Crítica - Vice (2018)

Realizado por Adam McKay
Com Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell

Após surpreender pela positiva com o descontraidamente sério “The Big Short”, Adam McKay volta a surpreender pela positiva com mais um filme de registo semelhante que explora, também de uma forma caricata, um tema politicamente controverso e relativamente recente que marcou a sociedade norte-americana. Após pegar e adaptar em “The Big Short” as histórias reais de várias figuras económicas pouco conhecidas do Grande Público para explorar as peculiares miudezas que deram origem à Grande Crise Imobiliária, McKay decidiu subir de nível e foi atrás da história particular de um grande tubarão político para tecer críticas a uma Administração Presidencial e a todo um Sistema Político. 
Em “Vice”, McKay volta portanto a fazer a sua magia, mas desta vez de uma forma bem mais pessoal e proeminente, já que aborda, perante um registo bastante controverso, o perfil e as atividades políticas de uma das mais polémicas figuras da história recente da política norte-americana: Dick Cheney. É escusado dizer que estamos perante uma cinebiografia não autorizada mas bastante polarizadora de Cheney e, tal como Oliver Stone fez com “W.” (2008), um filme sobre o antigo Presidente Americano George W. Bush, de quem Cheney foi Vice-Presidente, McKay não tem qualquer pudor ou medo de explorar todos os aspetos mais polémicos e negativos dessa figura. É certo que McKay nunca é tão polémico na sua abordagem como Stone foi com a vida de Bush, mas ainda assim apresenta-nos um retrato bem polarizante e nada abonatório sobre esta importante figura da história política norte-americana e, por arrasto, também promove duras crítica à atuação da Administração Presidencial da qual fez parte. 




Mas “Vice” não se foca apenas no lado político de Cheney, já que explora também traços da sua vida privada nos tempos que antecederam a sua entrada para a Administração Bush. São tais traços que se afiguram mais polémicos, já que transmitem um perfil bastante autoritário, negativo e crítico da sua personalidade. Vários aspetos da sua vida privada são levantados sem pudor e alguns pormenores são até explorados sem grande apoio histórico, mas esta abordagem menos convencional e mais a puxar ao sensionalismo acaba por fazer sentido quando se enquadra no espírito crítico e satírico do filme. É certo que é sempre reprovável quando são levantados aspetos pessoais que podem ser considerados falsos testemunhos, especialmente quando falamos de uma personalidade que ainda é viva. Mas é evidente que nunca foi intenção de McKay criar um filme abonatório sobre Cheney e, tendo em conta as polémicas em torno desta figura, tal seria sempre impossível. É claro que “Vice” também não é um filme politicamente neutro, já que a sua história, por virtude de certos exageros e sequências que não são apoiadas em factos históricos, acaba por ser bastante parcial. Mas o que é certo é que consegue, ainda assim promover uma excelente caricatura política de Cheney e essa parecer ter sido sempre a intenção central de McKay. 
O que, em última análise, salva McKay de ataques mais duros sobre a factualidade histórica é que “Vice” nunca entra no campo vexatório, como por exemplo, o já mencionado “W.” entrou.  Em certa medida considero que nunca é ultrapassada aquela linha de insulto fácil e crítica vexatória. Pese embora os salientes ataques políticos e as ironias pessoais que o cineasta faz questão de transmitir, “Vice” apresenta para o salvaguardar um certo requinte quase humorístico na forma como explora a vida e carreira de Cheney. É por isso que, com algum contexto histórico prévio, é possível separar a sátira/ excesso e a realidade do perfil traçado no filme. O que é certo é que, pese embora esta salvaguarda e de nunca ser descrito como uma cinebiografia 100% Factual, “Vice” não teme escapado às críticas de parcialidade, críticas essas que de certa forma são justificáveis por tudo o que já foi mencionado. 
Pondo de parte a controvérsia e o tema, “Vice” apresenta um argumento bem delineado e com diálogos deliciosos que são retratados de forma igualmente deliciosa por McKay. O seu trabalho técnico é, mais uma vez, irrepreensível e o que dizer também da performance soberba de Christian Bale na pele de Cheney? Uma vez mais este estrondoso ator brinda-nos com uma interpretação de grande calibre e, se Rami Malek não tivesse também brilhado em “Bohemian Rhapsody”, seria Bale o grande favorito a levar o Óscar de Melhor Ator para casa. Já na prévia colaboração com McKay, Bale tinha brilhado e, novamente aqui, esta dupla volta a funcionar muito bem. Tal como em “The Big Short”, “Vice” conta também com um estrondoso elenco. Parece ser já uma norma nos filmes de McKay. Para além de Bale esta dramédia é abrilhantada pelas performance de grandes atores, como Amy Adams, Sam Rockwell, Alison Pill ou Syece Carelll (que também colaborou com McKay em "The big Short"). Sem dúvida uma ajuda para elevar ainda mais um grande filme que, pese embora as suas nuances mais polémicas, merece todos os prémios e elogios que tem recebido, assim como a nomeação ao Óscar de Melhor Filme. 


Classificação - 4 Estrelas em 5

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