Crítica - Devil (2010)

Realizado por John Erick Dowdle
Com Chris Messina, Logan Marshall-Green, Jenny O’Hara, Bojana Novakovic

Juntemos cinco personagens anónimas num claustrofóbico elevador de um imponente arranha-céus. Brindemos essas personagens com a inesperada e demoníaca visita do próprio Diabo das profundezas. Com jeitinho, adicionemos ainda uma realização serena de John Erick Dowdle (realizador de “Quarantine” – o remake de “[REC]”) e um argumento com claras influências do visionário M. Night Shyamalan (realizador, produtor e argumentista que dispensa apresentações). Agora misturemos bem os ingredientes com uma colher de pau em formato de cruz invertida. Esta bem que podia ser a receita para o bolo da avó mais maléfico de todos os tempos. Mas não. Muito simplesmente, esta é a estrondosa receita para “Devil” – um dos mais surpreendentes e inteligentes filmes dos últimos anos.
A narrativa põe-nos na pele de cinco personagens que estão prestes a viver o acontecimento mais aterrador das suas vidas. Sem desconfiarem de nada, um mecânico (Marshall-Green), uma senhora idosa (O’Hara), a esposa do dono do arranha-céus (Novakovic), um guarda desse mesmo edifício (Woodbine) e um vendedor de colchões (Arend) entram no elevador número 6 para rumarem aos seus respectivos afazeres. Todos eles escondem um segredo. Todos eles têm o seu passado manchado por pecados incorrigíveis. E neste dia aparentemente normal, neste estreito elevador de um edifício como tantos outros, o Diabo irá atormentá-los até à exaustão, ceifando-lhes sadicamente a vida como forma de castigo por uma existência imoral e repleta de pecados. Aos poucos, cada um deles começa a perceber que algo de muito errado está a acontecer. Confuso e desesperado, o detective que acompanha o caso (Messina) sente-se impotente por nada poder fazer para os ajudar. E, atafulhados num cubículo fechado, cada vez mais aterrorizados com o que lhes está a acontecer, os sobreviventes terão de lutar contra a própria natureza humana para poderem escapar com vida a esta infernal provação.


“Devil” é o primeiro tomo de uma saga que adoptou a designação de “The Night Chronicles”. Como este nome indica, esta será uma saga composta por crónicas saídas da mente fantástica de M. Night Shyamalan, um pouco ao estilo de um bom livro de contos fantasmagóricos. E se as obras que se seguem tiverem tanta qualidade como este “Devil”, “The Night Chronicles” poder-se-á transformar numa saga digna de respeito. Confesso que saí da sala ligeiramente assombrado com o que tinha acabado de visionar. Quanto mais não fosse por se tratar de uma história com o cunho de Shyamalan (um dos meus cineastas de eleição), as minhas expectativas eram relativamente elevadas. Digamos que, no mínimo, estava bastante curioso. Mas muito sinceramente, não estava à espera que “Devil” desflorasse à frente dos meus olhos como uma obra de categoria tão elevada. Tal como referi no início do texto, este é mesmo um dos thrillers mais inteligentes e acutilantes dos últimos tempos. Há muito tempo que não via um thriller do género fantástico que não se espatifasse numa desavergonhada torrente de clichés e narrativas terrivelmente previsíveis. Filmado a cem à hora (no bom sentido da expressão) e com uma maturidade de excelência, “Devil” agarra nos olhos do espectador, enrola-os em fita adesiva e cola-os à tela com uma destreza de que poucos filmes se podem gabar.


Mas vamos por partes. Pegando exactamente na narrativa (escrita por Brian Nelson, mas saída da mente de Shyamalan), é justo dizer-se que “Devil” nunca deixa o espectador adormecer à sombra da bananeira. O ritmo do filme é absolutamente frenético e não existe uma única cena que ali esteja, pura e exclusivamente, para encher chouriços. Todas as sequências são importantes; todos os acontecimentos revelam mais um pormenor que adensa o mistério e espicaça a curiosidade; e tal coisa apenas abona em favor da qualidade geral da película. De forma sempre equilibrada e sem cair no irrisório, a narrativa de “Devil” progride no tempo e o espectador nunca deixa de acreditar nas personagens e na veracidade da terrível situação em que elas se encontram. E isto é algo de uma importância extrema. Algo que pode fazer a diferença entre um bom filme e um filme meramente esforçado.
A realização de John Erick Dowdle é também merecedora de destaque. Um dos grandes desafios de Dowdle era fazer com que o público não saísse da sala com o desejo de que houvesse sido o próprio Shyamalan a dirigir a película. E de forma algo surpreendente, por incrível que pareça, Dowdle conseguiu até fazer esquecer o famoso realizador de origem indiana (apenas até certo ponto, pois ainda assim, o odor de Shyamalan está bem entranhado na fita). Para além de fazer o espectador sentir toda a tensão e todo o pânico que as personagens estão a vivenciar, Dowdle filma também as sequências de intervenção do Diabo com uma mestria de quem idolatra a face mais artística dos filmes de terror. Quando as luzes do elevador começam a piscar, o espectador sabe imediatamente que algo de temível vai acontecer. E quando toda a sala de cinema fica às escuras, o espectador tem o prazer de escutar o medonho trabalho do Diabo em acção, em sequências que têm o dom de evidenciar aquilo que de melhor este género cinematográfico tem para oferecer.


