Crítica - Inferno (2016)

Realizado por Ron Howard
Com Ben Foster, Tom Hanks, Irrfan Khan, Felicity Jones

Passaram sete anos entre os lançamentos dos filmes  “Anjos e Demónios” e “Inferno”, ambos baseados nas homónimas obras de Dan Brown e ambas continuações indiretas do maior sucesso do autor, “O Código Da Vinci”, também ele adaptado aos cinemas em 2006. O longo interregno temporal entre as estreias dos dois últimos filmes evidencia os vários problemas de produção que “Inferno” teve que enfrentar. Entre estas dificuldades destaca-se a ambivalência da Sony em apostar no projeto, isto após “Anjos e Demónios” não ter sido o sucesso esperado. Em todo o caso o estúdio reuniu um bom orçamento e manteve a dupla de sucesso dos dois filmes anteriores nos principais cargos, Ron Howard como realizador e Tom Hanks como a principal estrela do elenco. A acompanhar este último está também um elenco secundário muito competente e bem mais impactante que o de “Anjos e Demónios”, sendo de destacar a presença da jovem mas já muito popular Felicity Jones, que forma uma dupla de investigação muito convincente com Hanks.
O veterano Hanks volta portanto a vestir a pele do consagrado simbologista Robert Langdon que, neste sua nova aventura, regressa a Itália, mais precisamente a Florença, para tentar decifrar um complexo enigma que esconde a localização de um vírus mortal com capacidade para exterminar a maior parte da população mundial. A ajudá-lo nesta sua nova investigação está a jovem personagem interpretada por Felicity Jones que, tal como a personagem de Audrey Tautou em “O Código Da Vinci”, faz parte de um curioso twist que surpreenderá  o espectador e que até surpreende o próprio protagonista. À semelhança da trama de “Anjos e Demónios” e ao contrário de “O Código Da Vinci”, a história de “Inferno” desconstroi um plano maquiavélico de uma só entidade que não envolve, por isso, uma conspiração ancestral com milhares de polémicas ramificações. O mistério que Langdon resolve é, apesar de tudo, bem mais complexo, interessante e intrigante do que aquele que desvendou no filme anterior, mas ainda assim falta-lhe aquela dose de persistência, dinâmica e impacto com que se apresentou ao mundo com o mistério do primeiro filme/livro.


Na base histórica deste novo mistério está, como é tradição, uma série de lendas, histórias,  obras de arte e autores clássicos. Neste caso a peça central é o famoso escritor italiano Dante que, como o filme nos ensina e bem, apresentou ao mundo a definição/descrição moderna do inferno. Em relação a estas pequenas trivias culturais e à dissecação  de histórias e informações clássicas, “Inferno” revela-se tão informativo, curioso e interessante como as obras anterior. É no desenrolar da trama que “Inferno” peca um pouco. É certo que, como já referi, a sua trama é bem mais motivante, emotiva e intelectual que a do seu antecessor, mas ainda assim a forma como a história é abordada e desenvolvida falha um pouco na hora da coesão e do contexto dramático, político e sobretudo criminal. Esta falha acaba por não promover, junto do público, aquela ideia de sequência e competência narrativa onde todos os pontos se interligam quase sem esforço uns com os outros. É também precisamente por esta razão que na sua pouco climática conclusão surgem várias perguntas que ficam sem resposta e ações que ficam sem consequência. 
Há neste contexto partes do filme que são pobremente explicadas e personagens  que não são devidamente apresentadas, como é o caso por exemplo dos dois principais funcionários da Organização Mundial de Saúde, um deles até com bastante importância para Langdon. Tal como se disse também o final de “Inferno” não é tão explosivo e impactante como se esperava, aliás até se pode considerar que é um pouco confuso e pouco satisfatório tendo em conta a base do filme, mas este já tinha sido aliás um dos principais problemas de “Anjos e Demónios”. É claro que importa sempre reforçar que no cômputo geral, “Inferno” consegue brilhar nas alturas certas, ou seja, nos momentos em que Langdon mergulha de cabeça no complexo mistério histórico/criminal em causa e começa a debitar informação valiosa, mas ainda assim perde ímpeto e capacidade intelectual nos momentos intermédios que, como se sabe, promovem a interligação com os pontos nevrálgicos do filme.

Classificação - 3 Estrelas em 5

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