Crítica - Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas (2021)

Guillermo del Toro Está de Volta! Veja o Trailer de Nightmare Alley, Thriller Com Estreia Marcada Para Janeiro

Realizado por Guillermo Del Toro
Com Bradley Cooper, Cate Blanchett, Toni Collette, Willem Dafoe

Remake do homónimo filme de 1947 realizado por Edmund Goulding, "Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas" é também uma adaptação do romance homónimo de William Lindsay Gresham. Este remake, tal como o original, conta-nos a história de Stanton Carlisle (Bradley Cooper), um homem ambicioso e carismático, mas com pouca sorte, que ganha o afeto da clarividente Zeena (Toni Collette) e do seu marido Pete (David Strathairn), um antigo mentalista. O casal ensina-lhe os truques do negócio e o trabalho no circo itinerante torna-se também num bilhete dourado para o sucesso que lhe permite usar o conhecimento recém-adquirido para subjugar a elite rica da sociedade nova-iorquina dos anos 40. Com a virtuosa Molly (Rooney Mara) lealmente a seu lado, Stanton conspira para enganar um perigoso magnata (Richard Jenkins) com a ajuda de uma misterioso psiquiatra clínica (Cate Blanchett) que, ao mesmo tempo, poderá revelar-se a mais perigosa das adversárias.

O último trabalho de Del Toro como realizador remonta a 2017, altura em que lançou "The Shape of Water". Foi com este consagrado drama de fantasia que conquistou o Leão de Ouro de Veneza e 4 Óscares, incluindo os de Melhor Filme e Realizador. Será que o seu regresso à direção poderia promover mais um sucesso? As expectativas eram altas, mas mais do que as promessas douradas, "Nightmare Alley" atraiu acima de tudo um nível de curiosidade fora do normal devido a dois pontos muito curiosos. O primeiro é o facto de se tratar de um remake de uma obra da Era Dourada de Hollywood e que ajudou a consagrar o estilo noir. Embora um fracasso comercial em 1947, "Nightmare Alley", de Edmund Goulding, convenceu a crítica e tornou-se num exemplo de qualidade para o género, sendo futuramente referenciado como uma das pérolas do género e uma base de inspiração para a indústria.  O segundo ponto prende-se com o facto deste ser o primeiro projeto de sempre de Del Toro a não apresentar nenhum elemento sobrenatural ou de referência ao cinema fantástico. Sim, "Nightmare Alley" evidencia muitas característica do estilo e do cinema de Del Toro, abordando até elementos bastante esotéricos e excêntricos, mas é o único da sua carreira como realizador a não ter uma presença clara e direta de elementos sobrenaturais. Para além de terem movido uma forte curiosidade, estes dois detalhes acabaram também por estar interligados com o resultado final.

Há que dar mérito a Del Toro por ter arriscado em avançar com um remake de "Nightmare Alley", obra tão importante do estilo noir. Seria sempre um projeto difícil, já que a sua história tem muitos componentes de difícil execução e que nunca poderiam dar azo a um thriller tipicamente comercial. Na sua base está uma forte dose de excentricidade e enredamento narrativo que dificilmente poderia produzir aquele sucesso instantâneo, alias como o original de 1947 comprovou. Embora complexo e por vezes vagaroso no seu desenvolvimento, este remake acaba por fazer justiça ao original e por conferir à obra literária de William Lindsay Gresham um tratamento mais moderno, embora mantendo-se fiel às raízes da primeira metade do Século XX. Tecnicamente estamos perante um trabalho competente que corresponde ao nível de qualidade de Del Toro que, mesmo sem poder dar azo à sua liberdade criativa no que à fantasia e ao sobrenatural diz respeito, conseguiu impingir a uma história já clássica o seu cunho pessoal. 

É injusto classificar este projeto como o mais realista deste cineasta só porque não contém elementos de ficção científica ou fantasia, mas já não é de todo descabido de o classificar como um exemplo claro de como Del Toro consegue criar e viver para além da fantasia. O seu talento e criatividade existem, mesmo sem a fantasia e "Nightmare Alley" é mais uma prova do seu génio e da sua capacidade para contar histórias. É, sem dúvida, um thriller competente que mostra um lado diferente de Del Toro, mas não tão diferente que possa significar uma mudança de paradigma. Há que elogiar o cineasta mexicano por ter aceite este desafio e por ter feito justiça a uma obra que também marcou a sua paixão pelo storytelling e pelo cinema noir.


Classificação - 3,5 Estrelas em 5

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