Crítica - Resident Evil: Retribution (2012)

 
Realizado por Paul W.S.Anderson
Com Milla Jovovich, Sienna Guillory, Michelle Rodriguez, Bingbing Li

Oh meu Deus, por onde hei de começar? Talvez deva começar por referir que os primeiros videojogos do universo Resident Evil marcaram a minha adolescência, sendo eu (ainda hoje) um fã acérrimo desses mesmos videojogos. Como tal, posso dizer que me encontro por dentro deste universo, conhecendo estas personagens como a palma da minha mão e amando genuinamente a narrativa aterradora que tanto furor causou um pouco por todo o mundo. Porém, as adaptações cinematográficas do franchise da Capcom ficaram sempre muito longe de atingir as expectativas, pois pouco ou nada respeitavam a alma dos famosos videojogos. Filmes com a marca “Resident Evil” deveriam ser filmes de terror puro e duro. Mas nas mãos de Paul W.S. Anderson (sim, esta é mais uma crítica em que vou desancar no realizador britânico), estes filmes tornaram-se fitas de ação perfeitamente vulgares, repletos de clichés e de opções criativas duvidosas que chegam mesmo a roçar o cúmulo do ridículo. Já há muito que tinha desistido de encarar estes filmes como possíveis obras de horror. Tinha chegado à conclusão de que eram filmes de ação desmiolada para entreter grandes audiências. E encarados dessa forma, pelo menos podíamos dizer que eram minimamente aceitáveis, pois cumpriam os seus propósitos básicos. Todavia, desgraça das desgraças, este quinto capítulo da saga veio dar cabo de tudo. E porquê? Porque é tão mauzinho que nem mesmo como fita de ação se consegue safar. Senhoras e senhores, não tenham dúvidas: “Resident Evil: Retribution” não é apenas o pior filme da saga até ao momento; é também um dos piores filmes de todos os tempos e uma das maiores barracadas que já tive a infelicidade de apanhar numa sala de cinema.


Posso assegurar-vos de que esta fita não tem uma narrativa digna desse nome, pois não possui uma história que flui com naturalidade até atingir um clímax, possuindo antes uma estrutura partida em pedaços que mais se assemelha a uma estrutura de níveis com bosses finais, ao estilo manta de retalhos de um videojogo barato da Sega Mega Drive. No entanto, farei aqui um esforço para vos apresentar uma sinopse possível do enredo, se é que ele existe. Após tantas voltas e reviravoltas (nota-se que Anderson e os seus produtores começam a ficar sem ideias para dar um seguimento credível a este franchise, chegando ao desespero absoluto de ressuscitar personagens antigas…), Alice (Milla Jovovich) vê-se novamente capturada pela Umbrella Corporation, uma empresa multimilionária que se dedica à criação de armas biológicas e que espalhou (acidentalmente ou não, já não se consegue perceber ao certo) o T-Virus por todo o mundo, transformando a população mundial em zombies famintos e desmiolados. Prisioneira de Jill Valentine (a personagem de Sienna Guillory, que costumava ser uma aliada de Alice, mas que agora é controlada pela Umbrella através de um dispositivo eletrónico), Alice sofre variados tormentos na sua cela fria e despida de objetos. Mas é então que Albert Wesker (personagem interpretada por Shawn Roberts, que costumava ser o líder da Umbrella e o principal inimigo de Alice) ajuda Alice a escapar da prisão, aparentemente sob o pretexto de que perdeu o controlo da situação e de que agora precisa da ajuda dela para salvar o mundo (???!!). Assim se inicia uma aventura para escapar da prisão subaquática, e assim se iniciam duas horas de terror para o espectador que acabou de gastar seis euros numa coisa tão miserável.


Os filmes deste franchise nunca foram propriamente fantásticos e dignos dos mais elevados louvores. Mas se os capítulos anteriores eram mauzinhos, este ultrapassa tudo o que se possa imaginar, sendo de uma chungalheira abominável. Que Paul W.S. Anderson era um péssimo diretor de atores, já todos o sabíamos. Mas pelo menos era um realizador que costumava filmar tudo com uma pinta dos diabos, oferecendo-nos sequências de ação de encher o olho e que praticamente compensavam tudo o resto. O problema é que nem as sequências de ação se aproveitam neste “Resident Evil: Retribution”, sendo tudo demasiado falso, forçado e terrivelmente previsível. Anderson quis mais uma vez marcar pontos com sequências que pudessem ser consideradas fixes e estilosas. Mas desta vez teve mais olhos que barriga, oferecendo-nos apenas sequências que não convencem nada nem ninguém, de tão mal pensadas e tão mal construídas que estão. Já criticámos a narrativa inexistente e a realização desastrosa de Anderson. Passemos então à interpretação dos atores, a cereja no topo deste bolo passado do prazo de validade. Muito sinceramente, acho que nunca vi atuações tão pobrezinhas. Até Chuck Norris e Steven Seagal fariam melhor do que alguns destes atores. Sienna Guillory está simplesmente terrível, convencendo menos enquanto vilã impiedosa do que o Pai Natal a fazer de Coelhinho da Páscoa. Bingbing Li (no papel de Ada Wong) não está muito melhor, tendo sido seguramente contratada pelo seu aspeto físico (belíssimo, sem dúvida) e não pelos seus dotes de atriz. E se Shawn Roberts está igual ao que já mostrou anteriormente, então o que dizer de Johann Urb (que aqui faz de Leon S. Kennedy)? Apenas isto: que nos oferece uma interpretação digna de um filme para adultos, tal é o amadorismo da sua atuação. De positivo só encontro duas coisas, e nenhuma delas verdadeiramente relevante: o tributo feito à personagem de Kevin Durand (Barry Burton) quando esta finalmente pega na sua fiel Magnum e a encenação das negas que Ada Wong dá ao frustrado Leon S. Kennedy. Mimos para os fãs dos videojogos, mas coisas sem grande valor cinematográfico, portanto. E quando assim é, só podemos chegar a esta conclusão: teremos que exorcizar os nossos olhos para apagar da memória uma experiência cinematográfica tão pobre e tão pouco satisfatória. 

