Crítica - Carrie (2013)

Realizado por Kimberly Peirce
Com Chloe Grace Moretz, Julianne Moore, Gabriella Wilde

Em 1976, Brian De Palma serviu-se de um dos livros mais memoráveis de Stephen King para criar um dos grandes clássicos do cinema de terror, um dos expoentes máximos do suspense e do thriller psicológico. Com uma performance arrepiante de Sissy Spacek e uma realização inspirada de De Palma, “Carrie” transformou-se rapidamente num dos filmes mais populares do seu tempo, permanecendo vivo até aos dias de hoje. Afinal de contas, quem consegue esquecer os olhos esbugalhados de Spacek num rosto banhado em sangue? É uma imagem brutal, que praticamente se tornou a imagem de marca do filme em questão. Ora, numa época em que Hollywood vive cada vez mais às custas de remakes, uma nova abordagem ao clássico de De Palma era inevitável. Trinta e tal anos depois do original, eis que “Carrie” está de volta às salas para mexer com os nossos estômagos e para chamar a atenção do público para um problema cada vez mais emergente nas escolas de todo o mundo: o problema do bullying. Pois Carrie White (desta feita interpretada pela jovem estrela em ascensão Chloe Grace Moretz) é o modelo perfeito e exemplar da vítima de bullying: uma jovem tímida que não se insere no seu grupo de pares e que é incompreendida por este, o que resulta numa angústia diária que a leva a viver uma existência verdadeiramente infernal. Mas Carrie não é uma vítima de bullying normal. Porque ela tem poderes telecinéticos. E os seus agressores vão pagar a fatura quando forem longe demais…


Já chegámos à conclusão de que o “Carrie” de Brian De Palma funcionou em pleno no seu tempo. A questão que se coloca de momento é a seguinte: será que o novo “Carrie” de Kimberly Peirce consegue fazer o mesmo? A verdade é que não, não consegue. Kimberly Peirce é a realizadora do excelente e agressivo “Boys Don’t Cry”, mas desde essa obra de 1999 que deu um Óscar de Melhor Atriz a Hilary Swank nunca mais fez nada de realmente relevante. “Carrie” poderia muito bem ter sido o seu regresso à ribalta, até porque Peirce tinha à sua disposição uma das atrizes mais conceituadas de Hollywood (Julianne Moore) e uma das jovens atrizes com mais potencial de crescimento (Chloe Grace Moretz). Porém, “Carrie” é francamente medíocre e algo artificial. A película está completamente despida de veracidade porque a falta de atenção aos detalhes faz com que as personagens soem a falso. Para além disso, muitas sequências parecem ter sido filmadas como se Peirce estivesse inserida numa produção de uma telenovela barata, com todas as limitações artísticas e criativas que daí advêm. O grupo de adolescentes que compõe o conjunto de personagens secundárias é sobejamente irritante, com os seus rostos imaculados e as suas roupas da moda. E embora Julianne Moore esteja bem na pele da mãe verdadeiramente louca de Carrie, Chloe Moretz não convence por inteiro na pele da atormentada protagonista. E o problema é que se nota que a culpa não é bem de Moretz. Alguma culpa terá, evidentemente, mas a responsabilidade maior terá de recair sobre os ombros de Peirce e de uma equipa técnica que não foi capaz de transformar Moretz numa Carrie credível. É tão simples quanto isto: Moretz está demasiado bonita e aprumada para convencer na pele de uma rapariga disfuncional a todos os níveis, uma rapariga ingénua, inocente, ignorante e abusada por todos. A Carrie de Moretz deveria apresentar um aspeto bem mais doentio e desajustado, mas como aparece com uns caracóis loiros saltitantes, simplesmente causa alguma estranheza no espectador. Apesar de simpatizarmos com as ações da protagonista, não sentimos verdadeiramente a sua dor porque não cremos que a personagem seja real. A sequência final da vingança de Carrie causa impacto suficiente para nos deixar com um sorriso matreiro no rosto, mas o filme como um todo peca por falta de consistência, como se as diversas cenas fossem peças de um puzzle que não se encaixam nas peças irmãs. Este novo “Carrie” não causa metade dos arrepios do filme original e nunca chega a mexer verdadeiramente com as nossas emoções, razão pela qual fatidicamente se juntará ao grupo dos remakes que mais valia não terem visto a luz do dia.
Classificação – 2 Estrelas em 5

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4 Comentários

  1. Esqueceram de mencionar a versão de 2002 nessa critica aê

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  2. Concordo totalmente, sem contar que o fato da personagem principal aprender a controlar seus "poderes" a deixa com ar vingativo, maléfico. O descontrole da antiga Carrie ainda convence o público de que ela é ingênua, apesar de tudo.

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  3. Sem falar na hora em que ela fala que a avó dela tinha poderes e pulou a geraçao da mãe dela. De onde isso saiu? Eu devo ter perdido a hora que ela descobriu isso.

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  4. "Carrie" (2013): 4*

    "Carrie" é um filme bastante bom e ofereceu-nos um desempenho bastante bom de Chloë Grace Moretz.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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