Crítica - Carga (2018)

Realizado por Bruno Gascon.
Com Michalina Olszanska, Vitor Norte, Rita Blanco, Duarte Grilo

Nos últimos tempos, o Portal Cinema deu algum destaque promocional a “Carga”. Não o fizemos apenas por ser um filme português e por gostarmos de apoiar o cinema feito em Portugal, mas também por se tratar de um filme com aparente potencial e, acima de tudo, com um background muito curioso. Por detrás deste thriller dramático está uma equipa jovem e dinâmica que, claramente, tem orgulho no projeto que agora nos apresenta. É também uma equipa determinada, como aliás o são todos aqueles que ousam arriscar e conseguem criar uma longa metragem de ficção em Portugal. Basta aliás olhar para o calendário de estreia e ver quantas longas metragens de ficção portugueses estreiam, em média, por ano nas salas de cinema no nosso país para se ter uma noção do quão difícil é levar a cabo esta epopeia. Não é um processo fácil, mas felizmente começa a ser cada vez mais acessível e, caso se continue nesta trajectória e se mantenha a aposta nesta tendência, não é descabido de pensar que num futuro próximo possamos ver mais longas metragens portuguesas de ficção nas salas. Para além de “Carga”, este ano já tivemos o prazer de ver outras obras independentes de ficção portugueses a conseguirem alcançar bons patamares de mediatismo, como por exemplo, a presença do filme de terror “Inner Ghosts”, de Paulo Leite, no MOTELx, ou o grande sucesso que o drama mais alternativo “Pedro e Inês” está a ter. E isto só para citar os mais recentes exemplos à margem dos géneros estanque de filmes portugueses a que estamos habituados.


Mas voltando a “Carga”. Estava ansioso por ver o filme por tudo o que prometia e não posso dizer que tenha ficado desiludido. Se me perguntarem se é um clássico do cinema moderno ou se, porventura, o colocaria no Top 10 dos Melhores Filmes de 2018 a minha resposta seria negativa. Embora não seja nenhuma grande maravilha do cinema português é, de certa forma, um produto com pés e cabeça que pega num tema ambicioso (tráfico humano) e confere-lhe um tratamento, quer visual, quer narrativo, aceitável. É claro que dito isto sou forçado a concordar, um pouco, com quem diz que o tema principal é explorado com alguma leviandade, isto tendo em conta a sua seriedade. E neste ponto acredito que o vírus do estereotipo de Hollywood acabou por influenciar a abordagem praticada.
Mas no fundo e apesar das suas falhas, "Carga" é um protótipo do que um filme comercial português pode vir a ser, isto é, à margem do género das comédias claro está. É claro que não pode representar o produto final, porque há muito a melhorar, mas pelo menos é uma nobre tentativa de construir algo diferente e cuja fórmula pode ser aperfeiçoada no futuro. Pode servir como um exemplo de que, realmente, é possível criar uma longa metragem de ficção minimamente capaz e que se enquadre num género diferente. Tanto “Carga” como outros filmes do género recém-lançados ou que ainda serão lançados em breve estão, no fundo, a trilhar um novo caminho comercial que tem de ser levado em conta e que pode ser muito importante para a indústria. 

PS - Naquilo que é uma vitória para o Cinema Polaco, tenho que destacar a performance Michalina Olszanska. Não é uma surpresa porque o seu talento já tinha sido evidenciado em algumas produções polacas de elevado gabarito, mas em "Carga" volta a confirmar que é, de facto, um dos valores mais promissores da representação polaca!

Classificação - 3Estrelas em 5

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