Crítica - Restos do Vento (2022)

Realizado por Tiago Guedes

Com Albano Jerónimo, Nuno Lopes, Isabel Abreu


Temos assistido nos últimos anos à ascenção de Tiago Guedes. Em abono da verdade este cineasta portuense já era dono de uma carreira com vários apontamentos de qualidade, mas nestes últimos quatro anos conquistou uma maior notoriedade graças, sobretudo, a dois projetos: a série "Gloria" e o filme "A Herdade" que, como se recorda, foi escolhido para representar Portugal na corrida ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Já com "Entre os Dedos" e "Coisa Ruim" (que foram lançados na primeira década deste novo século), Tiago Guedes tinha já demonstrado enorme potencial e, uma década depois, tem vindo a confirmá-lo. Aos dois projetos já citados destaca-se também "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas", um projeto mais indie que também mereceu aplausos. 

É claro que, na sua filmografia, "Gloria" salta desde logo à vista por ter sido o primeiro projeto português da Netflix e, apesar do seu curto sucesso mediático, é inegável que conquistou o seu lugar na história. Foi, no entanto, com "A Herdade" que mais aplausos arrancou, tendo brilhado em vários festivais e foi até o maior vencedor dos Prémios Sophia em 2020. É verdade que falhou a nomeação final aos Óscares, mas nada apaga o sucesso que teve e a sua capacidade para convencer o público, quer no cinema, quer posteriormente na televisão sob a forma de minissérie exibida na RTP. 

Era por tudo isto que se aguardava com expectativa pelo seu novo trabalho que, uma vez mais, contou com a colaboração de Tiago Rodrigues, outra figura em clara afirmação na indústria e com quem já tinha trabalhado em "Gloria".  No final de contas, "Restos do Vento" não deslumbra, mas também não desilude. 

É um título seguro que denota a identidade já própria de Tiago Guedes, mas não acredito que venderá muitos bilhetes. Em "Restos do Vento" seguimos um grupo de jovens que se reencontram 25 anos depois de um evento que marcou a sua adolescência, evento esse que, agora, marca o seu presente. Esta premissa parece quase lançar um thriller ou um filme de terror, mas estamos mesmo perante um drama clássico que poderia ter beneficiado de um maior risco e ambição, sobretudo na hora de o afastar do estilo já austero do cinema português que fica mais preso a um desenvolvimento lento e um ritmo baixo. Talvez com outra visão, "Restos do Vento" poderia ter tido outras ambições e valor, mas não há dúvidas que representa o estilo de Tiago Guedes. Não é o seu melhor projeto, mas é mais um passo seguro que deixa antever coisas positivas no futuro, Mas será que com outra estratégia técnica não poderia ter alcançado um patamar diferenciador? 


Classificação - 3 Estrelas em 5

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