Crítica - Nightcrawler (2014)


Realizado por Dan Gilroy 
Com Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Bill Paxton


Em "Nightcrawler", Jake Gyllenhaal exibe perante todos o seu gigante talento e brinda-nos com uma magnífica performance como Lou Bloom, um jovem ambicioso que está desesperado por conseguir trabalho e que, por entre a sua procura, descobre o alucinante mundo do crime de Los Angeles. Ao encontrar um grupo de freelancers que filmam acidentes, incêndios, assassinatos e outros casos de polícia, Lou entra no perigoso reino dos seres da noite, onde um toque de sirene da polícia equivale a um possível golpe de sorte e as vítimas são convertidas em dólares. É assim que Lou mergulha num perigoso e extravagante mundo repleto de intensidade e emoção que o fará levar uma vida repleta de adrenalina que, aos poucos, obriga-o a ultrapassa a barreira do observador para tornar-se no protagonista da sua própria história criminal. 
O protagonista deste thriller bem especial é a sua grande estrela. A complexa construção sociopata de Lou Bloom aliada à magnifica performance carismática de Jake Gyllenhaal tornam "Nighcrawler" em algo genuinamente especial e realista, aliás todo o filme gira em torno da particularidade e especialidade desta personagem central que, já de si, é penetrante e empolgante, mas que se torna ainda mais complexa e genuína graças ao trabalho pessoal e especial de Gyllenhaal, um ator que nem sempre é reconhecido pelo seu talento profissional, mas que prova nesta longa que é muito mais que uma cara bonita de Hollywood. É certo que em filmes como "Enemy" (2014), "Prisoners" (2013) ou "Donnie Darko" (2001) já tinha demonstrado a sua capacidade artística e humana, mas o seu papel em "Nightcrawler" poderá, finalmente, valer-lhe a sua primeira nomeação ao Óscar de Melhor Ator Principal, isto após já ter recebido uma nomeação ao Óscar de Melhor Ator Secundário pela sua participação no drama romântico "Brokeback Mountain".



A alma psicopata e psicadélica que Gyllenhaal confere a Bloom é simplesmente indiscritível. A sua performance ajuda a vender uma grande personagem que faz sozinha um grande filme, porque sem as particularidades de Bloom, "Nightcrawler" seria um thriller simples sem nenhuma garra. É o estilo bizarro e diferente do seu protagonista, apoiado claro está pelo carisma do ator que lhe dá vida, que torna este projeto em algo que vale a pena ver e que prende qualquer um ao grande ecrã, porque é simplesmente delicioso acompanhar os progressos de Bloom num cenário já de si caricato e propenso a um clima tenso. É um deleite gigantesco assistir aos desvaneios desta personagem, sejam eles feitos em monólogos ou diálogos, porque todos eles denotam a presença de uma personalidade bem particular a roçar o sociopatismo que é fenomenalmente desenvolvida ao longo de aproximadamente duas horas sem particulares momentos dramáticos ou aventurosos, mas com enormes doses de tensão, suspense e emoção. 
Entre as principais sequências de "Nightcrawler" há que destacar o fenomenal diálogo que a personagem de Gyllenhaal tem com a personagem de Rene Russo num restaurante mexicano e que representa, na máxima forma, a genuína excelência que é a personagem de Gyllenhaal, já que durante cinco minutos, qualquer um fica preso ao magnetismo da lógica extorsionista que Bloom pratica junto da sua companheira de cena. É uma sequência intensa, provocante e deliciosa que certamente será uma das mais magnéticas do ano. A juntar a estas estão outras que também têm como protagonista o socialmente esquisito Lou Bloom, que para além de diálogos extorsionistas dignos de um grande vilão, embarca ainda em planos maquiavélicos e monólogos simplesmente bizarros que dão a este thriller um brilho particular e simplesmente viciante.



Realizado pelo estreante Dan Gilroy, irmão do popular realizador Tony Gilroy e marido da experiente atriz Rene Russo, "Nightcrawler" também é um trunfo técnico e visual. O estreante no cargo mas já muito experiente Dan Gilroy cria um ambiente fantástico que se adequa na perfeição ao surrealismo do protagonista e da sua estranha profissão, que certamente seria desconhecida da maior parte dos espetadores. Para além de filmar objetivamente o mundo que rodeia Bloom, Gilroy também faz questão de evidenciar todos os toques de excentricidade deste protagonista, algo que ajuda este sociopata a crescer junto do filme e do público que, apesar de ter muitas razões para o detestar, acabará sempre por torcer por ele, porque o magnetismo da própria personagem assim o ordena. Embora seja daqueles filmes que, à primeira vista, ninguém dá nada por ele, "Nightcrawler" é uma grande surpresa positiva e um thriller magistral que, claramente, poderá ambicionar a algumas honras na época de prémios que se avizinha.

Classificação - 4,5 Estrelas em 5

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