de África do Sul para a Bélgica, e explora as opções ou falta delas no momento de permanecer ou deixar um lugar; Estamos Todos Aqui, de Chico Santos e Rafael Mellim, em que a expansão do maior porto da América Latina avança sobre Rosa, uma jovem transgénero e toda a comunidade da Favela da Prainha; Prisoner of Society, de Rati Tsiteladze, onde se perscruta o que significa ser-se um estranho na sua própria casa e país; ou Floss, do chinês Popo Fan, em que um homem mantém secreto o incontrolável fetiche que tem pelos dentes do seu novo namorado. Para além de Floss, o festival cimenta a forte presença asiática nas curtas-metragens com o taiwanês The Glamorous Boys of Tang, de Su Hui-yu, o japonês Old Narcissus, de Tsuyoshi Shoji, e Ant-Man, do vietnamita Viet Vu, contando com a presença dos dois últimos, durante o festival, para apresentarem os seus filmes. Também presentes estarão: Bernardo Zanotta, com Heart of Hunger; Pol Merchan, e o seu Pirate Boys; e Diego Paulino, que nos traz NEGRUM3, e vem acompanhado pelo seu produtor, Víctor Casé. O prémio de melhor curta-metragem tem o valor de 1.000€.  
O mesmo júri avaliará a competição “In My Shorts” de filmes de escolas de cinema europeias. Doze títulos constituem esta competição, vindos de escolas tão diversas como a London Film School, o Piet Zwart Institute, em Roterdão, a HEAD em Genebra, a francesa Le Fresnoy, ou o DocNomads. O prémio de melhor filme é atribuído pela Much Underwear, no valor de 400€ em equipamento vídeo. 
Na já habitual secção Panorama, o Queer Lisboa 23 apresenta cinco filmes que marcaram o cinema queer neste último ano, com destaque para The Spark: the Origins of Pride, de Benoît Masocco, onde podemos reviver a história de Stonewall e as suas repercussões, particularmente nos centros nevrálgicos do ativismo queer que foram Nova Iorque, São Francisco ou Paris. O filme dá voz a alguns dos protagonistas do ativismo destas últimas décadas e aos seus acontecimentos-chave e pode ser uma chamada de atenção a novas gerações em como preservar esta herança e perceber que os perigos estão ainda presentes. No Panorama vamos ainda ver a extraordinária Melissa McCarthy como Lee Israel em Can You Ever Forgive Me?, de Marielle Heller; JT LeRoy, de Justin Kelly, onde as sempre brilhantes Kristen Stewart e Laura Dern revisitam a história louca da encenação literária de JT LeRoy; Making Montgomery Clift, realizado por Robert Clift, sobrinho do lendário ator, e Hillary Demmon, examina as narrativas, verdadeiras ou falsas, que foram construindo o mito Monty Clift; e por fim Rafiki, de Wanuri Kahiu, ficção lésbica vinda do Quénia, onde Kena e Ziki enfrentam as convenções que esperam que as “boas raparigas” se tornem “boas esposas”. 

Este ano, o Queer Pop apresentará, nas suas duas primeiras sessões, um programa intitulado Portugal Hoje. A primeira sessão será dedicada a dois artistas portugueses que em 2019 tiveram um tremendo destaque: Conan Osíris e Lena d’Água. Os documentários Conan, O Rapaz do Futuro, de Daniel Mota, e Lena d’Água - Nunca Me Fui Embora, de Hugo Manso e Nuno Galopim, são duas oportunidades para olhar o momento único atravessado por dois músicos singulares: Conan Osíris e a sua extraordinária ascensão depois de dois magníficos álbuns e a incontornável “Telemóveis”, e o regresso da icónica Lena d’Água, que este ano voltou aos originais com o muito feliz “Desalmadamente”. Uma segunda sessão traz-nos telediscos recentes de alguns dos músicos portugueses do panorama atual que, no seu imaginário, mais têm vindo a explorar todo o espectro queer com humor e audácia, de Filipe Sambado a Capicua, de Moullinex a Luís Severo passando por Surma ou Isaura. Para finalizar o Queer Pop, há ainda uma terceira sessão dedicada ao Hip Hop que nos mostra o que de queer se tem feito nesse universo, muitas vezes considerado inconciliável com imagéticas LGBTI+. Princess Nokia, Mykki Blanco, Big Dipper, e Brooke Candy, são alguns dos artistas que provam a, cada vez maior, permeabilidade deste género musical e reclamam neste a sua presença. 
Nas Hard Nights, apresentamos Alfredo Não Gosta de Despedidas, de André Medeiros Martins, em que um artista obcecado por sexo cria, através de relatos familiares, um documentário autoficcional. O cinema de Goodyn Green regressa ao festival, com An Illicit Affair, inspirado na confissão de alguém que mantém um caso com uma ex-amante, e com Second Shutter, retrato da cena porno queer de Berlim, e segunda parte da sua trilogia Shutter.
