Especial MOTELx 2019 - Entrevista a Paulo A. M. Oliveira e Pedro Martins, Realizadores de Häuschen - A Herança

Tal como em edições anteriores, o Portal Cinema volta a aliar-se ao MOTELx para vos trazer 10 Entrevistas com os criadores das 10 Curtas-Metragens a concurso ao Prémio Melhor Curta de Terror Portuguesa / Méliès d'Argent. Velhos conhecidos do MOTELx e do Portal Cinema chegou a vez de apresentarmos a entrevista com Paulo A. M. Oliveira e Pedro Martins, realizadores dea curta Häuschen - A Herança



REALIZAÇÃO Paulo A. M. Oliveira, Pedro Martins 
ARGUMENTO Pedro Martins 
PRODUÇÃO Anabela Gonçalves, Carolina Vilardouro 
ELENCO José Raposo, Adriana Moniz, Fernando Pires
EXIBIÇÃO - 14 Setembro 2019 às 00h10 no Cinema São Jorge - Sala Manoel de Oliveira e 15 Setembro 2019 às 12h55 no Cinema São Jorge Sala 3

SINOPSE - Perdidos na floresta, numa noite de tempestade, Maria e Miguel refugiam-se no casebre de um velho lenhador. Aquela cabana parece ser o local ideal para se libertarem todos os desejos, fomes e feitiços. Mas, aparentemente, o velho lenhador de estranhos hábitos não vive só.


Portal Cinema – Antes de explorarmos um pouco o projeto que vem apresentar ao MOTELx 2019, gostaria que falasse um pouco sobre o seu percurso profissional até ao dia de hoje. Qual a sua formação? E o que fez antes de começar a trabalhar neste projeto?

Pedro Martins - Sou um investigador em pós-doutoração e desde cedo venho alimentando o outro bicho que vive dentro de mim – o dos mundos ficcionais, seja pela escrita de contos de sci-fi e horror, ou mais recentemente (desde 2012) com a escrita de argumentos para o cinema. Estrei-me como realizador em parceria com a minha irmã, que foi quem me “desencaminhou” (fizemos “A linha” e mais tarde "Red Queen") e com quem co-escrevi alguns filmes. Depois enveredei pelo género cinematográfico que mais me seduz desde a infância, que é o thriller, o horror psicológico e o conceptual. Em 2016 escrevi e co-realizei a micro-curta “A Fêmea”, que venceu esta mesma categoria no festival MOTELx. Um ano depois escrevi “Vegan girl”, também vencedor- do prémio de melhor micro-curta e criei o argumento de “Calipso” que, em 2018, apresentei com o Paulo Oliveira na Secção Oficial de Competição de Curtas Portuguesas do MOTELx. Este ano voltei com o Paulo, com este filme.

Paulo A. M Oliveira: O meu percurso iniciou-se no design gráfico e rapidamente progrediu para a fotografi e produção audiovisual. Relativamente à formação estou a tirar o doutoramento em Artes onde estou a desenvolver um estudo relacionado com o uso do Audio 360, aplicado à narrativa do cinema de terror/suspense. Na curta Hauschen – A Herança” já é possível ouvir várias composições em audio 360, dando a sensação ao espectador de estar no set das filmagens. Para se ouvir estes apontamentos é necessário auscultadores. A nível de trabalho cinematográfico escrevi, realizei e editei a curta “In(Focus)”, projeto no âmbito do mestrado em cinema e televisão, realizei e fiz direção de fotografia da micro-curta “Vegan Girl”, que ganhou a categoria de Yorn Micro Curtas de Terror MOTELx 2017, realizei com o Pedro Martins a curta “Calipso”, que esteve em competição para melhor curta de terror português em 2018, e este ano voltei, juntamente com o Pedro Martins, para apresentarmos o "Hauschen – A herança”.

Portal Cinema – Quais são as suas principais influências cinematográficas? E, já que estamos a falar no enquadramento de um Festival de Terror, qual é o seu Top 3 de Filmes de Terror favoritos?

