Crítica - August: Osage County (2013)

 
 Realizado por John Wells
Com Meryl Streep, Julia Roberts, Ewan McGregor, Chris Cooper 
Emocionalmente poderoso será porventura a melhor forma de descrever “August: Osage County”. Adaptado de uma peça de teatro vencedora do prémio Pulitzer (da autoria de Tracy Letts), este é claramente um filme de atores, pois são eles que comandam tudo, são eles que mantêm o espectador colado ao ecrã através de performances genuínas em que dão tudo o que têm, tal como acontece numa peça de teatro desprovida de grandes artifícios técnicos. Aqui não há efeitos especiais de cair para o lado nem cenários glamorosos. Aqui há apenas um cenário modesto e um conjunto de atores que se despe por completo em frente às câmaras (não literalmente, como é óbvio; isso seria território mais Lars Von Trieriano…) e que nos oferece algumas das cenas dramáticas mais entusiasmantes e enérgicas dos últimos anos. Tudo o que o realizador tem de fazer é saber como captar os melhores momentos da melhor maneira possível. E isso John Wells consegue fazer, provando que sabe dirigir os atores de forma quase perfeita, dando-lhes a oportunidade de brilhar bem alto. A narrativa acompanha os altos e baixos de uma família disfuncional de uma pequena cidade norte-americana. Quando o patriarca da família se suicida após anos de sofrimento ao lado de uma esposa conflituosa e psicologicamente perturbada, a família inteira regressa a casa para marcar presença nas cerimónias fúnebres e é aí que todos os segredos começam a saltar das sombras, rapidamente criando o caos no seio de um grupo de pessoas desequilibradas que muita sujidade foi acumulando ao longo dos tempos.
Aqui não há grandes floreados. “August: Osage County” retrata a realidade tal qual ela é, mostrando-nos uma família que se envenena constantemente em vez de se amar, descarregando as suas inseguranças e frustrações naqueles que lhe são mais próximos. Há algo de mágico no simples ato de ver um grupo de pessoas a jantar e de repente começar a espingardar insultos e acusações a torto e a direito. Não é bonito de se ver e chega mesmo a ser triste, mas é a dura realidade e é bom encontrar filmes que ainda tenham a coragem de encenar a realidade tal qual ela é. É nos momentos mais íntimos que o ser humano despe a sua máscara e mostra as suas garras. E quando os atores de serviço nos fazem acreditar que estamos a assistir às desavenças de uma família real como se estivéssemos presentes na sala de jantar, tudo se torna ainda mais mágico. Todo o elenco se mostra à altura do desafio, desde o veterano Chris Cooper à jovem Abigail Breslin. No entanto, Meryl Streep e Julia Roberts são de facto quem mais se destaca no meio de tanta loucura e reviravolta emocional. Sempre que as duas desatam a atirar pratos, o filme brilha ainda mais alto e tudo é filmado com elegância por John Wells, o que torna a experiência ainda mais enriquecedora. Claro que numa obra destas características o argumento assume também grande importância e o argumento de Tracy Letts mostra-se à altura dos acontecimentos, incutindo profundidade e elegância a uma história repleta de tragédia familiar. Em suma, “August: Osage County” é uma pérola do cinema indie norte-americano, afirmando-se como um doce bem saboroso para os fãs de um intenso, incisivo e arrojado filme de atores.
Classificação – 4 Estrelas em 5

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>