 Classificação – 0,5 Estrelas em 5

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10 Comentários

  1. A saga live action nunca se revelou muito interessante para mim, daí que prefira os filmes em CGI que foram feitos recentemente (Resident Evil: Degeneration e Resident Evil: Damnation são os seus nomes). Poderão não ser tão bons quanto os jogos, mas ao menos pode-se ver uma fidelidade que não se vê nos live action. Pelo menos, a nível pessoal, claro.

    Continuem com um bom trabalho!

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  2. Obrigado, gostei de saber. Um filme a evitar...

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  3. Já vi o "Resident Evil: Degeneration" e sempre consegue ser mais fiel, sim, apesar de ter um ambiente mais semelhante ao dos últimos jogos do que ao dos primeiros (melhores, na minha opinião). Estes filmes live action são mesmo para esquecer.

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  4. Fiquei mesmo desmoralizada com a tua crítica. Assumo-me como fã das adaptações cinematográficas de Resident Evil, mesmo sabendo que pouco têm a ver com os videojogos... Ainda não tive oportunidade de ver o quinto capítulo, mas agora estou mesmo bastante relutante! Enfim, ver para crer!

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.pt

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  5. Este quinto capítulo é mesmo muito mauzinho, Sarah. Nenhum dos filmes até agora me tinha enchido as medidas, mas pelo menos os capítulos anteriores sempre davam para entreter, graças à ação bem coreografada e ao aspeto visual dos cenários. Neste 5º filme nem isso se aproveita. Parece um filme de série B feito por amadores. Mas esta é a minha opinião, pode ser que aches o contrário. É mesmo ver para crer.

    Cumps,
    Rui Madureira

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  6. não choro o meu dinheiro por uma razão... encarei isto como uma comédia e não um filme de terror/acção

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  7. Bem, fui ao cinema ontem ver o filme... Fiquei sem palavras. Uma verdadeira desilusão, tendo em conta que esperava mais. Mas hoje cresceu um bocado na minha consideração, mas minimamente, só porque idolatrei a banda sonora. Enfim, foi uma das críticas mais complicadas que tive de fazer nos últimos tempos, aliás, quase se deu a lágrimazita no canto do olho. Mas pronto, partilho contigo a minha crítica mais detalhada (http://depoisdocinema.blogspot.pt/2012/09/resident-evil-retribution-2012.html)

    Cumprimentos,
    Sarah Queiroz

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  8. Mesmo assim, ainda conseguiste dar uma nota intermédia, Sarah. Eu não consegui dar mais do que isto. Ainda pensei em dar-lhe uma estrelinha, até porque não gosto de ser mauzinho e nunca tinha dado uma classificação tão pobre a um filme. Mas não deu mesmo para mais. "Resident Evil: Retribution" tirou-me do sério... :s

    Cumprimentos,
    Rui Madureira

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  9. Eu até sou fan da saga (filmes), apesar de nunca ter jogado nenhum dos jogos os 3 primeiros filmes eram bombásticos, no entanto o 4 episodio da serie deixou me bastante desiludido não sei se foi culpa do 3D ou não, mas não gostei. Quanto a este ultimo não poderia estar mais de acordo com o autor do texto, foi dos piores filmes que já vi a roçar o ridículo...

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  10. Honestamente, assumo-me como uma super-hiper-mega-ultra-fã dos filmes (apesar de terem pouco ou nada a ver com os jogos, tirando as personagens) e achei os três primeiros filmes muito bons (provavelmente, é mau gosto mas...). No entanto, eu considero o 4 e o 5 bem pobrezinhos, comparados com os outros. Entretanto, já chegou o 6, que compensou (bastante!). Mais uma vez, pode ser o meu péssimo gosto a falar mas...
    Então, apesar de eu discordar da crítica (0,5 estrelas, a sério?! Acho que não foi assim tão mau...), achei-a muito bem construída e bem escrita! Parabéns! Fiquei viciada no site, adorei! :)

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