Pedro Martins: Gosto de vários autores e estilos, do expressionismo alemão ao existencialismo e hiper-realismo nórdico (Lars von Trier, por exemplo), mas o cinema que mais me influencia enraiza-se em mestres do thriller psicológico (Alfred Hitchcock, Roman Polanski, Darren Aronovsky), do bizarro e do horror conceptual, como David Cronenberg, Lynch ou Vincenzo Natali. Quanto a eleger um top 3 de filmes de terror, é uma tarefa quase impossível mas, mais ou menos em linha de coerência com a corrente que mais me influencia, coloco na lista “Rosemaryʼs Baby”, “Psycho” e “The Shinning”, embora o The Exorcist” merecesse um lugar nesta lista, e custa-me ainda deixar de lado obras-primas como “Alien” ou “Jaws”.

Paulo A. M Oliveira: sou apreciador de vários autores e estilos. Há um, porém, que tento ter sempre como referência: Alfred Hitchcock. Admiro imenso o Roman Polanski, o Guilhermo Del Toro pelo seu realismo mágico, adoro o humor negro de John Landis, fascino-me pelo universo de John Carpenter. Admiro Wes Cr-ven por nos ter deixado um legado de ícones como o Pesadelo em Elm Street e Scream, e gosto do estilo grotesco do Rob Zombie. Isto para nomear alguns. Como eleger 3 filmes num universo tão vasto? Questão difícil...
Psycho (Alfred Hitchcock), The Exorcist (William Friedkin) e Dracula (Francis Ford Coppola).


Portal Cinema 
– Tem algum sonho/objetivo em particular que pretenda alcançar no mundo cinematográfico?

Pedro Martins: Contribuir com novas ideias para dar mais corpo e visibilidade ao cinema do género de thriller/terror em Portugal. Portugal como ponto de partida, mas também como ponto de chegada, porque há muito talento que pode e deve ser canalizado para projectos que saiam fora do “mainstream” da ficção nacional. Se este sonho/objectivo tiver reflexos l3 fora, tanto melhor, mas essa não será a meta primordial. Gosto demasiado da nossa língua (e há tanto por fazer)...

Paulo A. M. Oliveira: Sim, gostaria de realizar e produzir uma série de pequenas histórias de terror, um pouco à imagem do que se fez em 1985 com o Twillight Zone, só que direcionado para o terror. Acredito muito nos novos formatos de programação e julgo que são um bom veículo p-r- promover trabalhos portugueses relacionados com o suspense e terror.

Portal Cinema – O que o levou a criar este projeto? E o projeto final ficou como imaginou? 

Pedro Martins: Diz-se que os filmes de terror são “contos de fadas para adultos” e a verdade é que o meu gosto pelo género do terror surge, em grande parte, da reminiscência de alguns contos tradicionais que povoaram a minha infância. Dos seus temas macabros e ambiências sinistras. São uma constante fonte de inspiração. Foi assim, da leitura mais aprofundada de um dos contos dos irmãos Grimm, sob a prespectiva da psicanálise dos contos de fadas (de Bruno Bettelheim), que partiu a ideia para esta história. Trata-se de uma perspectiva diferente e de uma subversão da história original. Quanto ao resultado final, e aqui falo especialmente como criador da ideia e argumentistista, a verdade é que os filmes raramente ficam como se idealizou no papel. Há imensos constrangimentos, não apenas técnicos e logísticos, mas também de tempo - que é o mesmo que dizer “dinheiro”, porque sem este tudo tem que ser feito em menos tempo. E “Hauschen” foi gravado em dois dias (!), sendo que há sempre coisas que correm mal, planos que não se conseguem fazer, planos que têm que se adaptar, nervos à flor d- pele, etc. Mas dentro destas limitações, acho que se conseguiu muito graças a uma equipa fantásstica que deu tudo para que “Hauschen – A herança” se apresentasse hoje aqui, no MOTELx. E é esta a palavra final que quero deixar: de gratidão e elogio à equipa pelo que se conseguiu.

