Crítica - The Curse of La llorona (2019)


Realizado por Michael Chaves
Com Linda Cardellini, Patricia Velasquez, Raymond Cruz

Em 2018, o Universo Conjuring, uma das principais apostas da Warner e de James Wan no género do terror, ganhou mais um capítulo bem negativo com o sofrível “The Nun”. O fraco desempenho desta entrega nas bilheteiras, mas também junto da imprensa, manchou ainda mais a já frágil reputação deste Universo Cinematográfico que só mesmo conseguiu convencer com o primeiro filme! 
Pese embora os fracos resultados das mais recentes entregas, os responsáveis pelo Universo Conjuring não desistem do mesmo, nomeadamente o produtor James Wan que está investido em dar a volta aos recentes resultados. É nesse cenário que surge “The Curse of La Llorona”. Inicialmente pensado como um filme separado deste Universo, Wan e a Warner decidiram torná-lo num capítulo spin-off de “The Conjuring”. A decisão tem um claro sentido prático, já que se compreende a intenção de criar uma narrativa global, versátil e expressiva dentro do terror paranormal. No papel trata-se de uma decisão lógica, já que todos já compreendemos aquilo que se pretende retirar do Universo Conjuring, mas será que o conjunto da saga está a ter um propósito lógico e uma abordagem coerente?
Parece que não. Em separado os conceitos que formam este Universo são apelativos, mas a forma como estão a ser misturadas no mesmo bolo não está a fazer grande sentido e, isto, está a prejudicar o nível global da série. Já se sentiu isso com The Nun” e, agora, o forcing que foi feito para colar “The Curse of La Llorona” ao Universo Conjuring revela-se como mais um exemplo da forma atabalhoada como este projeto está a ser conduzido. De certa forma parece que não há grande pensamento por detrás do argumento individual dos filmes, mas sobretudo não parece haver um plano concreto do que se vai fazer a seguir e do que é que a saga realmente precisa. Não há, no fundo, um enredo colectivo. Este não é um fenómeno estranho para a Warner, já que este estúdio tem cometido exatamente o mesmo erro com as suas adaptações dos comics da DC Comics. 
Mas falando em concreto deste “The Curse of La Llorona”. A sua história é baseada na famosa lenda mexicana da La Llorona. Reza a lenda que uma Mulher, num ato de loucura promovido por ciumes, afogou os próprios filhos num rio revoltoso, lançando-se de seguida atrás deles. Devido ao seu ato, a Mulher ficou presa entre o Céu e o Inferno, aprisionada num destino terrível que ela própria originou, estando assim incapaz de alcançar a paz eterna. Estando presa ao Mundo dos Vivos, a Mulher aparece por vezes a Mulheres Desesperadas e quem ouvir o seu choro, durante a noite, ficará amaldiçoado. Mas o alvo deste espírito, apelidado de La Llorona por estar sempre a chorar, são as crianças que ela persegue numa tentativa desesperada de substituir os seus filhos mortos. Esta é a lenda original que, no filme, pouco ou nada é deturpada. E, como já se esperava, "The Curse of La Llorona" coloca frente a frente o Espírito Maligno contra uma Mãe dedicada que tenta proteger os seus filhos dessa grande ameaça, contando para isso com a ajuda de um padre desiludido e do misticismo que pratica para manter o mal à distância. 
A mãe que enfrenta a La Llorona é interpretada por Linda Cardellini. Nos últimos anos, esta atriz parece ter recuperado o brilho de outros tempos, como se viu aliás em "Green Book". Neste seu mais recente projeto também não desilude e, pese embora as poucas potencialidades do filme, consegue dar continuidade à sua onda de performances admiráveis. Cardellini é, sem dúvida, um dos pontos mais positivos deste filme, sendo de longe o elemento do elenco mais imponente e aquele que tenta escapar dos clichés que são anexados à sua personagem. Mas embora seja muito talentosa, Cardellini não opera milagres e pouco consegue fazer contra o poder estabelecido dos estereótipos e da falta de lógica e gosto. 
Pode parecer cruel, mas "The Curse of La Llorona" perde-se nos seus próprios erros e afoga todo o seu potencial e possível carisma mitológico em clichés baratos sem qualidade. É inegável que os seus criadores tinham em mãos uma poderosa e popular lenda mexicana com a qual poderiam fazer ambiciosas maravilhas, mas ao tornarem-no num produto demasiado comercial e moralmente inócuo acabaram por desperdiçar todo o potencial inerente a história da La Llorona. O resultado é portanto um filme de terror sem qualquer sentido de oportunidade ou magia, mas sobretudo sem aquele toque macabro que se esperaria de um filme sobre um espírito que mata crianças inocentes. 
O mais grave é que já se esperaria algo do género. O politicamente correto e o moralmente equilibrado não têm lugar em filmes de terror com inspirações tão macabras. Já o citado "The Nun" falhou no mesmo ponto e, por isso, não era difícil de prever este desfecho. Pode-se até dizer que, comparativamente, "The Curse of La Llorona" até está uns furos acima de "The Nun", mas será isso uma vitória para James Wan e a Warner? Não me parece. O que fica para a memória é um filme seco em tensão e mistério, mas acima de tudo demasiado dependente de sustos fáceis e clichés. É certo que apresenta bons valores de produção, mas isso pouco importa quando o enredo é tão desleixado.

Classificação - 2 Estrelas em 5

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