Na primeira rubrica de Ficção Vs Factos falamos sobre “Bohemian Rhapsody”, um dos 8 Nomeados ao Óscar de Melhor Filme. Nesta 2ª Edição decidimos falar de uma recente estreia nas salas de cinema nacionais: “Mary: A Rainha dos Escoceses”/ “Mary Queen of Scots”, também nomeado aos Óscares da Academia nas categorias de Melhor Caracterização e Melhor Guarda Roupa.
Estamos perante um Filme Histórico que aborda o conflito entre duas das Monarcas mais influentes da Idade Média: a Rainha Elizabeth e Mary dos Escoceses. São vários os historiadores que apontam falhas ao filme que, em muitos pontos, foi muito além da história real de forma a acomodar um maior ímpeto dramático e ficcional. Esta queda para a ficção em prol do realismo acabou mesmo por dar origem a uma das sequências mais fortes do filme, mas tal sequência acaba por representar a maior falha histórica do filme e que, de seguida, abordaremos!
Filme/ Ficção
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Factos/ Realidade
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No filme, Mary, A Rainha dos Escoceses (Soirse Ronan) fala um inglês
perfeito com um sotaque tipicamente escocês.
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Na realidade, Mary falava
inglês mas com um profundo sotaque francês devido às décadas que passou em
França, aliás Mary passou boa parte da sua infância em Terras Gaulesas, tendo
sido enviada para lá pela sua mãe aos 5 Anos.
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Para solidificar a sua posição na Escócia, mas também a da sua família
como Família Herdeira do Trono Inglês, Mary casa-se com Henry Stuart, Lord
Darnley, tornando-se este no seu segundo marido. O casamento acaba por se
desmoronar quando Mary descobre que o Lord Darnley é homossexual e que não
tem interesse nenhum nela. O Lord Darnley é eventualmente assassinado e o
filme dá a entender que Mary nada teve a ver com a sua morte.
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O casamento entre Mary e o Lord Darnley é um facto
histórico, sendo também um facto que os dois não se davam bem e que só se
casaram por conveniência. O que já é mais discutível é a orientação sexual de
e Lord Darnley, mas o que o filme não demonstra é que Darnley era um homem
muito machista e violento. É também um facto histórico que o Lord Darnley foi
assassinado, mas muitos suspeitam que foi Mary a orquestrar a sua morte.
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Numa das cenas mais intensas do filme, a Rainha Elizabeth (Margot Robbie) e
Mary encontram-se, finalmente, num estábulo/lavandaria para falarem sobre o
seu passado e, acima de tudo, sobre o futuro de Mary que, agora, encontra-se
exilada em Inglaterra e pede a Elizabeth a sua proteção
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Tal reunião nunca aconteceu,
aliás as duas Rainhas nunca tiveram nenhuma reunião frente a frente de
qualquer tipo ao longo das suas vidas. Um dado curioso é que, décadas após
a execução de Mary, o seu corpo foi
exumado e sepultado novamente, com honras monárquicas, na Abadia de
Westminster numa campa ao lado do túmulo da Rainha Elizabeth. Embora nunca se
tenham conhecido presencialmente em vida, as 2 Monarcas são “vizinhas” de
Cemitério.
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O filme dá a entender que a Rainha Elizabeth não sofreu qualquer
contestação quando assumiu o Trono e que sempre foi considerada, pelo povo
Britânico, como a legítima governanta de Inglaterra. E, por outro lado, passa
a imagem que Mary sempre teve dificuldades em assumir a sua pretensão pelo
trono da Escócia e que batalhou imenso para conseguir governar a Escócia.
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O filme não mostra que, após a morte do Rei de
Inglaterra, Elizabeth foi declarada ilegítima após a execução de sua mãe, Ana
Bolena, e viveu sob a ameaça constante de execução durante o curto reinado da
sua irmã Maria. Só uma década após o início do seu Reinado é que Elizabeth
começou a ser vista como a Rainha Legítima pelo seu povo e corte. Embora
tenha sentido dificuldades em manter o poder nas vésperas do seu exilio, Mary
não teve grande oposição por parte dos Escoceses quando chegou à Escócia para
assumir o Trono, aliás Mary foi nomeada Rainha da Escócia quando tinha menos
de uma semana de idade. `
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No final do filme, a Rainha Elizabeth assina a Sentença de Morte de
Mary perante os seus Conselheiros, sendo dado a entender que essa era a sua
vontade expressa e que queria mesmo que Mary fosse executada pela sua traição
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Na verdade, Elizabeth assinou
casualmente entre outros documentos a Sentença, não lhe dando grande
importância e nunca a assinou em público. A própria Rainha Elizabeth admitiu
posteriormente que não desejava que Mary fosse executada e que acreditou que
a sentença nunca seria concretizada. Ela resistiu durante 10 anos à execução
Mary, mas a pressão e a manipulação dos seus concelheiros acabou por ditar o
fim da sua companheira monarca.
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