Paulo A. M. Oliveira: No dia em que o Pedro Martins partilhou comigo o guião fiquei completamente rendido e prontamente imaginei os cenários, as cores e os ambientes que o filme irá ter. Assim, e no que concerne às questões da ambiência do filme julgo ter ficado bastante satisfeito com o resultado final apesar das limitações orçamentais. Partilho da ideia do Pedro que só foi possível fazer este filme graças a uma equipa fabulosa que emprestou todo o seu talento para dar vida - “Hauschen – A herança”. Um grande bem-haja a esta equipa maravilhosa.

Portal Cinema
 – Como criador, como o descreve? O que pode o espectador esperar e o que espera que ele sinta ao vê-lo?


Pedro Martins: É um filme dentro do estilo bizarro, mas não quero classificá-lo ou amarrá-lo muito a uma descrição. Deixo isso para os espectadores, que esperamos que se intriguem e se divirtam, com um susto ou outro pelo meio. 

Paulo A. M. Oliveira: O espectador será um ilustre convidado de um pequeno casebre repleto de suspense, humor...negro pois claro, e umas quantas surpresas especialmente preparadas para ele. O espectador nos dirá como se sentiu.

Portal Cinema – O que significa a presença da sua curta na Competição Oficial do MOTELx? E perante isto quais são as suas expectativas globais (quer no festival, quer posteriormente) para a mesma?

Pedro Martins: Sou adepto do MOTELx e é sempre uma grande honra voltar à secção de competição deste festival. Mais do que as expectativas globais, importam-me as expectativas das pessoas da nossa equipa que vão ver o filme no festival. São os primeiros que queremos satisfazer e recompensar, esperando que vejam o seu trabalho valorizado no ecrã. Claro que o ideal seria angariar alguma visibilidade, a partir deste e de outros festivais, que promovesse o desenvolvimento de projectos futuros. Mas confesso que não faço ideia de como este filme será recebido pelo público e júris dos festivais. Uma coisa é certa: teremos competição feroz no MOTELx, com vários filmes que prometem. Depois do MOTELx esperamos que “Hauschen – A herança” faça um percurso mais ou menos semelhante ao de “Calipso”, mas não apostaremos em tantos festivais desta vez. Vamos sempre aprendendo e cada novo projecto ganha com a aprendizagem da experiência anterior.

Paulo A. M. Oliveira: Sou um grande admirador do MOTELx, pelo que conseguiu a nível nacional mas também pelo que conquistou lá fora, sendo mesmo um dos grandes festivais europeus. Como tal só posso ver esta nossa presença como algo maravilhoso e como uma grande janela de oportunidade para promover o nosso trabalho a nível nacional e internacional. No que me diz respeito tenho boas expetativas para este ano, afinal temos um filme nosso selecionado, pela segunda vez consecutiva, para o Prémio Principal.

Portal Cinema – E o que nos pode dizer sobre os seus projectos futuros? O seu futuro profissional passará por Portugal ou poderá haver uma aposta no estrangeiro?

Pedro Martins: Ideias para novos projectos vão sempre correndo na linha de fundo e, como referi, a aposta será primeiramente em Portugal e em português. Mas estou a estudar o melhor formato para os concretizar, tendo em conta também que o cinema concorre com a minha actividade profissional enquanto biólogo, e com a vida pessoal. Citando Amadeus Mozart, no filme clássico de Milos Forman, “Why donʼt I have three heads?”.

Paulo A. M. Oliveira: Para o futuro tenciono continuar a minha pesquisa de doutormento sobre o som no cinema de suspense/terror, com produção de pequenas estórias em torno desta tecnologia, e conforme já falei aqui, gostaria imenso de realizar e produzir uma série com pequenos episódios de terror.No que diz respeito - Portugal ou estrangeiro, partilho da opinião do Pedro, primeiro Portugal e depois...

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>