No programa do Queer Lisboa 23 há ainda oportunidade para ver os filmes escolhidos pela realizadora Cláudia Varejão, no âmbito da proposta de curadoria que a Agência da Curta Metragem fez este ano a vários realizadores e artistas portugueses, por ocasião do seu 20.º aniversário. Agência 20 Anos: Carta-Branca a Cláudia Varejão apresenta exclusivamente filmes realizados ou corealizados por mulheres portuguesas em que a curiosidade investigativa se faz diálogo com o território e a paisagem natural. Do programa fazem parte os filmes: A Torre, de Salomé Lamas; Insert, de Filipa César e Marco Martins; Paisagem, de Renata Sancho; Retrato de Inverno de uma Paisagem Ardida, de Inês Sapeta Dias; e Um Campo de Aviação, de Joana Pimenta.  
Numa parceria com o Queer Media Database Canada-Québec, o festival tem também este ano o prazer de apresentar um programa paralelo intitulado Corpos Desejo Paisagens: um arquivo de curtas canadianas LGBTQ 1989-2017. Num momento em que, mais que nunca, é urgente olhar e celebrar a memória fílmica LGBTI+, esta é uma estrutura que se dirige a investigadores, artistas, curadores, críticos e membros da comunidade em geral, oferecendo-lhes acesso gratuito a um exaustivo arquivo de informação histórica e biográfica sobre imagens em movimento queer, canadianas e quebequenses, desde os anos 1930 até aos nossos dias. Deste arquivo foram escolhidas 10 curtas e uma longa-metragem. De destacar, entre elas, Marie, Eu te Vejo, de Carol Fernandes, que estará presente no festival para apresentar o seu filme, e a longa Limites, de José Torrealba, onde o fotógrafo Carlos Quiroz revela o processo artístico por detrás da captura do nu masculino.   
Ainda de destacar uma Sessão Especial neste Queer Lisboa 23 em que apresentamos Mister Lonely, de Harmony Korine, o filme onde um imitador de Michael Jackson que faz espetáculos de rua, em Paris, para sobreviver, se apaixona por uma bela sósia de Marilyn Monroe, que lhe sugere mudarem-se para uma comunidade de imitadores nas Highlands escocesas.  Mister Lonely acompanha uma das exposições deste festival que, pelo segundo ano, acontecerá na Galeria Foco. Sem Receio de Criar o Caos foca numa das personalidades mais controversas do cinema independente norte-americano, Harmony Korine - skater, artista, argumentista, e acima de tudo realizador – que redefiniu e baralhou questões de género e sexualidade, e levou o conceito de queer a novos limites. Com curadoria de Thomas Mendonça e apresentando obras dos artistas Andy James, Dylan Silva, Karine Rougier, Filippo Fiumani e Rui Palma, a exposição pretende representar e elogiar alguns aspetos da obra cinematográfica de Korine. Já anteriormente anunciada, o Queer Lisboa apresenta também, nesta edição, a exposição 20 anos da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa, que estará patente no Cinema São Jorge, e que resulta do desafio público lançado com o objetivo de reunir um espólio vivo de fotografias inéditas e outros materiais relacionados com a história da Marcha. De arquivos de particulares e associativos, em papel, negativo ou digitais, esta é uma mostra fotográfica dedicada aos caminhos do movimento LGBTI+.
O festival organiza também, como é habitual, um conjunto de Debates e Conversas que se relacionam com alguns dos filmes ou secções programadas. É precisamente em parceria com a Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa que se fará o debate Novos Populismos, que já havíamos anunciado, e tem como mote a exibição do Filme de Abertura do festival, Indianara. Neste se irá debater a questão dos novos populismos, à luz dos recentes acontecimentos políticos e sociais a que temos assistido em vários países e de como estes constituem uma ameaça a décadas de luta dos movimentos e conquistas das comunidades LGBTI+. Tendo também um filme como mote, neste caso o documentário a concurso nesta edição, Ni d’Ève, ni d’Adam. Une Histoire Intersexe, de Floriane Devigne, o festival convida o público para, logo após a exibição do filme, assistir ao debate Direito a Ser… Intersexo, onde o objetivo é promover o conhecimento e a reflexão sobre esta temática, incluindo a prestação de cuidados a pessoas intersexo, as formas de discriminação e violência a que estão sujeitas, e a necessidade de uma intervenção qualificada em áreas fundamentais como a saúde e a educação. Este debate tem o, já anteriormente anunciado, apoio da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro. Por fim, haverá também oportunidade para uma Conversa com Wieland Speck. No contexto da retrospetiva dedicada aos 40 anos da secção Panorama da Berlinale, que o Queer Lisboa 23 organiza na Cinemateca Portuguesa, o Goethe-Institut convida Wieland Speck para uma conversa com o público onde o realizador, fundador do TEDDY Award e diretor do Panorama entre 1992 e 2017, estará à conversa com João Ferreira, diretor artístico do Queer Lisboa, e onde podemos ficar a conhecer em mais pormenor o seu trabalho e desafios de programação à frente da secção Panorama.
