Realizado por Florian Zeller
Com Anthony Hopkins, Olivia Colman
Nomeado surpresa na lista de oito nomeados ao Óscar de Melhor Filme, "The Father" surpreendeu porque se esperava que a sua vaga estava reservada para outros filmes que muitos julgavam ter a nomeação garantida, como "Ma Rainey's Black Bottom", "One Night in Miami" ou "Soul"....Mas foi mesmo "The Father" a conquistar um merecido lugar entre os Melhores Filmes de 2020-2021 para a Academia.
Embora seja o nomeado surpresa, "The Father" não é, nem de longe, nem de perto, um mau filme. Este ano podemos dizer que não há, entre os nomeados a Melhor Filme, uma obra cuja sua presença é discutível. Este filme merece a sua posição, apesar de entre os oito candidatos ser aquele que, porventura, menos "power" dourado tem.
Esta é a primeira longa-metragem do aclamado dramaturgo Florian Zeller. Este seu filme de estreia conta com Anthony Hopkins e Olivia Colman nos principais papéis e retrata a experiência labiríntica e confusa de alguém que vivência demência, centrando-se na dinâmica entre Anthony (Anthony Hopkins) e Anne (Olivia Colman), no momento irreversível em que a relação entre pai e filha se invertem. De idade avançada e com claros sintomas de demência, Anthony resiste à ajuda que a filha lhe quer prestar, levando Anne a questionar até que ponto a dependência do pai deve interferir na sua própria vida e felicidade. Tocando ora o thriller, ora o humor negro, este drama familiar procura explorar o impacto da velhice no próprio e naqueles que o rodeiam, sem esquecer a fragilidade e empatia que caracterizam a condição humana.
Adaptado a partir da premiada peça de teatro homónima de Florian Zeller (Vencedora do Prémio de Melhor Peça de Teatro do Prémio Molière (França, 2012) e do Prémio Tony em 2015), "The Father" conquista o nosso lado mais emotivo. Uma boa parte da sua capacidade de atração reside num argumento brilhantemente redigido por Zeller e Christopher Hampton. Entre os nomeados ao Óscar de Melhor Filme pode ser ate dos filmes menos ritmados, mas tal como o seu rival "Minari", "The Father" conta com uma belíssima tónica familiar e emocional que conquistará qualquer um. O retrato que desenha da demência e de como esta doença afeta, quer quem sofre dela, quer quem o rodeia, é soberbo e dificilmente deixará alguém indiferente.
O crédito pela qualidade desta obra tem também que ser atribuído a um elenco de excelência. Temos que aplaudir à cabeça o enorme Anthony Hopkins. Não estamos a falar de nenhum estreante que tem aqui o seu primeiro grande papel, mas apesar de já conhecermos tudo aquilo de que Hopkins é capaz esta sua performance é, ainda assim, muito surpreendente. Talvez desde o clássico "The Remains of the Days" que não lhe víamos uma performance tão Humanamente delicada como esta. Num ano normal seria um crime não lhe atribuir o Óscar de Melhor Ator Principal, mas tendo em conta que Hopkins já conquistou no passado este prémio (por "The Silence of the Lambs" claro) e mostrar que ainda vai a tempo de conquistar mais um em vida (em 2020 também esteve nomeado ao Óscar de Melhor Ator Secundário por "The Two Popes"), a Academia deverá optar por homenagear o falecido Chadwick Boseman que, no passado, poderia muito bem ter ganho o Óscar por outros papéis...A acompanhar Hopkins está um elenco secundário de luxo, onde Olivia Colman, vencedora do Óscar de Melhor Atriz por "A Favorita" em 2019, acaba por surgir como o complemento perfeito para a performance super dramática de Hopkins.
Como já se disse, no papel, "The Father" é o candidato mais simples ao Óscar de Melhor Filme, mas não se pode confundir a sua bela simplicidade com falta de qualidade, porque qualidade é algo que abunda aqui. Embora seja o menos aguerrido é, sem dúvida, um dos filmes de 2020-2021 que apresenta um dos melhores retratos dramáticos.
Classificação - 3,5 Estrelas em 5
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