Especial MOTELx 2018 - Entrevista a Paulo AM Oliveira e Pedro Martins, Realizadores de Calipso

No âmbito da antevisão ao MOTELx 2018, o Portal Cinema lançou um desafio aos realizadores das 12 curtas portuguesas a concurso ao Prémio de Melhor Curta de Terror Portuguesa do MOTELx 2018! O desafio consistia em responderem a uma pequena entrevista sobre o projeto a concurso, a sua carreira e, claro está, os projetos futuros. 11 dos 12 criadores aceitaram esta proposta e apresentamos agora o resultado final. Segue-se uma entrevista com Paulo AM Oliveira e Pedro Martins, realizadores de “Calipso”.

Sobre Calipso



Após terem conquistado o Prémio de Melhor Micro Curta na Edição de 2017 do MOTELx com "Vegan Girl", a dupla Paulo AM Oliveira e Pedro Martins apresentam novamente no MOTELx mais um dos seus projetos: a curta "Calipso". Trata-se de um projeto do género "epidemi/zombie movie" que também aprofunda um drama matrimonial!

Sinopse - Uma epidemia de origem fúngica abateu-se sobre Lisboa transformando as pessoas em zombies. Os cidadãos são fechados nas suas casas, obrigados a um período de quarentena. Esta epidemia veio apanhar Bruno e Sandra numa fase crítica do casal. 




Entrevista a Paulo AM Oliveira & Pedro Martins


1– Antes de explorarmos um pouco o projeto que vem apresentar ao MOTELx 2018, gostaria que me falasse um pouco sobre o seu percurso profissional até ao dia de hoje. Qual a sua formação? E o que fez antes de começar a trabalhar neste projeto?

Paulo AM Oliveira (PAMO): O meu percurso iniciou-se na música e na área da multimédia. Durante anos fui designer gráfico com uma forte atração pelo universo da fotografia e do cinema. Nos últimos anos tenho investido bastante na formação pessoal: fotografia, produção de vídeo e cinema. Mais recentemente conclui o mestrado em Ciências da Comunicação - Cinema e televisão.

Pedro Martins (PM): A minha formação é na área da biologia, com doutoramento na área e investigador pós-doc até à data, mas ao mesmo tempo fui escrevendo contos dentro do género Sci-Fi, Fantástico e Terror, e sempre fui um cinéfilo, com especial queda por filmes do género thriller, horror psicológico e conceptual. Neste sentido fiz também um curso do guionismo (já em 2002) e fui lendo bastante sobre a técnica de escrita de argumentos em paralelo com a minha carreira cientifica especialmente a partir de 2012, altura desde a qual tenho vindo a fazer um percurso no mundo do cinema.


2 – Quais são as suas principais influências cinematográficas? 

PAMO: Sinto-me bastante atraído pelo género de suspense/terror. Existem vários nomes que me inspiram através da sua visão ou da sua estética: Del Toro, Hitchcock, Kubrik, Wes Craven, James Wan, William Friedkin e Cronenberg.


PM: Autores do género Thrillher/horror psicológico, como Hitchcock, Polanski, Brad Anderson, Aronovsky, Jee-Woon Kim e também mestres do género Horror Conceptual como David Cronenberg, Del Toro, , Ferrara. Cinema e estética nórdica são também uma forte influência (Bergman, Trier, Alfredsson). 


3 – Tem algum sonho/objetivo em particular que pretenda alcançar no mundo cinematográfico?

PAMO: Sim, encontrar novos caminhos para difundir o género de cinema suspense/terror em Portugal com reconhecimento no estrangeiro.

PM: Contribuir para acrescentar ideias e visibilidade ao género do cinema thriller/Horror em Portugal, com reflexos externamente, com reconhecimento em festivais internacionais. Talvez um dia conseguir um prémio importante e aproveitá-lo para contribuir para incrementar o investimento no cinema de género em Portugal.



4 – O que o levou a criar “Calipso”? Como o descreve e ficou como idealizou? 

PAMO: O argumento de “Calipso” foi idealizado e escrito pelo meu colega Pedro Martins. Eu fui convidado para realizar conjuntamente este projeto com incidência na parte técnica (fotografia/iluminação) enquanto o PM dirigiu as questões relacionadas com o guião. Fiquei bastante satisfeito com o resultado final, tendo em conta o baixo orçamento, e penso que não poderia ter havido melhor combinação de valências para levar a bom porto o nosso “Calipso”.

PM: Junção de dois estilos que me são muito caros, o thriller psicológico com o horror conceptual. Calipso resulta da fusão dos dois. O tema zombie como metáfora para o drama de um casal, eles sim, um casal zombie, que se arrasta numa situação por resolver. O tema do fungo zombie, simbolizando a morte, decomposição, serviu de enquadramento a um um filme que é mais um drama ou um thriller psicológico que propriamente um filme de terror. Sendo eu mais próximo da escrita, com escassa experiência em realização e sem formação nessa área, fez todo o sentido juntar-me ao Paulo, que trouxe valências complementares às minhas, com conhecimento técnico e muitas ideias para realização, grande sentido estético e vontade de fazer um percurso neste género de cinema. 