Paralelamente ao Queer Lisboa 23, uma vez mais um conjunto de Festas irão marcar as datas do festival. Na sexta-feira 20 de setembro, primeira noite do Queer Lisboa 23, aproveitando o embalo da estreia de Indianara, respondemos ao chamamento brasileiro dos Venga Venga, no Titanic Sur Mer, onde a Festa de Abertura começará ao som da juicy Catxibi, do coletivo feminino Thug Unicorn. Logo de seguida, passamos pela ZDB onde, no sábado 21, nos associamos à festa lisboeta-berlinense suspension, enquanto na terça-feira 24, haverá a já habitual Festa da Equipa no bar Corvo. Rumamos depois ao Lounge, na quinta-feira 26, para uma especialíssima A Night Out With the Hard Ones, onde os djs Trol2000 e Mário Valente nos enredarão por entre o italodisco e o Hi-NRG. Sleazy, sexy e sweaty house vibes para te fundires no dancefloor. Damos um salto ao Finalmente Club, na sexta-feira 27, para um Queer Rendez-Vous e por fim, no sábado 28, regressamos ao Titanic Sur Mer para uma épica Festa de Encerramento, onde o aquecimento se faz com Las Galegas, e a sua ode ao electroclash, em desvios pelo eletropop francês e o electro-disgusting espanhol, antes de avançarmos a todo o gás em direção a dois djs que levam a club culture para os seus recantos mais selvagens: o emergente fabaitos, que tanto pode virar para o industrial como para o fast acid, e a sua alma gémea Yizhaq, que promete desde pop desconstruído até kuduro futurista.  
Já anunciado no passado mês de julho, um dos principais destaques deste Queer Lisboa 23 é o ciclo retrospetivo da celebrada secção Panorama do Festival Internacional de Cinema de Berlim, por ocasião do seu 40.º aniversário. Intitulado Berlinale Panorama 40, o ciclo propõe um olhar a alguns dos filmes que fizeram o percurso de uma das mais ousadas e inspiradoras montras de cinema não alinhado (incluindo o cinema queer) na Europa. 
Em 2019, em jeito de celebração, a Berlinale desafiou Wieland Speck, o ex-diretor artístico que durante mais tempo encabeçou o Panorama (1993-2017) e Andreas Struck, um dos curadores atuais da secção, a desenharem um programa que traçasse a sua história. Com este ciclo em Lisboa, programado em parceria com Speck e Struck, o Queer Lisboa pretende lançar um olhar retrospetivo sobre os filmes queer que fizeram a história do Panorama, também eles realizados por cineastas para os quais a Berlinale é parte essencial da sua história. Destes podemos destacar nas longas-metragens Self-Portrait in 23 Rounds: A Chapter in David Wojnarowicz’s Life, 1989-1991 (2018), de Marion Scemama e François Pain, um mosaico revelador e comovente do seminal artista político norte-americano David Wojnarowicz, o sublime e torturado Rebels of the Neon God (1992), primeira longa-metragem de Tsai Ming-Liang e que lançou a sua brilhante carreira, e 100 Days Before the Command (1990), de Hussein Erkenov, sobre a intimidade partilhada por cinco soldados da União Soviética, permanentemente acossados pela violência que os rodeia. Nas curtas-metragens, destaque para Max (1992), de Monika Treut e The Attendant (1993), de Isaac Julien, dois nomes maiores do cinema queer. 
O Queer Lisboa anunciou também que o Filme de Abertura da edição deste ano será Indianara (2019), de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, a exibir na noite de 20 de setembro. Estreado na secção independente ACID na 72.ª edição do Festival de Cannes, o documentário segue o impressionante percurso de luta e resistência (do impeachment de Dilma e presidência de Temer, à eleição de Bolsonaro, passando pelo assassinato de Marielle Franco) da ativista transgénero Indianare Siqueira, uma mulher para quem o engajamento é sobretudo uma questão de amor, amizade e solidariedade. 
Esta é também uma oportunidade para o Queer Lisboa se juntar às comemorações dos vinte anos da Marcha do Orgulho LGBTI+ de Lisboa, que teve a sua primeira edição no ano 2000. Depois do mote lançado por Indianara no dia anterior, a 21 de setembro, o Queer Lisboa e a Marcha convidam a assistir a uma conversa à volta dos “Novos Populismos” e do impacto cada vez mais devastador que estes têm nas vidas das populações LGBTI+ em todo o mundo. 
O festival revelou também o programa Queer Focus desta 23.ª edição. “Ecosex” é o mote e os filmes Water Makes Us Wet: an Ecosexual Adventure (2018), de Beth Stephens e Annie Sprinkle, e Ecosex, a User’s Manual (2018), de Isabelle Carlier servirão de manual para uma total imersão num universo que propõe a ecosexualidade como nova identidade sexual e a Natureza como Amante em vez de Mãe. 
Por último, foi também anunciada a Antestreia Nacional de Golpe de Sol (2019), o mais recente filme do realizador português Vicente Alves do Ó. Depois dos biopics Florbela e Al Berto, Alves do Ó conta agora uma história com quatro protagonistas que, à volta de uma piscina numa casa isolada no campo, esperam em sobressalto uma quinta personagem. Este ano, a equipa de programação dos Festivais Queer Lisboa e Queer Porto teve em consideração mais de 1000 filmes, 490 deles recebidos como submissões, um número recorde para o festival.


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