De certa forma, “Devil” é um conto moral sobre a complexidade da alma humana. O asfixiante elevador número 6 assume contornos de autêntico Purgatório e o Diabo trata de castigar aqueles que se mostram pecaminosos, arrogantes e egocêntricos. Ambos os lados da alma humana – o negro e o iluminado – são postos à prova, naquela que é uma das obras mais interessantes e bem arquitectadas dos últimos anos. Aponto-lhe apenas uma nota de ressalva: a forma como se embebe no cliché dos mexicanos religiosos era perfeitamente escusada. Estão agora com a mania de arranjar mexicanos que, através das histórias das suas avozinhas, arranjam sempre uma explicação para o que se está a passar. Já vimos isto em “Drag Me To Hell” e voltamos a vê-lo neste “Devil”. Como se quisessem esconder o facto de que o povo americano é tão ou mais religioso/supersticioso que o mexicano, esforçando-se por dar aquela ideia de que os americanos são já demasiado evoluídos para acreditarem em contos da carochinha… Mas enfim, ignorando este pequeno pormenor, “Devil” não tem muito por onde desiludir. E para gáudio dos fãs de Shyamalan, esta é também uma obra que vem comprovar que o realizador de origem indiana continua a ser um magnífico contador de histórias. Doa a quem doer.

Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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15 Comentários

  1. Fui ver o filme hoje! Bem para quem não o viu aconselho vivamente. O filme está muito bem filmado e envolvente. M. Night Shyamalan nos últimos dois filmes baixou um bocado a fasquia mas neste subiu para o nível merecido deste realizador original e único!
    A representação está soberba, mediante um cenário como um simples elevador Shyamalan consegue fazer um filme de nos colar à cadeira, cortar a respiração e nos deixar boqueabertos com o desenrolar da história, que para mim está 5*.
    Como aqui cotado 4,5* em 5*, estou da maior opinião!
    No seu género, só não é perfeito porque a mass-media americana quase que crucificou este fabuloso realizador, mediante as duas últimas prestações, esquecendo os seus anos de LUZ.
    6º Sentido
    O Protegido
    Sinais.
    Tenho todos os filmes do M. Night Shyamalan e este é um Most Wanted na minha colecção!
    Filme Obrigatório.

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  2. Fico muito contente por saber que as opiniões de pessoas da blogosfera que respeito imenso, têm sido muito positivas com este Devil. Tinha confiança que a influência do realizador indiano (sou grande fã) nesta história fosse um ponto forte. Ainda não o vi, mas estou esperançado que vá gostar.
    Excelente crítica, devo dizer.

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  3. Vou falar uma coisa: os únicos filmes de horror que me causam forte impressão mesmo depois que termino de assistir, são filmes relacionados a satanismo e capetices em geral, mas veja bem, têm que ser bem arquitetado e produzido, pra me assustar. Pois no caso de Devil, não ficamos só apreensivos temendo pela vida dos inocentes envolvidos, mas ficamos realmente apavorados com a manifestação do chifrudo, a forma como é representado. E neste filme, a personificação do mal está impressionante, coisa que não vejo há anos.
    O último filme em que o vermelhão me assustou só com a sua presença, foi a versão original da profecia. Pois freqüentemente, me empolgo com filmes de horror, fico tenso, temo pela vida dos personagens, mas não me apavoro com os vilões, mas em filmes como Devil, a história é outra.
    Podemos ver mil e um filmes de assassinato, zumbis, monstros, mutantes, serial-killers, mas nenhum deles “cola” na nossa cabeça como o coisa-ruim, pois desde criança, somos mergulhados na “cultura religiosa”, onde tudo é bem definido: o bel e o mal, os bons e os ruins, o crime e o castigo. Portanto, a maldade está dentro das nossas crenças desde que nos lembramos por gente; naturalmente, nos assusta mais um filme de horror que tem como personagem principal, a personificação daquilo que tememos pela vida inteira, ainda mais se for bem mostrado, descrito, exposto na tela.
    Devil é um filme às antigas, na minha opinião; filme que deixa a gente com um “medinho” de andar sozinho dentro de casa no escuro, logo depois de assistir. Pois falo ,e repito: psicopatas, canibais, vampiros, nada disso faz parte do nosso subconsciente e nos apavora na vida real, mas a manifestação do mal, sim.
    Devil, é um filme assim: fala daquilo que sabemos que existe, mas nunca vimos realmente, e só esta idéia de usar de um personagem que vive em nosso imaginário coletivo, e transportá-lo de forma assustadora para a tela, já é o suficiente para fazer com que Devil atraia e ao mesmo tempo cause repulsa em nós; a moral do filme, eu digo, e não é spoiler: é culpa. A culpa nos faz com que tornemos escravos do mal. O filme, no fundo, fala de algo que as igrejas nos ensinaram a vida toda: a importância do arrependimento. Falo isso sem ser estraga-prazeres, pois só mesmo no final do filme, as pessoas entendem o que estou dizendo agora.
    Não é um simples filme pra “descobrir quem é o assassino”, isso é muito medíocre pra referir-se a Devil. No desenrolar da trama, ficamos confusos, vemos reviravoltas incríveis, tudo através dos acontecimentos e diálogos FORA do elevador. A personalidade e vida de cada um dos que estão presos, é destrinchada e explicada pra nós e pro investigador, nos fazendo mudar de direção o tempo todo nos pensamentos, e quando o foco vai pro elevador, é pura tensão. Cada vez que as luzes do fosso apagavam, eu ficava tenso, imóvel, nem conseguia dar um trago no meu cigarro.
    Shyamalan agora, voltou a ser meu produtor top de linha preferido, fazendo um filme genuinamente de horror; não horror com tortura, mutilação, cenas nojentas; mas horror na sua essência: o mal como centro da história.

