Covid-19 Está a Precipitar Mudança do Paradigma Cinematográfico! Universal é o Primeiro Estúdio a Tomar Uma Decisão Radical


O que os cinemas tradicionais temiam está a acontecer e bem mais rápido do que alguém poderia pensar. A pandemia da Covid-19, que precipitou o encerramento de milhões de salas de cinema em todo o mundo, está, definitivamente, a pender a balança para um dos lados de uma das guerras cinematográficas mais importantes de sempre: Cinemas Tradicionais Vs Plataformas Streaming. 

A Mudança de Paradigma


Com a pandemia, as plataformas streaming como a Netflix ou a HBO têm vindo a crescer exponencialmente, aproveitando também a quebra dos cinemas tradicionais para ganhar poder económico e, claro está, conquistar novos clientes. Os grandes estúdios de Hollywood, que até à Covid-19 eram os grandes apoiantes dos cinemas tradicionais, foram apanhados no meio da tempestade da pandemia e foram obrigados a olhar com mais atenção e clareza para as plataformas streaming que, de um momento para o outro, transformaram-se na sua principal fonte de rendimento. Até a Covid-19, os estúdios, na sua maioria, olhavam para as plataformas streaming como um negócio com potencial para o futuro mas que, no imediato, poderia apenas representar lucros secundários e onde apenas poderiam colocar os seus filmes após estes serem lançados nos cinemas. Mas a pandemia mudou este pensamento e o streaming parece ter conquistado definitivamente os estúdios que, agora, já não olham para este modelo de negócio como uma oportunidade futura, mas sim como uma oportunidade atual. As paltaformas de streaming poderão conquistar, agora, um lugar de destaque nas estratégias dos grandes estúdios de cinema e poderão começar a representar uma fatia significativa dos seus lucros.

Os Gigantes Acordam Para o Streaming


A Netflix e a HBO, pelo menos nos Estados Unidos, já tem grandes concorrentes criados pelos próprios estúdios de Hollywood que têm aproveitado essas plataformas e a pandemia para testarem uma nova estratégia comercial que poderá acelerar o declínio das salas de cinema. A Walt Disney foi um dos primeiros grandes estúdios a prestar real atenção às plataformas de streaming e, já em 2019, lançou a Disney+, uma espécie de Netflix do estúdio onde só são exibidos, em exclusivo, obras que pertencem ao catálogo Disney, quer sejam séries ou filmes. O plano inicial da Disney era colocar no Disney+ os seus grandes clássicos e aproveitar a plataforma para consolidar o seu lugar na produção de conteúdo televisivo, reservando para os cinemas as estreias dos seus grandes filmes que, posteriormente, seriam lançados em exclusivo na plataforma. Mas o Covid-19 já alterou esta estratégia. A Disney anunciou recentemente que "Artemis Fowl", um filme cuja estreia estava prevista para as salas de cinema mundiais no Verão de 2020, já não será lançado nos cinemas, mas sim em exclusivo na Disney+. É claro que o estúdio ainda planeia lançar grandes blockbusters como "Mulan" ou "Black Widow" nos cinemas, mas a estratégia do estúdio passará por colocar, o mais rápido possível, estes títulos no Disney+ de forma a rentabilizá-los ainda mais. E isso poderá implicar uma concorrência direta com as exibições em salas de cinema.  
Esta estratégia é, para já, uma teoria, mas poderá tornar-se uma realidade tendo em conta os avanços que a Disney já promoveu nesse sentido e os anúncios que já oficializou. Para os cinemas ter a concorrência direta de uma plataforma criada por um dos maiores criadores de cinema do mundo seria, no mínimo, catastrófico, já que acima de tudo mandaria um sinal para toda a indústria que os tempos efetivamente estavam a mudar. Se no caso da Disney as mudanças ainda podem ser consideradas teóricas, pese embora os fortes sinais que foram enviados, na Universal Pictures, outro gigante de Hollywood, o caso já é diferente.
Recentemente um dos executivos da Universal confirmou que, quando a pandemia parar, o estúdio pretende começar a estrear, em simultâneo, os seus filmes nas salas de cinemas e nos múltiplos serviços streaming do planeta, incluindo aquele que o próprio estúdio já tem. Filmes como "The Invisible Man", que teve pouco tempo nos cinemas, ou "Trolls 2", que estreou em exclusivo já em plena pandemia nas plataformas streaming, têm tido muito sucesso neste circuito e levaram já a Universal Pictures a reavaliar as suas opções, como provam as declarações da sua direção. E estas declarações não passaram ao lado dos cinemas, já que a AMC, uma das maiores redes de cinemas do mundo, já veio a publico classificar estas declarações como perigosas para o futuro das salas de cinema, tendo anunciado que vai recusa-se a exibir os filmes da Universal se o estúdio mantiver tais planos. 

