Crítica - O Irlandês (2019)

Realizado por Martin Scorsese
Com Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Ray Romano

Quando chegamos ao fim de um filme com três horas e meia de duração e pensamos, para nós próprios, que o tempo até passou rápido e que não demos o nosso valioso tempo por perdido, muito pelo contrário aliás, então é porque estamos perante um grande filme concebido por um grande mestre! Isto para dizer que será difícil para qualquer espectador que veja “O Irlandês”, o mais recente projeto de Martin Scorsese, não compartilhe este sentimento quando termine de visualizar esta obra na Netflix! 
Trata-se de mais um grande trabalho do Mestre Scorsese dentro do registo no qual é tão proficiente e no qual mais gosta de trabalhar. Poucos são aliás os cineastas vivos que sabem produzir filmes tão bons sobre gangsters e crime  organizado como Scorsese, aliás basta olhar para a sua filmografia para corroborar esta afirmação, já que nela encontramos pérolas como “The Departed” (2006) , “Casino” (1995) , “Goodfellas” (1990) ou até mesmo “Gangs of New York (2002).





E "O Irlandês" é um filme puro sobre gangsters e sobre o backstage da máfia! Baseado no romance bestseller de não-ficção  “I Heard You Paint Houses” , de Charles Brandt, esta obra leva-nos numa impressionante viagem pelo mundo do crime organizado no Pós-Guerra nos Estados Unidos da América que tem como principal interveniente Frank Sheeran, um combatente da Segunda Guerra Mundial convertido em assassino a soldo, que trabalhou com algumas das personalidades criminais mais marcantes do século XX e que se viu envolvido em alguns dos maiores mistérios e crimes durante os Anos 70 e 80, como o desaparecimento do dirigente sindicalista Jimmy Hoffa. 
É importante fazer um aviso prévio. Embora seja baseado numa obra de não ficção, "O Irlandês" não pode ser encarado como 100% Factual, já que a obra literária em que se baseia assenta em confissões e relatos dúbios que não podem ser alvo de corroborações externas. Embora seja expectável que exista alguma verdade no seio da sua base narrativa e no retrato que é feito de Frank Sheeran (que existiu mesmo e sempre se auto-classificou como um gangster real), deve-se digerir com cautela toda a informação que o filme nos passa. Um bom exemplo disto mesmo é a saga em torno de Jimmy Hoffa. O mistério que rodeou o seu desaparecimento ocupa boa parte do ato final do filme e apresenta uma conclusão polémica que não pode ser comprovada. É certo que é um relato que faz sentido e que explica muita coisa, mas o mistério mantém-se na vida real e certo é que nunca será resolvido. E para além do Caso Hoffa há outros pontos do enredo que tocam em casos reais que recebem com “O Irlandês” uma explicação que nunca poderá ser corroborada!
Mas polémicas e divergências históricas à parte, “O Irlandês” revela-se efetivamente uma saga muito interessante sobre o backstage do crime organizado na Costa Este dos Estados Unidos da América. Scorsese explora com uma excelência fora do normal a “carreira” de Sheeran, aproveitando pelo meio para dar algumas bicadas políticas que já lhe são inerentes e que Scorsese sabe aplicar aos seus filmes como ninguém. Sem melodramas e excessos, Scorsese oferece exactamente aquilo que se espera de si e do género que tanto adora. E o resultado é um filme direto, real e duro que vence e convence!




Para além de um hábil Martin Scorsese, “O Irlandês” beneficiou também da excelência profissional do seu estrondoso elenco. Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Ray Romano, Bobby Cannavale, Anna Paquin, Stephen Graham, Stephanie Kurtzuba, Jesse Plemons e Harvey Keitel são as principais caras de um elenco fenomenal que confere ainda mais solidez ao filme já de si muito solido e intenso. De Niro, um dos colaboradores mais antigos de Scorsese e também ele um veterano dos filmes sobre a máfia, está soberbo. Que performance gigantesca deste experiente astro que, ao lado de outros dos colossos deste subgénero e da representação (Al Pacino e Joe Pesci), prova que velhos são os trapos e que tem ainda muito para dar a Hollywood. 
Fora isto destaque também para os belos elementos técnicos que se destacam aqui e que ajudam também a maturar este projeto e deliciar o espectador. A fotografia de Rodrigo Prieto, as composições sonoras de Robbie Robertson ou a edição de Thelma Schoonmaker aliam-se na perfeição ao enredo de Steven Zaillian e à realização de Martin Scorsese para transformar esta saga num belo trabalho que poderá colocar a Netflix na rota dos Óscares mais uma vez, após o sucesso que “Roma” teve na última edição. 

Classificação - 4 Estrelas em 5  

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