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  4. Pessoal, leiam um pouco mais sobre cinema e aprendam um pouco mais. Esse tal de Shyamalan é um verdadeiro embuste. Mas... como tudo que vira moda ganha o respeito do público, não importando o fator 'talento' na maioria das vezes, fazer o quê? Vamos pelo 'mediano' e tá tudo bem. Chamar esse fulano de 'visionário' é um pouco demais.
    Marcos - São Paulo - Brasil

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  5. Putz grilo, tinha que ser um brasileiro - e de São Paulo - para dar palpite ruim sobre cinema. O Shyamalan é um grande contador de histórias. Demônio revigora o gênero de filme sobre o Mal e o Diabo sem apelar para a sanguinolência tipo Tarantino. Esse Marcos de São Paulo deve ser mais um lambe saco do Tarantino. Fernando José - SP

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  6. Um bom filme, soh isso, nao achei nada demais além disso, quanto a ter medo, ah pelo amor nenhum.

    Se alguém teve medo vendo esse filme, o que dizer se visse por exemplo gritos mortais, dae morria do coraçao, INFARTO. hahahahahahahahahaha

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  7. Fui assistir o filme pra relaxar e dormir. Péssima idéia.

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  8. Caramba, vocês viram o mesmo filme que eu?

    Esse filme nada mais é do que um ERRO cinematográfico transmutado em bosta fumegante de quase 2 horas.

    O filme é PÉSSIMO. As atuações são RISÍVEIS - a reação dos atores dentro do elevador são completamente irreais... extremamente calmas para a situação... um deles é CLAUSTROFÓBICO, mas só sabemos disso porque ele conta... suas reações são ridículas em contraste ao contexto -

    A direção é completamente previsível (sempre sabemos quando alguém vai morrer) e os únicos sustos se dão pelo volume elevado e repentino dos impactos visuais (o famoso PAAAAAAM, do nada).

    O roteiro é tenta em vão se amarrar na história rasa e pouco aprofundada dos personagens, e não se prende a nada. Alguns fatos são jogados, "é assim porque é". Nenhum dos personagens ganha carisma durante a obra... As motivações de cada um são inexistentes.. mas tudo isso seria perdoável, se o final fosse pelo menos mediano.

    Mas o final, contrariando os filmes do shyamalan, é COMPLETAMENTE lamentável, quase risível. A "revelação" final é jogada do nada (não há como prever) de uma forma completamente forçada e pouco relevante com toda a história. Quase me dá vontade de contá-los para poupar cada um dessa porcaria cinematográfica. Um dos finais mais broxantes que eu vi em anos...

    Shyamalan já fez filmes excelentes, mas ultimamente vem decaindo miseravelmente. Essa obra foi vergonhosa e me faz temer pelos próximos filmes. Não recomendo. Passem longe.

    PS - Medo? Alguém me explica POR FAVOR, COMO se pode sentir medo em um filme desses? Medo nem é objetivado pelo filme, aparentemente... no máximo um suspense raso e risível.

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  9. um dos poucos filmes que realmente assustam.... gostei muito... não gosto de filmes de terror, geralmente são babacas, fracos, forçados.... os únicos que me impressionaram foram o exorcista, a bruxa de blair, e agora, esse. recomendo.

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  10. filme bem ruim.
    e bom mesmo para quem quiser dormir

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  11. Olá oi. Bom dia. Obrigado pela sinopse. Baixei por torrent e agora vou ver o filme sabendo como que é, obrigado à todos pelas opiniões. Se puder, depois deixo a minha opinião do final.

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  12. Muito bom esse filme pós mostra-nos como o mal pode estar entre nós e nos da a crença em Deus ("se existe o mau então existe o bem")recomendo

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  13. esse foi um dos poucos filmes de terror que assisti e lembro de todos os detalhes, vale muito a pena rs (mesmo para quem não é adepto a filmes de terror rs)

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