Entrevista a Cynthia Hargrave, a Produtora de Bottle Rocket e Perfume

 
Durante a 9ª Edição do FEST 2013, que se realizou em Espinho entre os dias 24 de Junho e 1 de Julho, o Portal Cinema esteve à conversa com a produtora Cynthia Hargrave, que, num passado recente, coproduziu filmes importantes e relativamente conhecidos, como “Bottle Rocket" (1996), de Wes Anderson ou “Perfume” (2001), de Michael Rymer. A nossa breve conversa com a Cynthia não versou, no entanto, sobre estas suas experiências anteriores, mas sim sobre os seus atuais projetos e opiniões sobre jovens cineastas, que, durante o festival, marcaram presença em força nas suas duas masterclasses.
Casada com o famoso produtor, realizador e guionista L.M. Kit Carson, Cynthia Hargrave não é a habitual produtora norte-americana, que só pensa em apoiar e produzir filmes que rendam muito dinheiro nas bilheteiras. Este não é definitivamente o seu estilo, já que, pelas conversas que teve connosco e com o resto do público do festival, foi possível verificar que ela é uma mulher muito pouco dada aos luxos e às grandes produções de Hollywood. Ao lado de Carson, Hargrave tem apoiado, nos últimos anos, várias produções independentes e substancialmente mais pequenas, sendo o principal exemplo disso o documentário “Africa Diary”, que Carson filmou em África (Moçambique) com um simples telemóvel. É precisamente por esta nova e barata forma de filmar que começamos a nossa conversa com Hargrave, porque ela sempre defendeu que os telemóveis são uma ótima forma de um jovem ou até um experiente cineasta, com poucos meios financeiros, fazer um filme. A produtora até nos confessou, a dada altura, que “os telemóveis acabam por ser mais úteis em certas situações, porque ajudam a quebrar certas barreiras de desconforto, permitindo assim ao realizador filmar de uma forma não tão ensaiada ou forçada”. É precisamente este sentimento de realismo e credibilidade que salta à vista no documentário “Africa Diary”, que, segundo a produtora, foi “inteiramente filmado pelo Kit com um simples Nokia N93, que tem uma fantástica câmara”. A produtora deixou-nos ainda com um breve conselho para todos os estudantes de cinema e futuros cineastas que ainda vão começar a sua atividade, ou que então já estão a dar os primeiros passos nesta indústria. Esse conselho diz respeito ao tema e à história de um filme. Para Hargrave, “é muito importante para um realizador, produtor ou escritor encontrar ou escolher a sua história, porque esta é, muitas vezes, muito difícil de encontrar à primeira tentativa. É também muito difícil de dar vida a essa história se não se tem meios infinitos ao nosso serviço, por isso aconselho todos a encontrarem primeiro a história que querem contar e, depois, tentem fazer o melhor uso dos meios que têm, como telemóveis ou microfones, para dar vida a essa história. Podem até não ter muitos meios, mas, às vezes, as melhores histórias são contadas através de uma câmara de um telemóvel. O melhor exemplo recente disso é, talvez, o documentário “Searching for Sugar Man” que foi quase todo inteiramente filmado com um bom telemóvel”.
Estive portanto à conversa com uma forte apoiante das novas invenções e meios técnicos, já que ficou bem patente que ela considera essas tecnologias um bom meio para se fazer um bom filme. Ela encorajou até todos os jovens “a darem uma oportunidade aos telemóveis e aos meios mais invencionais, porque se não há fundos, então estes merecem uma oportunidade, porque cumprem muito bem a sua função, mas é claro que há certas histórias que simplesmente não podem ser filmadas e contadas por um telemóvel ou por uma câmara de filmar amadora. É neste ponto que cabe ao realizador fazer a triagem e decidir qual é o melhor destino para a sua visão, mas o que quero realçar é que o importante é encontrar a história e, após esta ser descoberta, é que se pode começar a pensar em formas de a retratar”. Hargrave também aproveitou para nos falar um pouco do trabalho que L.M. Kit Carson tem vindo a desenvolver um pouco por todo o mundo. “Ele é uma pessoa muito ocupada. O Kit esteve a filmar durante uns tempos em Moçambique, em África, e tem planos para voltar lá em breve. Ele também tem dado uma série de masterclasses e workshops um pouco por todo mundo, que têm o objetivo de apoiar novas formas de filmar e novos criadores. Ele vai voltar a Moçambique para lecionar mais alguns desses workshops, quer a jovens, quer a pessoas mais experientes, na tentativa de incutir alguma paixão pelo cinema às novas gerações moçambicanas, que podem ter interesse em seguir uma carreira neste ramo”.
Por fim, Hargrave acabou por voltar a falar das novas tecnologias e do que estas podem trazer à sétima arte que “Necessita desta vertente mais barata. Os jovens precisam destas alternativas, até porque, por vezes, os telemóveis até conseguem puxar mais pelo engenho e imaginação de cada um. Eu não posso deixar de repetir isto, porque o que realmente importa é a descoberta da história que cada um quer e pode contar”.

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>