Crítica - Rush (2013)

Realizado por Ron Howard
Com Chris Hemsworth, Daniel Bruhl, Olivia Wilde

É verdade que os filmes de Ron Howard seguem geralmente os passinhos todos das fórmulas pré-concebidas que facilmente associamos ao cinema made in Hollywood, mas é também verdade que Howard segue essas fórmulas com grande eficácia e com grande sentido de elegância. Há diferenças notórias entre cinema convencional fastidiosamente moralista e cinema convencional ambicioso. O cinema de Howard é um pouco convencional (pouco surpreendente, portanto, já que segue as regras hollywoodescas tão à risca que se torna algo previsível), mas felizmente tomba para o lado do ambicioso, apresentando bom senso e encontrando sempre formas de enaltecer o melhor que as histórias têm para oferecer. Curiosamente, os melhores filmes de Howard são baseados em histórias verídicas, histórias de pessoas que passaram por experiências de vida inacreditáveis e que deixaram uma marca indelével no coração dos seus congéneres. “Apollo 13”, “A Beautiful Mind” (com o qual venceu o Óscar de Melhor Realizador) e “Cinderella Man” conquistaram o público e a crítica com o seu humanismo e o seu poder sentimental. E agora é a vez de “Rush” (uma vez mais baseado numa incrível história verídica) nos conquistar com o seu entusiasmo e com o fabuloso vigor das suas corridas de Fórmula 1.


James Hunt (Chris Hemsworth) e Niki Lauda (Daniel Bruhl) protagonizaram uma das rivalidades mais escaldantes (e trágicas) da História da Fórmula 1. Iniciando as suas carreiras nos escalões mais baixos dos desportos motorizados, ambos alcançaram o estrelato com punho de ferro, lutando contra tudo e contra todos até reclamarem para si mesmos a glória e o reconhecimento por que tanto ansiavam. De personalidades inteiramente distintas, os seus egos colidiram e fizeram faísca tanto dentro como fora das pistas de corrida, e a sua rivalidade chegou a um nível tal de agressividade que quase terminou com a morte de Lauda numa fatídica corrida do campeonato do mundo de 1976… Tal como seria de esperar, Ron Howard identificou com grande precisão os pontos fortes das suas personagens verídicas e elevou esses pontos ao máximo para criar uma película elegante, emotiva, quente e cheia de adrenalina. Como Hunt, “Rush” é sexy e divertido. E como Lauda, “Rush” é igualmente visceral e determinado. As duas horas de filme passam num piscar de olhos porque o espectador é eficazmente inserido no espírito quente e emotivo da película, identificando-se facilmente com os sonhos e convicções dos icónicos protagonistas. Chris Hemsworth tem aqui a prestação mais sólida da sua carreira até ao momento, provando que é muito mais do que uma montanha de músculos e que tem muito para oferecer quando pousa o martelo de Thor e o deixa a repousar em casa. Daniel Bruhl assenta aqui também o tijolo que faltava no muro de ascensão até à glória de Hollywood, conferindo a Lauda a força de vontade necessária para contrariar a arrogância de Hunt. O filme baseia-se na rivalidade dos dois pilotos e vive à custa dela, pelo que só poderia funcionar se os dois protagonistas estivessem à altura da ocasião. Isto significa, obviamente, que Hemsworth e Bruhl estão de parabéns. Como se isto não bastasse, Howard filma as corridas com a ferocidade de todos os “Fast and Furious” juntos, bafejando esta película de forte carga dramática com alguns momentos de adrenalina contagiante. Por tudo isto e muito mais, torna-se fácil de ver que “Rush” não desilude. Pena é que de facto se deixe levar por caminhos de previsibilidade ao estilo de Hollywood que lhe retiram alguns pontos. Nada de grave, mas fica o reparo. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

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