Crítica - The Resident (2011)


Realizado por Antti Jokinen
Com Hilary Swank, Jeffrey Dean Morgan, Christopher Lee, Lee Pace

“The Resident” teve honras de abertura do mais recente Fantasporto e terá sido, porventura, um dos filmes que mais indiferença gerou entre os milhares de espectadores que marcaram presença assídua no festival. Nota-se que o realizador finlandês Antti Jokinen tentou fazer desta obra uma espécie de “Psycho” dos tempos modernos. A estrutura narrativa apresenta similitudes que dificilmente se deverão ao acaso, e até a forma como Jokinen opta por filmar as ocorrências dessa mesma narrativa faz lembrar um pouco o cinema que se fazia aqui há uns vinte ou trinta anos atrás. Tivesse estreado algures entre as décadas de 80 e 90, “The Resident” teria grandes possibilidades de se tornar um filme de sucesso. Mas como chega até nós numa era em que as audiências cada vez mais exigem uma originalidade estética e uma frescura de argumentos, condenado fica à vulgaridade, e pior do que isso, ao mais puro e execrável oblívio.


A narrativa leva-nos a conhecer Juliet Devereau (Hilary Swank longe dos seus tempos de glória em filmes como “Million Dollar Baby” ou “Boys Don’t Cry”, mas ainda assim competente), uma médica que, após alguns problemas de índole pessoal e afectiva, se decide mudar para um novo apartamento. O seu objectivo prende-se com o incutir de um novo rumo à sua vida, dessa forma esquecendo as mágoas do passado. Graças a uma série de peripécias, acaba por tomar conhecimento de um fabuloso apartamento que possui uma renda de sonho. Ao visitar esse apartamento pela primeira vez, depara-se com Max (Jeffrey Dean Morgan a tentar marcar posição no seio de Hollywood), o simpático, prestável e galante senhorio, que de imediato lhe disponibiliza o espaço com o maior dos agrados. Sorte de Juliet? Nem por isso. Pois com o passar do tempo, a atarefada médica apercebe-se de que algo de muito estranho se passa em seu redor, acabando mesmo por chegar à conclusão que Max não é exactamente aquilo que parecia ser…
O objectivo deste “The Resident” nunca se prende com o manter de um véu de secretismo ao longo dos 91 minutos da película, para surpreender o espectador com um final que ele não esperava. “The Resident” jamais tenta (e bem) enveredar pela moda do twist final, que não raras vezes apenas confirma aquilo que o espectador já desconfia há uma boa meia hora de fita. Não. “The Resident” acaba com todo e qualquer mistério a meio da película. Daí para a frente, mergulha a audiência num arrepiante ensaio sobre os trilhos da obsessão e da doença psicológica, levando-nos mesmo a questionar se alguma vez seremos capaz de voltar a passar uma noite num hotel com membros de staff inteiramente desconhecidos. Esta obra de Jokinen reflecte sobre a privacidade que realmente detemos numa era contaminada pela fiscalização das novas tecnologias, operada pelas câmaras de vídeo, pelos satélites espaciais e até mesmo pelos chips electrónicos implementados nos nossos cartões de cidadão. Não que, neste filme, a invasão de privacidade seja consumada com recurso a tecnologias de ponta; mas ainda assim, esse é o tema sobre o qual “The Resident” incide e é aí que se encontra a sua maior (e, quiçá, única) força.


Jeffrey Dean Morgan ainda nos consegue incomodar levemente e causar-nos alguns calafrios, com a sua interpretação de uma personagem deveras perturbada. Reside nele e na sua fria e calculista personagem o maior ponto de interesse desta obra. Hilary Swank e Christopher Lee estão também iguais a si próprios; ou seja, seguros e competentes. Mas nenhum deles consegue causar tanto impacto como o seu co-protagonista, tombando previsivelmente em interpretações relativamente banais, que, seguramente, não ficarão para a História como aquelas que melhor exemplificam o seu talento.
Sem pontos fortes de maior, “The Resident” acaba por desabrochar como uma obra de qualidades limitadas e talentos desperdiçados. Uma daquelas obras que serve única e exclusivamente para entreter, mas que nem isso consegue fazer com excelência. A realização de Jokinen não surpreende, o argumento do próprio realizador finlandês e de Robert Orr fica um pouco longe de convencer inteiramente, e para ajudar à festa, tudo encerra ao estilo de um teen-slasher dos anos 80, sem tempo nem vontade para oferecer ao espectador um final decente e conclusivo. Seguramente, uma obra a ver… mas não rever.

Classificação – 2,5 Estrelas Em 5

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