A montanha pariu um rato. Uma vida tão rica, versátil e pejada de grandes personalidades como foi a de Gabrielle ‘Coco’ Chanel é aqui retratada de um ponto de vista muito mesquinho. Coco (Audrey Tatou), que terá ganho esta alcunha ao cantar uma música sobre um cão homónimo num cabaret em França, é apresentada como uma jovem órfã mas extraordinariamente ambiciosa e capaz de não olhar a meios para atingir os seus fins. Com maior ou menos rigor histórico, a jovem Gabrielle ter-se-á hospedado sem ser convidada em casa de um riquíssimo solteirão, Étienne Balsant (Benoît Poelvoorde ), que conhecera no cabaret onde cantava e aí, através dos contactos que estabeleceu e em troca da sua cama, lançou as bases do seu futuro no mundo da moda. Mas terá sido Arthur ‘Boy’Capel, que conhecera em casa de Balsant, o grande amor da sua vida e o principal patrocinador da sua primeira loja de chapéus que fizeram furor em Paris e a lançaram para a carreira fabulosa, que todos conhecemos, na alta-costura. É portanto este lado frio, calculista e amoral de Chanel que é aqui explorado. Em poucos momentos sentimos de facto grande simpatia pela personagem, a não ser talvez quando somos também confrontados com o facto de até Capel não a querer mais do que para amante. Move-nos a curiosidade de ver a construção de um império a partir do nada e a ousada extravagância desta mulher.
Nada no filme é particularmente encantador. Audrey Tatou convence na dureza do rosto e na sua beleza seca, bem como as duas principais figuras masculinas que, de algum modo, são duas faces do mesmo homem, o rico militar debochado e inconsequente, e o novo, belo e arrivista industrial. Mas nem os ambientes nem o guarda-roupa estão à altura do que se esperaria de um filme com estas pretensões, tal como não o está o argumento. Saí da sala de cinema completamente defraudada nas minhas expectativas de ver representadas na grande tela figuras como Visconti, Picasso, Greta Garbo, Jean Cocteu e o lado humano da relação de Chanel com estas figuras e com os homens com quem se envolveu. Coco avant Chanel é como que uma vingança mesquinha e imprecisa que põe a nu as verdadeiras origens da costureira, que ela disfarçou toda a vida inventando uma biografia falsa para sim mesma que começaria com o seu nascimento dez anos depois da verdadeira data, e o modo como se conseguiu promover através do seu inegável talento mas com uma forte ajuda dos homens de quem foi amante em alguns momentos simultaneamente.
Classificação - 2,5 Estrelas Em 5
7 Comentários
Em suma, faltou-lhe Ambição. Este tipo de filmes biográficos de grande dimensão têm de ser forçosamente produzidos e idealizados pelas mentes de Hollywood, podem ter muitos defeitos e até podem fazer biografias com alguns lapsos mas verdade seja dita que sabem montar obras imponentes deste género.
ResponderEliminarEu acho que ambição tem, o que lhe falta mesmo é concretização. Mas concordo, Hollywood com todos os defeitos que lhe conhecemos talvez estilizasse demasiado Chanel mas faria certamente uma obra com outra imponência.
ResponderEliminarChamaste costureira a Coco Chanel?
ResponderEliminarPessoas como tu é que são mesquinhas
pessoas que nunca irão atingir o que esta mulher atingiu, porque es apenas uma mulher mesquinha, indiferente e inutil, nao chegando aos pes de Coco
Em tudo de acordo...se bem que acrescento um ponto extra: ao vermos o filme e apesar da interpretação poder ser variável, temos uma "Coco" altiva e que não olha a meios...no entanto essa visão é até bastante soft se a compararmos com a apresentada no livro onde encontramos uma mulher mais dura se bem que mais de acordo com a realidade...e preenchida de pormenores que o filme, como já vem sendo costume das adaptações cinematográficas, deixa de lado tornando a história de uma mulher com uma vida extremamente preenchida num simples percurso....muito aquém das expectativas o filme...
ResponderEliminarAcho que faltou ortografia.
ResponderEliminarPorém, coloquialmente, falou bem.
ResponderEliminarNão achei abaixo das minhas expectativas quanto ao dito acima. Sinceramente, esperar por algo não prometido ou sem que sequer tenha-se prumado a esse algo e depois de não obtê-lo detonar com o todo é algo puramente sem conteúdo e bom senso. O filme desde o roteiro, passando por entrevista durante a produção e pós-produção, até o mais popular, que é a sinopse, não se propunha a um retrato da vida da Coco Chanel por inteiro, simplesmente avant... e acho que o fez - montagem simples, como se era proposto, também, coerente ao disposto duma vida miúda e com grandes expectativas. Um bom retrato da vida de Chanel antes da consolidação desse nome; claro, sem sobressaltos inspirados, porém bem feito.
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