A Netflix Continuará Um Gigante, Mas um Gigante Com Rivais


Já se sabia, pelo exemplo de popularidade da Netflix, que as plataformas streaming são um sucesso e têm vindo a alterar a forma como se consome cinema. Toda a indústria está ciente deste facto, apesar de grandes pesos pesados como o Festival de Cannes ou até mesmo a Academia manterem as suas reservas em relação a estes serviços. Mas na generalidade muitos já acreditavam que o streaming representa o futuro da 7ª Arte e que, no futuro, os cinemas teriam que aprender a conviver com esta realidade. Mas todos julgavam que o streaming só ultrapassaria a popularidade dos cinemas e conquistaria mais privilégios daqui a uns bons anos, mas esse futuro longínquo parece ter sido precipitado pela Covid-19 e, agora, o grande ano da mudança de paradigma da 7ª Arte poderá mesmo ser 2020...
Os estúdios viram que, afinal, os espectadores não se importam de pagar para consumir cinema nas plataformas streaming e que isto até poderá diminuir o volume de pirataria. Os estúdios também perceberam que, se calhar, é menos dispendioso e mais estratégico controlar os seus lançamentos em plataformas deste estilo do que em milhares de cinemas espalhados em todo o mundo. E, pelos vistos, parecem ter chegado à conclusão que poderão obter mais lucros se apostarem nas plataformas streaming sem deixar cair a sua política de exibição nos cinemas, mas colocando-as no mesmo nível de prioridade e de regalias, permitindo assim ao espectador escolher como e onde quer ver um filme. 
A estratégia tem lógica e, como já vimos, Universal e Disney deverão colocá-la em prática já este ano, para já na América do Norte, mas certamente que num futuro próximo (talvez 2021) levaram a sua estratégia para um nível global. Estúdios como a Warner Bros, a Sony ou a Paramount, que também já começaram a explorar mais agressivamente este filão empresarial, também poderão seguir os passos dos seus grandes rivais. E claro neste contexto não podemos esquecer a Netflix, a grande impulsionadora e o grande exemplo de sucesso do streaming que, cada vez mais, está a postar numa produção própria e original de conteúdo cinematográfico, sendo já considerada um dos grandes estúdios de Hollywood! E outras plataformas como a Hulu, a HBO ou a Amazon Prime claramente já começaram a prestar mais atenção ao cinema e, num futuro não muito distante, não se dedicarão só à produção de grandes séries e também poderão entrar no grande jogo da produção cinematográfica de grandes títulos!
Se os cinemas tradicionais já estavam com medo das plataformas de streaming, pode-se prever que deverão ter ficado ainda mais receosos com estas movimentações concretas dos grandes estúdios, mas talvez o grande alerta tenha sido a recente comunicação da Academia que, pela primeira vez na história, vai admitir a concurso filmes que nem sequer foram lançados nos cinemas. É uma medida excepcional por causa da pandemia, mas até que ponto é que uma excepção não se tornará uma regra? O que é um facto é que a Academia já abriu essa porta e a questão não é saber se a conseguirá fechar, mas sim até quando é que a manterá fechada...O shift dos festivais de cinema para o online também não ajuda nada à causa dos cinemas tradicionais que cada vez parecem mais sozinhos e isolados numa luta desigual e, embora a sua extinção não esteja em causa, o que certamente acontecerá é a sua perda de importância no panorama cinematográfico e da sua preferência junto do público que consome cinema.

O Futuro do Cinema


As salas de cinema não vão morrer nem vão acabar, acho que isso nunca acontecerá. Mas o futuro chegou e o consumo exclusivo de grandes estreias cinematográficas em exclusivo nos cinemas parece ser uma coisa Pré-Covid-19. O Mundo Pós-Covid-19 promete, a julgar pelos eventos recentes, uma maior dinamização e comercialização do cinema com possíveis perdas para algumas partes do sector é certo, mas nesta guerra quem ficará a ganhar será certamente o consumidor, já que as barreiras da localização e do consumo parecem já estar a ser demolidas...

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