5 – O facto de “Calipso” ter dois realizadores, acha que afetou (positivamente ou negativamente) o processo de criação? Ou esta curta não poderia ter sido feita a solo ou, pelo menos não teria saído tão bem?

PAMO: Eu acredito que foi o casamento perfeito. Eu e o Pedro Martins respeitámo-nos muito a nível profissional. O facto de termos interesses, visões e ambições semelhantes facilita o processo de criação e, a meu ver, viabiliza uma excelente  dinâmica de realização conjunta. 


PM: Como referi acima, tivemos valências complementares, eu mais próximo da história e dos personagens, o Paulo mais junto da fotografia, planos, composição, aspectos mais técnicos da realização. Isto no set, onde nos dividimos e complementámos dessa forma, onde eu também tive que tomar conta da continuidade, pois não tínhamos anotador (!). E acho que funcionou bem, apesar de no início ter havido algumas desafinações, dado que nunca tínhamos trabalhado juntos e ambos não temos grande experiência. Mas acabámos por conseguir levar a cabo uma tarefa muito difícil, um filme gravado em dois dias e meio, com imensos planos, complexidade, não foi fácil. 
É um filme de baixo orçamento, onde tivemos que abusar da boa vontade de uma equipa incrível. Antes dos dias de gravação, todo o plano de rodagem foi planeado a dois, mas claro, no set há sempre imprevistos, coisas que mudam, e que tivemos que adaptar. Fez falta mais tempo de planificação, mais uma contingência de filme low budget, onde foi sempre difícil estar a organizar e roubar o tempo às pessoas da equipa técnica. Mas com muita perseverança e sacrifício, eu e o Paulo acabámos por selar uma parceria que já vinha de uma experiência prévia (micro-curta Vegan Girl) e com interesses comuns e uma visão e ambição semelhantes queremos continuar a fazer coisas juntos, limando as arestas do que correu menos bem nas experiências anteriores, crescendo sempre com cada projecto, numa aprendizagem constante, individual e conjunta.


6 – O que pode o espectador esperar e o que espera que ele sinta ao ver “Calipso”? Tem alguma mensagem específica que lhe queira transmitir para o preparar para a visualização?

PAMO: Esperamos que a audiência se sinta desconfortável e intrigada com a história de Bruno e Sandra.

PM: Esperamos que o espectador se sinta pelo menos intrigado com a história, que não saia defraudado da sala, que tenha acompanhado os vários (curtos) momentos e se surpreenda com as variações da narrativa. Não esperamos que o filme seja assustador, se assim fosse tanto melhor.  Se o filme for tenso, agradável de ver e se surpreender já será para nós muito satisfatório.  


7– O que significa a presença da sua curta na Competição Oficial do MOTELx? E perante isto quais são as suas expectativas globais (quer no festival, quer posteriormente) para a mesma? 

PAMO: A presença de “Calipso” no Motelx significa muito para nós. Um dos objetivos traçados pelo Pedro Martins e por mim passava por ter o nosso filme selecionado para este festival. Já tínhamos sentido a verdadeira euforia em fazer parte do Motelx, isto porque no ano passado fomos contemplados com o 1º prémio da Yorn Micro Curta de Terror, com o filme “Vegan Girl”.
Uma das nossas premissas é continuar a escrever e realizar filmes de suspense/terror procurando sempre difundir este género no nosso país e no estrangeiro.


PM: Era o nosso principal objectivo quando fizemos Calipso. Motelx era "O festival" que estava na nossa cabeça. Mais do que estarmos representados em festivais internacionais, é aqui que queríamos estar, até pelo histórico que tem vindo a desenvolver-se da nossa relação com este festival. Primeiro com a Micro-curta "A fêmea" que venceu o prémio de melhor micro-curta em 2016, depois com a "Vegan girl" que venceu o prémio em 2017. Desta vez queríamos estar representados com uma curta-metragem na secção oficial. Não estamos à espera de ganhar nada, participar já é uma conquista para nós. O que esperamos em termos de futuro é aproveitar a visibilidade para desenvolvermos ainda mais trabalhos. Temos muitos projectos e queremos fazer mais e sempre melhor, levando a aprendizagem de cada experiência anterior. É sobretudo isso que queremos retirar de Calipso: a aprendizagem para crescer e continuar este percurso pelo género do thriller/horror em Portugal.


8 – E o que nos pode dizer sobre os seus projetos futuros? O seu futuro profissional passará por Portugal ou poderá haver uma aposta no estrangeiro? 

PAMO: Definitivamente Portugal e estrangeiro! Existem várias ideias e projetos para novas curtas metragens em português e em inglês.  No entanto, não podemos esconder que ambicionamos realizar uma longa metragem que poderá ser pensada para o mercado internacional.

PM: Portugal e estrangeiro. Primeiro Portugal e em português. Mas também temos planos para fazer de raiz um projecto mais internacional, falado na língua inglesa. Depende do tipo de financiamento que precisemos e da dimensão do projecto. Gostaríamos de fazer mais uma ou duas curtas-metragens, mas depois é nossa ambição escalar a etapa de fazer uma longa-metragem.

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