Crítica Bones & All (2022)



Realizado por Luca Guadagnino
Com Timothée Chalamet, Taylor Russell 

Estreia a 1 de Dezembro o thriller dramático "Ossos e Tudo"/ "Bones & All", novo projeto de Luca Guadagnino, realizador de "Suspiria" e "Call me By Your Name", que teve a sua antestreia mundial no mais recente Festival de Veneza, onde foi recebido com um misto de espanto e aplausos. 
Baseado no livro homónimo escrito por Camille DeAngelis, "Bones & All" conta a história de um jovem casal canibal que sobrevive à margem da sociedade e que se prepara para embarcar numa jornada de mil quilómetros que os levará por estradas secundárias, passagens secretas e alçapões da América de Ronald Reagan. Apesar dos seus melhores esforços, todos os caminhos os levam de volta a passados sombrios e à grande questão final que irá determinar se o amor sobrevive à sua diferença.
Os jovens Timothée Chalamet e Taylor Russell são os dois protagonistas, mas no elenco podemos encontrar ainda vários nomes fortes, como Mark Rylance, André Holland, Jessica Harper, Michael Stuhlbarg, David Gordon-Green, Francesca Scorsese e Chloë Sevigny. Chalamet, que já brilhou com Guadagnino em "Call me By Your Name", volta a presentear-nos com uma performance sólida e dinâmica que assenta numa fluidez sexual e moral a roçar o brilhantismo. É,portanto, mais uma grande prova do talento deste jovem que já o ano passado tinha mostrado também a sua apetência para blockbusters com uma forte performance em "Dune". A sua companheira, Taylor Russel, chegou aqui com uma filmografia menos impressionante, mas confirmou sem dúvida o seu ascendente em Hollywood. Este poderá ser o primeiro passo da sua escalada, sendo por isso um nome a ter em conta nos próximos anos. 
Quanto ao filme em si. É curioso que "Bones and All" nos chegue no mesmo ano em que a série "DAHMER" brilhou na Netflix e deu azo a muita discussão na internet. Para quem não sabe, "DAHMER" é uma minisérie que explora a vida e os crimes de Jeffrey Dahmer, serial-killer norte-americano que confessou ter morto dezassete homens e que ficou conhecido como o Canibal de Milwaukee porque o próprio também admitiu a prática de vários atos de canibalismo. Também "Bones & All" explora a temática do canibalismo, mas de uma forma muito diferente. Fá-lo de uma forma mais romantizada, já que adjudica o canibalismo a uma subespécie da Humanidade e, assim, coloca o ato de comer partes de um ser humano como uma derivação fantasiosa e animalesca da Humanidade. E, assim, os Eaters não são apenas canibais, mas sim uma criatura na mesma posição de seres mitológicos como o lobisomem, o vampiro ou o zombie. O canabalismo não é assim tratado como uma doença, mas sim como uma condição. E isto ajuda a tornar os dois jovens protagonistas em heróis e não em reais vilões, já que não matam por prazer, mas por necessidade, ou seja, quase que dão azo ao circulo da vida tão apregoado pela história do "O Rei Leão". É claro que, como os Humanos, também os Canibais ou Eaters têm nas suas hostes pessoas maléficas e, ao longo da sua jornada, os nossos heróis apaixonados encontram dois bons exemplos disto mesmo. Mas nesta perspectiva, então, a personagem mais maléfica acaba mesmo por ser uma interveniente secundário que acompanha um Eater nas suas demandas canibais sem, ele próprio, ser um Eater, ou seja, é um Humano que é um real canibal.
Embora as personagens de Chalamet e Russell sejam, para todos os efeitos, os heróis afáveis da história, certo é que "Bones & All" vai demonstrando que têm as suas falhas. Os erros que vão cometendo ao longo da sua jornada em conjunto contribuem para um crescimento e desenvolvimento de ambos bastante dinâmico que, no final, aproxima-os ainda mais e dá azo a um clímax muito curioso que acaba por ser o acto que acaba por dar nome ao filme. Tão dramático como a história de Romeu e Julieta, mas claro mais sangrento e extravagante, a grande história de amor Lee e Mareen esteve sempre condenada ao fracasso mas a forma como acaba é muito bem conseguida e merecedor de aplausos. É o final perfeito para um thriller dramático surpreendentemente romântico que confere um curioso twist às típicas histórias "coming of age". 
É certo que o canibalismo confere aquele toque bizarro à história, mas na sua génese "Bones & All" mais não é que um road movie juvenil onde temas como o amadurecimento, o amor, a socialização e a afirmação individual predominam e comandam o desenvolvimento da jornada dos nosso casal bem especial. É, no global, uma viagem muito especial que, certamente, aguçará o interesse do grande público.


Classificação - 4 Estrelas em 5

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