Crítica - La Journée De La Jupe (2008)


Realizado por Jean-Paul Lilienfeld
Com Isabelle Adjani, Denis Podalydès, Yann Ebonge, Sonia Amori

“La Journée de la Jupe” é uma interessante co-produção francesa e belga que tem como principal tema reflectivo o estado da educação (social e escolar) actual. Seguindo o mesmo comprimento de onda do recente “Entre les Murs”, esta obra de Jean-Paul Lilienfeld pretende lançar mais uma vez um sério debate sobre os problemas do sistema actual do ensino escolar, bem como a preocupante rebeldia e falta de respeito que parece cada vez mais assolar os jovens. Já por algumas vezes manifestei aqui a minha sincera preocupação pela rumo que a educação está a tomar, e sinto um enorme júbilo por verificar que outros partilham a minha consternação. Filmes como “Entre les Murs” e este “La Journée de la Jupe” são importantíssimos, não apenas para divulgar a séria problemática, mas também para obrigar toda a gente a reflectir e a chegar à conclusão de que algo tem urgentemente de ser feito. Pois o que está aqui a ser discutido é o futuro da humanidade.
“La Journée de la Jupe” conta-nos a desesperante história de Sonia Bergerac (Adjani), uma professora na casa dos 30 anos de idade, que se vê confrontada com a constante incapacidade de dar uma simples aula sem que os seus jovens alunos a insultem ou manifestem um perfeito desrespeito pela sua autoridade. Num dia como tantos outros, Sonia confisca uma mochila a um dos alunos e, para seu terror, verifica que uma pistola se encontra no seu interior. Confrontada com os avanços ameaçadores do aluno em questão e com toda a rebeldia que se forma na sala de aula, Sonia decide impor novamente a ordem (e salvar a sua pele) da única forma possível: apontando a arma aos insubordinados jovens e obrigando-os a, por uma vez, obedecerem às suas ordens. Obviamente e apesar de ter muita razão e nenhuma culpa, Sonia é imediatamente acusada de sequestrar os “pobres” meninos e assim desempenhar o papel de má da fita quando as brigadas de intervenção chegam à escola.


Estamos perante um filme corajoso e perturbador. Corajoso porque não entra em jogos de moralidade dúbia e perturbador porque, custe o que custar a todos os optimistas que leiam isto, demonstra uma realidade muito verdadeira e pertinente. Perante um bando de “terroristas” que só se preocupam em armar-se em bons e dizerem que os estudos são para os marrões, Sonia perde a cabeça e vê-se obrigada a dar a aula da única forma possível: de arma em punho.
É imperativo que se organizem viagens de estudo com os jovens, para que eles possam ver a figura que por vezes fazem e reflictam no rumo que as coisas estão a tomar. Estamos no ponto de ruptura, onde todas as liberdades e direitos são concedidos aos alunos e não se lhes exige nenhuma obrigação ou dever. Emprego algumas palavras duras porque me preocupo com estas questões e vejo claramente que algo está errado. Filmes como este nunca são demais, até porque “La Journée de la Jupe” aborda também outro tema muito em voga por causa do novo livro de Saramago: a religião e os seus perigos para o bom funcionamento da sociedade. Esta obra de Lilienfeld demonstra claramente como as diferentes religiões e seus preconceitos prejudicam a paz entre os seres humanos, tornando-os seres hipócritas e cruéis.
A quem os tiver, abandonem os vossos preconceitos quanto à qualidade de filmes de língua não-inglesa (isto porque quando o filme começa ouve-se sempre alguém dizer “O filme é francês?! Estamos tramados!”), e dêem uma oportunidade a esta produção franco-belga. Pois verdade seja dita, estamos perante um dos mais ambiciosos e originais filmes do ano. A não perder!

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

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6 Comentários

  1. Acredito, sinceramente, que o filme merece uma oportunidade, embora considere que este rodeado por uma certa aura de lugar-comuns. Ainda assim, considerei interessantíssimo algo que li, a respeito de "La Journée de la Jupe" - alguém a dizer que, para a entendermos, a professora tinha que ser filmada todos os dias.

    Abraço e bom texto

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  2. Eu, embora respeite a tua opinião e a qualidade da crítica, discordo em absoluto das considerações sobre o estado do ensino que são apenas utilizadas pelo seu lado mais sensacionalista e quanto à religião ela sempre existiu em todas as sociedades e em todas as formas indepentemente do Saramago gostar ou não que aliás é só uma coisa que só lhe pode interessar a ele. Eu não vi este filme mas conto ver. Receio é que saia de lá, como normalmente acontece neste tipo de filmes, com uma enorme sensção de revolta por se ficcionar tanto a realidade e ainda por cima isso convencer as pessoas. Sensacionalismo. Mas gostei da tua crítica.

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  3. quero dizer que a critica do Rui, coincide exactamente com o que consegui após 3 dias de ter visto o filme sintetizar em termos de análise.
    A relegião, a crença é para os espaços a ela destinados, a igreja,a mesquita e casa ou qualquer espaço criado para tal culto.
    Não na escola.
    Teresa B.

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  4. Minha opinião é suspeita pq trabalho nuam escola e foi com espanto que vi no filme a realidade retratada com fidelidade.
    É exatamente assim nos dias de hoje em muitas escolas.
    E um dos pontos altos dos filmes é algo citado por Teresa B, os alunos não deixam suas crenças/opiniões qd vão p/ a escola pq não são pessoas divididas, ainda não conseguem fazer (ou nunca lhes foram exigidos isso) esta separação. A escola hoje é 30% refúgio, 40% de bullying e sobram lá míseros 30% p/ a educação.
    Daí, eles nos chegam cheio de traumas, violência, raiva, "N" coisas trazidas de fora e queremos, otimistamente, lhes enfiar Moliere goela abaixo.

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  5. Olá Rui, Escrevo do Brasil. Estou muito impressionada com o filme, penso que aborda todas as questões de uma crise social pós-colonial quase impossível de ser equacionada. Mas a situação da mulher que da nome ao filme, toma a proporção significativa quando adolescente pega a arma para proteger a professora e desabafar toda a opressão que as mulheres sofrem, as coisas que viu na sua família e no dia a dia da escola, ela resume em uma fala: “eu não quero que este sequestro termine nunca!” aproveito para divulgar um curta metragem que dirigi aqui no Brasil, Chama Da Janela e aborda a violência contra a mulher.
    http://filmedajanela.blogspot.com.br/

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  6. Vi pela segunda vez este filme, que acho óptimo, e gostava de acrescentar alguma coisa ao 1º comentário. Embora se passe numa escola, acho que o tópico principal do filme não é o estado da educação, a falta dela ou o respeito pelos profesores, mas sim a intolerãncia e a ignorância no que respeita a religião e o género. O que aqui é gritante.

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