Crítica - Dancer In The Dark (2000)

Realizado por Lars von Trier
Com Björk, Catherine Deneuve, David Morse

Este filme conta a história de uma imigrante checa nos EUA, Selma (Björk), que, durante os anos sessenta na América rural, tenta a todo custo e quase cega juntar dinheiro para pagar a operação aos olhos do seu filho que padece da mesma enfermidade. No entanto, o seu senhorio e vizinho, Bill Houston (David Morse) interpõe-se no seu caminho, obrigando-a a cometer um crime de que nunca julgou ser capaz e pelo qual terá de pagar duramente. Este argumento é bastante débil, o miserabilismo é enjoativo o que quebra o impacto emocional dos momentos mais fortes. No entanto, o facto de tal argumento ser o pretexto para a criação de um musical avant-garde, com música e interpretação de Björk num dos melhores momentos da sua carreira, dá toda uma nova dimensão à película. Selma mal vê mas ouve, e a sua construção do mundo é musical, é pela música que fantasia a realidade, expressa emoções, sonha com a felicidade dos musicais de Hollywood.
Ainda que aprecie o trabalho de Lars von Trier e Breaking the Waves (1996) seja um dos filmes que mais me marcou enquanto espectadora, o seu apreço por figuras femininas que levam a abnegação aos mais profundos limites da estupidez – Selma, nesta obra, e Bess, em Breaking the Waves, - transformam os seus filmes em observações de profundo desequilíbrio mental. Mais uma vez é recuperado o atrofiado ambiente rural como moldura de um cérebro sem grandes horizontes, usando-se uma fotografia muito bem conseguida com planos e montagens que sustentam a desejada tensão emocional. Björk constrói a sua personagem de forma sólida, apesar de todas as incoerências da figura, e é muito bem apoiada pelo desempenho de sempre soberba Catherine Deneuve no papel da sua melhor amiga, Kathy. O filme foi na altura da sua estreia muito bem recebido pela crítica, tendo garantido a Björk o galardão de Cannes para Melhor Actriz e a Lars von Trier a Palma de Ouro. O filme foi ainda nomeado para o Óscar de Melhor Música Original que injustamente não chegou a receber.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Quais são as incoerências da figura? Achei o desempenho de Björk fenomenal. 'Dancer in the Dark' poderá ficar recordado como uma das mais intensas e genuínas experiências do cinema universal e em particular da singular mestria de Lars von Trier.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  2. As incoerências da figura são a passagem de uma espécie de atraso mental ou pelo menos uma certa simplicidade de espírito, antes de ser presa, para uma enorme clareza de pensamento, depois de estar na cadeia. Por outro lado, não me impressionam com facilidade este tipo de filmes que recorrem ao coitadinhismo para criar uma pretensa poesia. Os verdadeiros dramas encontram-se na vida corrente, nas pessoas correntes. O filme vale bastante, sim, pela música da Björk e a sua perfeita intrusão na narrativa.

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    1. Não é raro que uma pancada te clareie as ideias, na vida real inclusive. Incoerência nenhuma.

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